O sábado, dia 27 de junho, foi um dia de experiências opostas no Music Hall. Enquanto o Far from Alaska tornou fácil ser feliz, como o nosso editor John Pereira observou, o Detonautas, a atração principal da noite, oscilou entre momentos decepcionantes e outros razoáveis. Pelo menos na visão de quem não fazia parte da pequena legião de apaixonados por Tico Santa Cruz e seus companheiros de banda.
Em turnê de divulgação de A Saga Continua, de 2014, o Detonautas não apostou em sucessos antigos da carreira para animar o pessoal e tocou muita coisa do material recente. Ironicamente, foram quatro covers durante o show. Não por acaso, também foi enquanto tocaram “Tempo Perdido”, da Legião Urbana; “Killing in the Name of”, do Rage Against the Machine; “Tudo Que Ela Gosta de Escutar”, do Charlie Brown Jr.; “Highway to Hell”, do AC/DC; e “Tente Outra Vez”, de Raul Seixas; que o público mais se animou. Uma imensa roda foi formada, especialmente para o clássico do Rage Against the Machine.
Ao contrário do Far from Alaska que dosou bem o nível de porrada dos seus instrumentos e amplificadores, o Detonautas subiu ao palco com o desejo de ser ouvido na cidade inteira. Legal se você estava curtindo um jantar romântico numa pizzaria próxima, mas horrível para quem estava dentro do Music Hall tentando ouvir as canções novas ou identificar as mais antigas. O volume elevado prejudicou a qualidade do show mais do que a escolha do repertório priorizando o material novo – o que nem deve ser visto como um defeito, já que a banda parece ter tentado fazer um show para os fãs, e não para quem deixou de acompanhar a rotina e o trabalho do Detonautas.
Senti falta de canções do Psicodelia e Distorção, que é de longe o melhor registro da carreira do Detonautas. O rock produzido pela banda em 2006 (“No Escuro o Sangue Escorre” e “Não Reclame Mais”, por exemplo) fez muita falta. Muita falta mesmo. Não é possível que a banda prefira dedicar espaço para canções inferiores e deixar de lado seu material mais inspirado. Poderia ter sido pior, mas se lembraram de “Tudo Que Eu Falei Dormindo”.
O lado político do vocalista nas redes sociais não ditou a apresentação, ainda que Tico saiba usar seu poder de formador de opinião com responsabilidade, fez a opção correta de não misturar as coisas e ser um chato, como o Dinho Ouro-Preto costuma ser na maioria das apresentações do Capital Inicial, “cara”.
Detonautas fez a sua parte do combinado, e com excesso de barulho para ninguém acordar no dia seguinte sem lembrar de como foi a noite. Os fãs estavam empolgados e felizes, quem gostava da banda continuou gostando, quem não gostava continuou fazendo bullying com quem gosta (“O Amanhã” é do caralho, não adianta!), e assim continuamos nossas vidas aguardando pelo próximo show de rock para dividir opiniões. A única certeza universal é: com cerveja tudo fica melhor.
Fotos: Guilherme Leite