O primeiro semestre de 2015 já se foi, o mês de julho vai caminhando para o seu final e, após ser desafiado pelo Tullio Dias, acabei parando para pensar nas coisas lançadas este ano em que eu dei play e, por algum motivo, gostei.
Após uma profunda reflexão – na qual cheguei a conclusão de que eu tenho ouvido muito mais playlists ligadas aos anos 80 e 90 do que, propriamente, discos novos – percebi que fazer esse apanhado de discos prometia ser mais difícil do que pensava. Após muita luta (e a descoberta de coisas que saíram e eu nem fazia ideia), consegui reunir aqueles que considero como os 17 melhores discos lançados no primeiro semestre deste ano. Sim, 17.
Com uma lista eclética, tem rock, tem pop, tem rap, tem material nacional… só não tem o novo trabalho do Wilco, porque tentei me prender aos álbuns lançados até o dia 30 de junho. E só por isso mesmo ele não faz parte da lista. Sem uma ordem de preferência, abaixo você pode dar play nos discos que, certamente, farão parte do nosso #Listão2015 no fim do ano
Preparado?
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# Kendrick Lamar – To Pimp A Butterfly A grande dúvida de todos era: Como Kendrick Lamar lidaria com o primeiro álbum depois do sucesso de Good Kid, M.A.A.D City, lançado em 2012? Pois bem, em março Kendrick entregou To Pimp a Butterfly e, nele, simplesmente dá um tapa na cara de uma sociedade que trabalha em função do dinheiro em torno do entretenimento, levando isso a fundo com a tentativa de exploração da cultura negra como entretenimento. Tá lá a apropriação cultural, a luta de classes e todas as lutas com as quais Kendrick e todos os negros presentes no cenário musical (e no entretenimento como um todo) lutam todos os dias. Destaque para as faixas “u”, “i”, “Institutionalized” e “King Kunta”.
# Maglore – III Apesar de gostar do Vamos Pra Rua, não era tão ligado assim no som dos baianos do Maglore. No entanto, III foi de cara um dos discos mais divertidos que ouvi este ano. O álbum já abre alegre com “O Sol Chegou”, mantém o suingue com “Se Você Fosse Minha” e entrega a que, pra mim, é a melhor faixa do disco: “Invejosa”. Tudo isso nas três primeiras faixas do disco, que tem onze no total. Um disco simples, muito bem feito e que mostra o quanto a Maglore vem crescendo.
# Dover – Complications O Dover caminhou por caminhos bem aleatórios nos últimos anos. No entanto, resolveu retomar as origens e voltar ao caminho que tornou a banda conhecida, o rock n’ roll. Lançado em fevereiro, Complications é um disco muito curto. São pouco mais de 30 minutos e 10 faixas que remetem aos velhos (e bons) tempos do quarteto espanhol, comando pelas irmãs Amparo Llanos e Cristina Llanos. Os destaques, pra mim, ficam por conta das faixas “Too Late”, “Crash” e “Sisters Of Mercy”.
# Tulipa Ruiz – Dancê Tulipa Ruiz resolveu colocar todo mundo para dançar com o seu novo álbum, Dancê. E conseguiu. Impossível não querer se levantar e arriscar alguns passos ao ouvir músicas como “Prumo”, “Proporcional” ou “Físico”. Da mesma forma que é impossível não querer cantar junto ao ouvir “Elixir” ou “Expirou”. É feito pra cantar. É feito pra dançar. Dancê é pra te tirar da zona de conforto e mexer o corpo. Coisa que, inclusive, vou fazer agora. Obrigado, Tulipa.
# Faith No More – Sol Invictus Sol Invictus é o primeiro álbum de inéditas do Faith No More desde a retomada de suas atividades, lá em 2009. Apesar da qualidade já conhecida, acredito que o tempo de espera entre o retorno e o novo álbum tenha sido uma das decisões mais acertadas que o grupo capitaneado por Mike Patton poderia ter tomado. Com dez faixas, temos um Faith No More que ainda é capaz de se impor no cenário musical, mostrando a qualidade de sempre aliada a experiência adquirida após dezoito anos de espera pelo sucessor de Album Of The Year. Ah, é válido lembrar que, a cada audição, “Superhero” e “Motherfucker” ficam ainda mais sensacionais.
