A partir dessa edição daremos início ao nosso especial para o Rock in Rio com algumas lembranças envolvendo atrações do Festival. Começarei com uma longa história dividida em duas partes sobre o Rock in Rio 4 em 2011. Para ilustrar o texto, escolhi uma música que é de um artista que sequer se apresentou no evento: Franz Ferdinand. Semana que vem volto com a segunda parte!
Eleger “Take me Out”, do Franz Ferdinand, como a trilha sonora principal da minha aventura épica no Rock in Rio 2011 chega a ser bastante curioso. Afinal, a banda não estava no lineup do evento e fazia um tempinho desde a sua última visita ao país. De qualquer maneira, essa é uma história que sempre costumo contar quando falo sobre curtir eventos sóbrio ou não. É a primeira vez que escrevo sobre isso, mas a maioria dos meus amigos sabem dessa história de cor e salteado.
Para quem não se lembra, vale contextualizar rapidinho, “Take Me Out” foi o segundo single do debut homônimo do Franz, em 2004. Uma bela estreia, diga-se de passagem. Na verdade, o Franz Ferdinand sempre foi uma das minhas bandas favoritas de indie rock nessa leva de Kasabian, Bloc Party, Kaiser Chiefs, The Killers, Arctic Monkeys, Interpol, Strokes e um monte que ficaram pelo caminho.
Agora sim.
Eu sempre fui um tremendo CDF se tratando de shows. Era o único ambiente em que eu tinha regras e as cumpria religiosamente. Isso envolvia chegar cedo, me apertar na grade e ficar horas sem comer ou mijar. Sem falar nas porradas ou naquele odor desgraçado que misturava peidos, suor, shampoo, desodorante etc. Também desprezava a ideia de ficar bêbado ou chapado. Para mim, a possibilidade de correr o risco de passar mal e perder um show era algo imperdoável. Praticamente um crime hediondo. Até aquele momento, eu só havia feito uma exceção num show do Móveis Coloniais de Acaju, em 2008. Valeu muito a pena. Tanto que havia prometido repetir a dose num eventual show do Gogol Bordello. Afinal de contas, o ingresso do show deles deveria vir com uma dose de Vodka de brinde.
Mas tudo mudou no Rock in Rio 2011.
Lembro dos fanáticos religiosos que faziam uma manifestação nas proximidades da Cidade do Rock com cartazes dizendo que Jesus desaprovava aquela zuera. Comecei a rir ao imaginar o que Jesus diria se soubesse tudo que eu planejava fazer naquele dia inesquecível.
Era o meu primeiro Rock in Rio. Em 2001 vi tudo pela televisão e agora estava prestes a realizar um sonho. Independente de concordar ou não com o lineup, o evento é uma experiência única e muito diferente do Lollapalooza, SWU, Monsters ou qualquer outro desses festivais que acontecem no país. O RiR é uma marca que sabe como poucos trabalhar o valor da experiência. Fazer parte da festa não tem preço: você se sente participando de algo especial, fazendo história. Por isso que recomendo para todo mundo: fodam-se as bandas, cara! Vá e me agradeça depois. E trabalhe pra caralho para pagar o ingresso.
Acompanhado da minha irmã carioca Bruna, meu amigo carioca com voz de desenho animado Kibe, e a minha ex-namorada Débora, cruzei a entrada do evento e de cara já senti aquele baque. É coisa de outro mundo. É “gringo“, sabe? Fora a Bruna, nenhum de nós estava planejando fazer coisas que deixariam nossos pais orgulhosos depois que soubessem como foi a experiência no Rock in Rio, então era preciso aproveitar aqueles momentos em que a gente ainda não havia começado a beber. Tiramos fotos, passeamos brevemente para conhecer a estrutura e decidimos brincar na Montanha-Russa. O que quer que acontecesse depois, eu pelo menos me lembraria de como foi que cheguei lá, pelo menos.
A Débora foi fundamental para que eu mudasse o comportamento e me permitisse viver um dos melhores dias da minha vida. Então, já que ainda não falei sobre ela em colunas anteriores, aqui vai uma pequena apresentação. Eu havia terminado o relacionamento com a Renata (aquela mesma que me lembra “Samson”) e fiquei na pior. Me deixei levar pelos excessos. Pegava qualquer pessoa que sorrisse para mim, bebia qualquer coisa que pudesse me deixar anestesiado, fumava tudo que pudesse para ter meus momentos de falso relaxamento e reclamava o máximo que pudesse para ser o canceriano mais rabugento de Belo Horizonte. Nessa vida loka, a Débora reapareceu para escrever mais um capítulo na minha história. Nós havíamos namorado entre 2005-2006 e criamos uma amizade com o passar dos anos. Até 2011, para ser sincero, a gente tinha se encontrado poucas vezes. Graças a uma combinação de fatores, como um encontro dos amigos do ensino médio, um pouco de álcool, alucinógenos, tesão e uma boate barulhenta tocando “Rock n’Roll”, iniciamos um (interessante) revival. Contrariando as previsões gerais daqueles que repetiam o clichê “figurinha repetida não completa álbum”, vivemos algo incrível. Sem dúvida, foram alguns dos melhores meses da minha vida, ou o começo daquele que seria o melhor período até então. Era uma relação leve, sem pressão ou cobranças. Aprendi a relaxar e a me conhecer melhor. Experimentei dias que giravam em torno da combinação perfeita de trabalho, cinema, música, sexo, drogas, mais sexo, bebidas, shows, risadas e amor. Perfeito, sabe? Se por um lado cortei os excessos “carnais” com outras pessoas, por outro continuei bebendo. E muito. Pelo menos, eu estava feliz e já não enchia a cara como uma necessidade de apelar para falsas ilusões de fuga. Minha realidade era aquela e minha frustração com a Renata fazia parte de um passado superado. Com tantas coisas boas acontecendo, a gente logo conversou e combinou de fazer nossa primeira viagem juntos indo até o Rio de Janeiro para assistir ao show do Red Hot Chili Peppers.
