Existe um mercado imenso para bandas covers. Prova disso é o sucesso das casas do eixo Circuito do Rock, na capital mineira. São três estabelecimentos comprometidos a oferecer de quarta a domingo uma programação que homenageia as grandes bandas da história. O Pink Floyd é uma das mais lembradas, com diversos covers competentes, como o Pink Floyd Reunion, por exemplo. No entanto, seria um erro pensar que o interesse por esses shows são restritos às pequenas casas de shows: no sábado, enquanto nosso editor estava curtindo a ressaca pós-Arctic Monkeys + The Hives em São Paulo, BH recebeu o Ummagumma para relembrar a história de uma das principais lendas da história do rock.
A celebração, como não poderia deixar de ser, incluiu diversos momentos da carreira do Pink Floyd e sobraram clássicos. O repertório foi muito bem selecionado, e com a execução quase perfeita dos instrumentistas, provavelmente foi uma experiência satisfatória para aqueles que terão que conviver eternamente com a frustração de nunca ter visto nenhum dos shows que Roger Waters fez no Brasil e a certeza de que ver uma apresentação do Pink Floyd só será possível em nossos sonhos. Consciente da sua responsabilidade e pressão, o Ummaguma não dá espaços para vacilar e dá ao público o que eles querem ouvir.
Nem tudo é perfeito, claro. Os mais detalhistas se sentirão incomodamos com apenas um vocalista na banda (a exceção é “Comfortably Numb”, óbvio, e não é por acaso que foi o melhor momento disparado do show). Por melhor que seja, Bruno Morais não possui duas vozes diferentes para aumentar a imersão do público na apresentação. Aliás, era comum olhar para os lados e perceber jovens e adultos com o queixo elevado, os olhos fechados e viajando com os sons do palco. As interações eram mais fortes em músicas mais batidas, como “Another Brick in the Wall” (que incluiu a participação de uma marionete gigantesca e ameaçadora no canto do palco), “Wish You Were Here” e “Money”. Os fãs mais calejados tiveram verdadeiros orgasmos com “Hey You” e especialmente “Shine On You Crazy Diamond”, com direito a um solo de saxofone arrepiante.
O ponto alto ficou com o solo de Isabela Morais em “The Great Gig in the Sky”. Ver a dedicação e entrega da cantora foi o bastante para reconhecer o valor do Ummaguma e o quanto valorizam a obra do Pink Floyd. Morais combinou toda a sensualidade e intensidade que a canção pede e deixou as três mil pessoas que estavam no Chevrolet Hall sem piscar (e até com dúvidas de como é mesmo que se respirava). Sensacional é pouco.
O Ummagumma existe desde 2002 e com o tempo de carreira aprendeu a compensar a falta de carisma e interação com o público fazendo o que conseguem oferecer de melhor: uma homenagem fiel ao legado do Pink Floyd e nos fazer sentir os efeitos lisérgicos das brilhantes canções compostas e tocadas por Gilmour, Waters, Wright e Mason durante os anos anos 60 até o final dos anos 1990. Cover é visto com preconceito, muitas vezes merecido, mas quando se trata do Pink Floyd basta saber tocar as músicas. Logo, se você tiver a oportunidade, não deixe passar.
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Foto: Fábio Militão