Desde Black Holes and Revelations, de 2006, os fãs do Muse aguardam por um disco sem firulas e experimentações do trio formado por Matthew Bellamy (voz/guitarra/piano), Chris Wolstenholme (baixo) e Dom Howard (bateria). Coincidência ou não, o período de 2009 a 2012, com os lançamentos dos irregulares The Resistance e The 2nd Law, respectivamente, foi a época em que o Muse virou um fenômeno tocando em lugares cada vez maiores. Ou seja, justamente no auge de sua carreira, a banda produziu seus dois piores discos e frustrou boa parte do seu público que ainda sonhava com um retorno às raízes e uma “continuação” de Origin of Symmetry, segundo disco de estúdio.
A primeira coisa a ser dita de Drones, sétimo álbum dos caras, é que ele consegue acertar em tudo que seus anteriores fracassaram. O conceito é mais coeso, as faixas funcionam individualmente e parece que a produção de Robert Lange (AC/DC, Def Lepard, Lady Gaga, Maroon 5) podou o lado megalomaníaco de Bellamy e o disco ganha com isso. Sem ter um produtor para controlar o rumo das gravações, o Muse parece se perder em composições ambiciosas demais ou simplesmente de extremo mal gosto (estou olhando para vocês, “Big Freeze”, “Guiding Light” e “Explorers”). Felizmente, a banda mostrou humildade e aceitou trabalhar com um produtor novamente. De cara, Drones já supera os dois discos anteriores.
O Muse mantém o flerte com o seu lado experimental e brega, como em “Dead Inside” e “Mercy”, mas acena para o rock pesado que servia como base para o começo de sua carreira, como em “Psycho” – que inclusive é baseada numa riff presente nos shows desde 2004. O equilibrio que faltou em The 2nd Law está em cada faixa e momento de Drones. Além disso, as músicas são melhores e apresentam uma banda finalmente no seu auge dentro dos estúdios. Prova disso é a qualidade surpreendente de “Reapers”, “The Handler” e a épica “The Globalist”. Óbvio que não é perfeito: existe “Revolt” na tracklist. Ainda que seja a pior música, dá uma surra nos piores momentos dos discos anteriores – e isso não deve ser visto como mérito de jeito nenhum.
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Ainda é cedo para dizer o lugar de Drones na discografia do Muse, mas não é precipitado afirmar que a banda parece ter reencontrado seus eixos depois de trabalhos irregulares que dividiram opiniões. O tempo é o maior amigo para nos ajudar a, como um fã, encarar a realidade. Os bons momentos individuais de The Resistance (“Exogenesis” e “Unnatural Selection”) e The 2nd Law (“Madness” e “Supremacy”) acabaram influenciando na visão geral, que diante tantas canções medíocres, foi contaminada com canções medíocres que foram superestimadas. Com isso, temos a questão do desequilíbrio e falta de conceito dos discos, que agora felizmente é recuperado em prol de um material de melhor qualidade e muito mais organizado.
Drones marca um reencontro do Muse com o rock, sem renegar o lado mais pop que eles tanto gostaram de experimentar. E com isso temos um bom disco que irá saciar o desejo dos fãs mais hardcores por canções pesadas e que se aproximassem mais dos tempos “áureos” da banda.
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Sobre algumas faixas:
“Dead Inside”: Neta de “Undisclosed Desires”. Filha de “Madness”. Chame como quiser. “Dead Inside” é mais uma faixa com influência de Depeche Mode e escancara a qualidade do Muse em produzir baladas que ficam na linha tênue entre o bom e o brega. Minha letra favorita, sem dúvidas.
“Psycho”: Reaproveitar uma música que já existia foi uma sacada boa. A riff é boa, gruda na cabeça, tem aqueles médios do baixo que estalam na nossa cabeça, e soa exatamente como o Muse que todo mundo deveria conhecer. A letra até pode ser considerada como uma brincadeira com a época dos cogumelos e performances insanas.
“Mercy”: tem que rolar a baladinha estilo “Follow Me”, né?
“Defector”: O Muse nunca escondeu buscar inspiração no Queen. Na falta de uma irmã para “United States of Eurasia” e “Survival” (ou de clonar Brian May no solo de “Madness”), a banda de Freddie Mercury é lembrada nos falsetes que marcam o final de alguns dos versos desta canção.
Muse – Drones
Lançamento: 08 de junho de 2015
Gravadora: Warner
Gênero: Rock
Produção: Robert Lange e Muse.
Faixas:
01. Dead Inside
02. [Drill Sergeant]
03. Psycho
04. Mercy
05. Reapers
06. The Handler
07. [JFK]
08. Defector
09. Revolt
10. Aftermath
11. The Globalist
12. Drones
[youtube]https://youtu.be/gcNEC9NaJuE[/youtube]