Antes que eu iniciasse meus discursos chatos para dizer que queria muito ficar na grade, Débora me deu um beijo e falou que queria que o Rock in Rio fosse o melhor evento que eu já tinha ido na vida, mas que eu precisava confiar nela. A vida inteira quis compensar a falta de controle em todas as áreas da vida com um monte de regras chatas para minhas experiências em shows. Débora foi a primeira pessoa que conseguiu “quebrar” isso e fez este canceriano rabugento e teimoso aceitar um conselho que ia contra todas as minhas convicções. “Você vai curtir a vibe ao invés de ficar plantado que nem uma árvore na frente do palco”, ela disse. Considerando que o Chili Peppers não tinha mais o John Frusciante e eu não estava esperando grande coisas do Snow Patrol, aceitei o combinado.
E me arrependi de absolutamente nada. Faria tudo exatamente igual.
Embarcamos num ônibus da viação Cometa e depois de uma viagem com direito a cenas impróprias para menores de idade, um celular perdido depois de ter se sentido envergonhado com a nossa falta de vergonha, e uma relaxada providencial na parada em Juiz de Fora, chegamos à cidade maravilhosa felizes da vida. A Bruna nos recebeu de braços abertos, como sempre. Era quase como ter o Cristo Redentor na sua irmã carioca, sabe? Bruna, uma virginiana com um olhar que decifra todos nossos segredos, logo percebeu que a “viagem” havia sido boa. Aproveitou para deixar melhor ainda nos deixando bêbados com muitas Heinekens. Parafraseando o escritor Chuck Palahniuk: nem bebês dormiam tão bem quanto eu naquela noite. Minha “irmã” carioca é uma daquelas pessoas carinhosas que fazem de tudo para agradar e se divertirem. Foi no ombro dela que chorei a maioria das minhas desilusões amorosas. Foi com ela também que dividi meu primeiro show do Offspring e do U2, um pacote de biscoitos inadequado, muitas bebidas e histórias.
Na manhã seguinte, nós visitamos a praia de Copacabana e Ipanema. Débora ainda não conhecia o Rio e se divertia fazendo piadas e rindo das minhas histórias. Ou de mim. Nunca sei diferenciar quando sou o motivo de riso ou o de fazer rir. Não chegamos a entrar no mar para pegar um sol camarada, mas caminhamos na areia esperando a onda quebrar para molhar nossos pés. Coisa de mineiro, né? Pão de queijo e praia são coisas que nós somos viciados. Foi um passeio rápido apenas para a Débora poder ficar mais feliz quando ouvisse “Garota de Ipanema”. Depois entramos num táxi direto para a casa da Bruna e nos preparar para o Festival. Antes, porém, a gente encontrou tempo de relaxar e ficar numa boa. Suave na nave.
Agora que vocês conhecem os personagens da história (e eu juro que precisava fazer essa apresentação), podemos voltar para a parte em que ainda estávamos sóbrios e prestes a brincar na Montanha-Russa. Apesar da Cidade do Rock estar relativamente vazia naquele horário, a maioria das pessoas também teve a nossa ideia e o resultado foi uma fila enorme. Pelo menos um DJ estava lá fazendo a alegria geral da nação tocando hits de atrações do Rock in Rio e outras bandas indies. Como vocês puderam perceber, eu estava usando uma camiseta do Franz Ferdinand e fazia aquela coisa que alguns DJS adoram: ficar gritando pedindo alguma música. Só que meu nível de chatice e falta de noção supera o da maioria das pessoas. Não me contentava em gritar, mas dava um jeito de exibir a minha camiseta para derreter o coração gelado do cara que habitava aquela cabine. Demorou um pouquinho até eu conseguir: “Take me Out” começou a tocar e uma comoção geral tomou conta da fila. (Entenda o nível do quanto eu estava insistindo). Todos gritaram e riram apontando para mim. Estava tudo indo tão bem que nem mesmo ter passado mais de uma hora e meia na fila estragou a diversão.
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