# Mumford & Sons – Wilder Mind O Mumford & Sons se tornou uma banda como várias outras. O banjo e todo o estilo presente em Babel (2012) foi deixado de lado em prol de um rumo mais indie e menos western. A banda flerta com novos estilos e experimentações, saindo de uma zona de conforto que poderia ser um posicionamento natural. Agora, lembram Coldplay e Death Cab For Cutie, fazendo com que aquela sua marca registrada tenha se perdido. Ainda assim, entregaram um trabalho que merece vários elogios e que seria adorado por muitos (eu ousaria dizer todos), caso o passado da banda não fosse tão marcante (e diferente). Vamos ser sinceros? Não dá pra achar um disco que tem “Believe”, “Snake Eyes” ou “Only Love” ruim.
# of Montreal – Aureate Gloom Kevin Barnes transformou o 13º álbum do of Montreal em uma longo conto sobre sua tragédia pessoal. Após 11 anos de convívio, o músico se separou de sua mulher e isso acabou carregando todo o trabalho da banda. Isso seria motivo suficiente para alimentar ainda mais as viagens psicodélicas de Barnes mas, ao que parece, elas ficaram restritas ao clipes ligados ao álbum. Aureate Gloom é, provavelmente, o trabalho mais sincero do grupo até hoje, ainda que continue explorando um processo criativo que começou lá no Skeletal Lamping (2008). Eu diria que, pela primeira vez, é possível ver quem é o Kevin Barnes além de todo o lado alucinógeno presente em sua mente.
# Marilyn Manson – The Pale Emperor O disco não tem tantos elementos eletrônicos ou do ~metal industrial~ que consagrou a carreira de Brian Hugh Warner. Aliás, The Pale Emperor nos faz lembrar aquela boa e velha luta entre o criador e sua criatura. Após muito tempo, parece que o criador assumiu o controle de sua criatura, entregando um disco com uma atmosfera bem diferente dos anteriores. Transitando entre o hard rock e glam, o novo trabalho de Marilyn Manson parece mostrar aos fãs o que vem por aí. “The Mephistopheles of Los Angeles” e “Cupid Carries a Gun” são apenas duas das boas faixas do álbum.
# Scalene – Éter O segundo álbum da Scalene saiu no meio de um turbilhão de coisas. A banda estava exposta na TV, se apresentou em dois festivais de grande porte no Brasil e nos EUA e ainda carregava a “missão” de fazer algo tão bom como o seu antecessor, Real/Surreal (2013). O disco filtra mais as influências e se mostra mais centrado e focado, ainda que mantenha a mesma linha do disco anterior. Se destacando pelas letras e por sua melodia, a Scalene tem material que a faz capaz de se consolidar no cenário musical nacional e faixas como “Sublimação”, “O Peso da Pena”, “Legado” e “Histeria” conseguem comprovar isso.
# Snoop Dogg – BUSH Talvez seja cedo para dizer, mas lá vai: SNOOP DOGG ESTÁ DE VOLTA! Sim, é isso mesmo. Depois de um período meio aleatório da vida (para não dizer outra coisa), parece que Snoop reencontrou o caminho com BUSH. Lançado em maio, o disco não tem uma música que seja marcante como “Beautiful”, mas funciona com maestria no chamado conjunto da obra. Músicas como “Peaches N’ Cream”, “This City”, “R U A Freak” e “So Many Pros” são carimbos que comprovam que a parceria entre Snoop e Pharrell Williams ainda pode render frutos muito bons.
# Brandon Flowers – The Desired Effect Brandon Flowers conseguiu fazer sozinho o que todo o fã do The Killers gostaria de ouvir novamente: Um bom álbum. The Desired Effect é o segundo trabalho solo do vocalista da banda e deixa claro que a fórmula na qual Brandon acredita ainda pode dar resultado. Enquanto a sua banda não conseguiu causar o efeito desejado com Battle Born (2012), Flowers conseguiu absorver bem o que fez de bom em Flamingo e acrescentou todo o synthpop que ele tanto ama. “Can’t Deny My Love”, “Still Want You”, “Lonely Town”, “I Can Change” e “Diggin’ Up The Heart” comprovam que ele ainda sabe o que faz.
