O frio de sexta-feira, 19 de junho, deve ter deixado o público mineiro com vontade de ficar debaixo dos cobertores depois de ter convidado a/o paquera para “assistir” Netflix. Mas alguns corajosos amantes da música fizeram questão de ancorar na casa Autêntica, que tem menos de seis meses de atividade ali no miolinho da Savassi e surge como uma alternativa muito interessante para o trabalho musical de Belo Horizonte, para acompanhar os shows dos Renascentes (RS) e Planar (RJ).
Os gaúchos subiram ao palco primeiro. Comentei com nosso querido John Pereira que nunca havia ouvido nada deles e falei o velho discurso de sempre que repito agora: Não existe maneira melhor de conhecer uma banda do que ir num show. É no palco que você descobre se gosta ou não de alguém. E no caso dos Renascentes, a nossa certeza foi que se trata de uma banda muito interessante e que merece ser acompanhada com atenção.
Ainda no embalo do disco homônimo lançado em 2014 e mostrando novas canções, a banda mostrou sua curiosa mistura de Novos Baianos, Mutantes e Beatles com uma apresentação bem “pra cima”, com uma atenção toda especial para os arranjos vocais, além de momentos que deixariam David Gilmour orgulhoso, como no solo de “Poema Seco”. O vocalista e guitarrista João Ortácio, que se parece muito com o Kit Harrington (o Jon Snow, de Game of Thrones), chegou a comentar que deixou o frio de Porto Alegre para pegar o tempo “gostoso” de BH. Resisti à tentação de gritar “The winter is coming”. Talvez eu não tivesse bebido o suficiente para isso.
Com um groove afiado do baixista Átila Viana com o baterista Dionísio Monteiro, faixas como “Raiar” e “Todos os Nomes” mostram que o sul é muito mais que bandas de garage rock. O ponto alto no entanto ficou por conta do faz-tudo Eduardo Morlin, que apesar de toda a sua timidez explícita, destruiu num solo de flauta de deixar todo mundo de boca aberta. O saldo final foi positivo e fica a dica para quem quiser conhecer mais o som dos caras, é só correr no site oficial.
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Os cariocas do Planar (foto) vieram em BH recentemente para dividir palco com o Supercombo, Elizia e outras bandas da cena mineira. Se naquele show num espaço menor já conseguiram mostrar serviço e conquistar a atenção e carinho do público, a ideia era que pudessem fazer ainda melhor num palco maior. Mais legal ainda foi notar os mesmos rostos daquele show no Matriz acompanhando e cantando as músicas do disco Nossa Invasão, de 2014.
Os gaúchos observaram – meio chateados – o público naquele marasmo, tomando cerveja, sentadinhos de boa na lagoa. Carioca já é diferente, né? O vocalista Leonardo Braga fez questão de comandar a plateia e pediu para todos se levantassem. Já foi um grande começo para a apresentação, que contou basicamente com o belo material do disco: “Nossa Invasão”, “Trens” (que todo mundo já sabe cantar), “Aqui de Cima”, “Café”, dentre outras.
A pegada rock do Planar agrada logo de cara. Sabem trabalhar momentos porrada (“Conversa Debaixo D’água”) e de mais leveza (“Calma”). Não existem firulas. Cada instrumentista sabe o seu lugar e como contribuir para que as canções funcionem, além do trabalho com letras que causam identificação fácil com quem escuta. Exemplo maior disso são os arranjos de “Salão de Festas”. Se uma banda é capaz de te deixar tão confortável ao ponto de fechar os olhos e apenas curtir a vibe, eles realmente acertaram na sua fórmula de compor. E se apresentar ao vivo, claro.
Ainda sobrou espaço para uma versão de “Sonífera Ilha”, do Titãs. Por coincidência, os “cabeça-dinossauro” do rock nacional estavam fazendo show em uma casa de shows não muito distante da Autêntica. Para os entusiastas do rock nacional, o Planar é uma opção agradável e que está aí mostrando seu trabalho e profissionalismo, sem deixar de lado o empenho em fazer shows de qualidade e interagir com seu público.
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Foto: Tullio Dias