É oficial! Já pode agradecer pelo álbum Rebel Heart da Madonna ter vazado na internet antes da hora. E sabe por quê ? A versão demo é muito melhor. Pelo menos eu acho. E não tem problema se você não achar. Em dezembro do ano passado, Madonna foi vítima de um estrondoso vazamento, algo que hoje em dia todos os artistas temem cada vez mais na era da internet e do assustador avanço tecnológico onde arquivos chegam em todos os cantos do mundo em segundos.
A cantora passou grande parte de 2014 gravando seu novo álbum e dando pistas para os fãs de como seriam as canções através do Instagram, mas o pesadelo da artista começou quando todas as faixas do aguardado trabalho surgiram na internet de forma ilegal e em versões não finalizadas. Madonna xingou aos quatros cantos e não escondeu seu descontentamento sobre o ocorrido e ela estava mais do que certa. Quem gostaria de ver seu trabalho inacabado na internet sendo julgado ? Isso poderia ser ainda pior se o conteúdo fosse ruim, mas o fato é que não era.
As músicas caíram no gosto dos fãs e a situação que era trágica se transformou em ouro para a artista. Ao longo da internet, mais precisamente nas redes sociais, era possível ver as pessoas comentando e elegendo as melhores canções do CD. Logo após isso, Madonna se viu obrigada a datar o lançamento do álbum (para março) e divulgar o seu título que até então era nomeado pelos fãs de “Iconic“, nome de uma das músicas. Além disso, a cantora teve a ideia de divulgar a versão final de seis das vinte e cinco músicas que o álbum contém como forma de aperitivo para os fãs e também para os mesmos entenderem que ela queria apresentar algo melhor que as demos. A cantora só não percebeu que se lançasse as tais demos, o álbum ainda assim seria um sucesso tremendo na opinião do seu público.
O problema é que Madonna pecou em não fazer algo que era obrigatório naquele momento de “crise”: uma pesquisa sobre o real impacto do álbum vazado. Para quem conhece a cantora, sabe bem o quão ela é perfeccionista e exige que as coisas sejam apenas do seu jeito. E pelo visto, foi isso que ela fez. Deixou o CD do jeito que queria. Talvez se tivesse prestado mais atenção, veria que algumas das versões demo têm o poder sonoro infinitamente melhor do que as finalizadas.
Basta ouvir as versões de “Rebel Heart” e “Wash All Over Me“, as duas primeiras músicas que vazaram na rede e as mesmas que deixaram os fãs extremamente animados com o novo projeto da rainha do Pop. O motivo ? As duas canções reviveram a Madonna que todos queriam voltar a ouvir. Aquela com elementos que resgatavam o lado “old school” que levou a artista ao estrelato e que foi reinventado com maestria ao longo de muitos anos. Para os fãs mais exigentes, Madonna havia feito seu último grande trabalho em 2005 com o álbum Confessions On A Dance Floor e as novas músicas indicavam a volta a uma era de ouro parecida com o que ela viveu na década passada. E isso é bem notável na batida dançante da demo de Wash All Over Me, música que poderia perfeitamente fazer parte daquele CD. Já a demo de Rebel Heart relembra uma Madonna dos anos 80 e também um pouco do que ela fez no álbum Music de 2000.
Porém, o novo álbum vazou (de novo) no início de fevereiro e em versão oficial. Obviamente isso não era o que a cantora queria, mas quem ganhou com isso foram os fãs. Os seguidores da artista agora têm “dois álbuns” pra ouvir e julgar qual ser o mais interessante. Mas vale a pena repetir: o demo é melhor. Talvez se houvesse uma mistura dos dois, ficaria genial, mas isso não irá acontecer infelizmente.
Praticamente todas as músicas foram modificadas, algumas para o seu próprio bem e outras sabe lá Deus, ou só Madonna, o motivo. Canções como “Joan Of Arc”, “Holly Water”, “Beautiful Scars” e “Bitch I’m Madonna”, essa última com a participação de Nicki Minaj, ganharam nova roupagem e ficaram bem mais atraentes de se ouvir, mas isso é pouco perto das demais. Já “Heartbreak City”, “Messiah”, “Unapologetic Bitch” e “Living For Love” receberam um retoque aqui e outro ali, o que não afeta os seus resultados, mas as modificações em um conjunto final acabam sendo bastante dispensáveis. Assim como a aposta desnecessária da cantora em batidas eletrônicas pesadas, hip hop e efeitos sintetizadores – bastante explorados nos seus últimos trabalhos – e que tomaram conta das ótimas “Illuminati”, “S.E.X” e “Iconic”. E por fim, as já citadas “Rebel Heart” e “Wash All Over” que certamente eram as melhores músicas do álbum e inacreditavelmente se tornaram as mais chatas do mesmo, duas versões bastante dançantes e empolgantes que foram transformadas em som acústico e super sem graça.
No fim de tudo, fica parecendo que algumas músicas foram modificadas só por birra e indignação, para mostrar que o vazamento não iria dominar a situação, pois o acréscimo de efeitos, certas batidas e mudanças de ritmos poderiam ser dispensados em várias delas. Madonna poderia entregar ao público algo sem ter necessidade de acompanhar o que o mercado pede e assim fugir um pouco desse modelo comercial demais imposto por ele, ultimamente dominado com tecnologia exagerada nas composições das músicas que resultam sempre em um misto do mais do mesmo. Resumindo, poderia apresentar algo diferente, bem presente na versão demo. No entanto, é um tanto tarde para isso.
E isso significa que o álbum seja ruim ? Não, porque a essência dele continua lá, as letras continuam boas e iguais, porém aquela ideia de resgatar a Madonna antiga se perdeu em meio a tanta tecnologia. Talvez não era a intenção dela fazer tal resgate e por isso modificou as músicas e, no fim, essa impressão dos fãs fosse só algo paralelo ao conceito real do álbum. Mas certamente ouvir a “voz do povo” seria essencial para um sucesso ainda maior dele. Afinal, quem é que vai ouvir, gostar e comprar ?
Modificado ou não, o álbum continua para os fãs e crítica da mesma forma quando surgiu ilegalmente na internet: um sucesso. Prova disso é o simples fato dele ser infinitamente melhor que os dois últimos lançamentos da artista. Porém, Madonna estava com a faca e o queijo na mão para fazer um álbum ainda mais icônico no quesito sonoridade e deixou a oportunidade para trás. O bom é saber que ela compensa qualquer falha na turnê que certamente deve estar ainda mais grandiosa que a anterior. Quem sabe no show ela resgata a sonoridade de algumas das demos ? Quem sabe ela faz algo melhor que as duas versões ? Tudo é possível quando se trata da artista. Portanto, que venham os shows, que ela se reinvente novamente e não deixe de ser Madonna, a rainha do Pop.
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