# Modest Mouse – Strangers to Ourselves Isaac Brock e Jeremiah Green (os sobreviventes da formação original), ao lado de Tom Peloso, Russell Higbee e Jim Fairchild, resolveram colocar na rua o resultado de um período de transição. Strangers to Ourselves tem um pouco de tudo e pode ser encarado como uma coletânea de todas as fases do Modest Mouse. Apesar de alguns terem torcido o nariz para o resultado final, consegui ver no álbum um ótimo resultado, com várias apostas boas, ainda que não tão coesas. Só por “Lampshades on Fire”, o disco já merecia estar aqui. E ainda tem “Coyotes”, “Be Brave”, “The Best Room”…
# Belle and Sebastian – Girls In Peacetime Want to Dance Se tem uma coisa que Stuart Murdoch sabe fazer nessa vida é contar histórias e o novo álbum de estúdio do Belle and Sebastian, Girls In Peacetime Want to Dance, é mais um exemplo disso. A essência da banda continua alí no DNA de cada uma das 12 faixas do disco, resultando em um disco que todos os fãs esperavam (e amaram). Todo o trabalho em torno de faixas como “Nobody’s Empire”, “Ever Had a Little Faith” e “Allie” fazem do disco, lançado em janeiro, mais um na lista de bons trabalhos da banda de Glasgow.
# Noel Gallagher’s High Flying Birds – Chasing Yesterday É tão bom ver (e ouvir) o Noel cada vez mais a vontade em sua carreira solo. É melhor ainda perceber que o músico não deixa de crescer e enriquecer o seu trabalho com o passar dos anos. Chasing Yesterday é aquele álbum que você consegue imaginar um estádio lotado cantando cada uma das músicas. No entanto, ele também funciona trancado no quarto, como trilha sonora de uma viagem… ele é o retrato de seu criador, que resolveu entregar um disco mais cru, tomar decisões acertadas e se consolidar ao lado do High Flying Birds. Sorte a nossa que ganha de presente coisas como “Riverman”, “Ballad of the Mighty I” e “In the Heat of the Moment”.
# Florence + The Machine – How Big, How Blue, How Beautiful O tempo e a certa megalomania que tomou conta do Florence + The Machine fez com que eu não criasse expectativa em torno do How Big, How Blue, How Beautiful, terceiro álbum de estúdio do projeto capitaneado por Florence Welch. Por não esperar nada, foi fácil me surpreender com essa vibe mais centrada e sem a excentricidade presente em Cerimonials (2011). O trabalho ainda gira em torno de Florence, mas a construção do disco ganhou um foco mais realista ou “mais banda”, se assim podemos dizer. O disco soa mais divertido de se ouvir, ainda que as letras retratem várias das perturbações de Welch. Ao que tudo indica, a fase “conto de fadas megalomaníaco” ficou para trás. O que é muito bom!
# Alabama Shakes – Sound & Color Enquanto Boys & Girls (2012) era pautado pelo imediatismo, por algo quase impositivo e enérgico, Sound & Color foge totalmente disso. Brittany Howard, Zac Cockrell, Heath Fogg e Steve Johnson navegam entre diferentes estilos. Tem Blues, Soul, Indie, Country, Gospel, Garage Rock… tem referências claras as décadas de 1950, 1960 e 1970… e tem a voz perfeitamente incrível da Brittany, capaz de fazer chorar em faixas como “This Feeling”, empolgar em “Don’t Wanna Fight” e, se ainda tiver ficado dúvida, conquistar de vez em “Over My Head”. E ainda tem “Gemini”…
# Danko Jones – Fire Music Fire Music é um trabalho que vai direto ao ponto e sem firulas. Tem energia, contagia, tem elementos de punk, hard rock e metal, cumprindo aquilo que se espera de um disco do Danko Jones. No entanto, o ponto alto continua sendo as letras, divertidas e ácidas como nos trabalhos anteriores. Se o Danko não consegue variar muito de um disco pro outro, a banda mostra um crescimento que vale a audição. É rock bem feito. Rock que muitas bandas gostariam de fazer e não conseguem. “Gonna Be A fight Tonight”, “Body Bags” e “Piranha” comprovam isso.