O meu primeiro contato com o Royal Blood foi através de uma matéria da NME sobre o duo formado por Mike Kerr (vocal e baixo) e Ben Thatcher (bateria). Na ocasião, a banda era alvo de diversos elogios por shows realizados em festivais como T In The Park, Download Festival ou Glastonbury e, por mais que estivesse com os dois pés atrás, resolvi ouvir para ver se tudo aquilo realmente se justificava.
Pois bem, não foi preciso mais do que uma música para perceber que aquilo poderia sim ser verdadeiro e, graças a “Out Of The Black”, a dupla acabou ganhando uma atenção maior, que acabou rendendo até um post por aqui. Daquele dia em diante, a expectativa era pelo lançamento do álbum completo e, nos dias que se passaram, algumas perguntas ficaram na cabeça: Será que o disco conseguiria manter o bom nível das faixas já divulgadas? Seria o Royal Blood capaz de manter ou amplificar todos os elogios? Não ter um guitarrista em uma banda de rock faria falta?
Eis que o disco chegou aos meus ouvidos e, para iniciar os trabalhos, nada melhor do que “Out Of The Black” e o seu riff sensacional. É um incrível cartão de visitas da banda e, se assim posso dizer, fazia um tempo que não ouvia algo novo no rock que fosse tão bom logo de cara. “Come On Over” e “Figure It Out”, que tem uma pegada capaz de lembrar Led Zeppelin e Black Sabbath, são as faixas seguintes e mantém a boa qualidade do álbum.
Após as três faixas divulgadas anteriormente, é hora de ouvir algo realmente inédito e coube a “You Can Be So Cruel”, música que poderia ter sido feita perfeitamente por Josh Homme e lançada pelo Queens Of The Stone Age, fazer as honras. A faixa tem muito do DNA da banda de Homme, mas também tem elementos característicos do Nine Inch Nails. A mistura das duas influências aliada a assinatura do baixo de Mike Kerr acabam, no fim, entregando (mais uma) boa música.
Depois de uma sequência intensa, “Blood Hands” quebra um pouco a adrenalina do álbum. Com um “Q” de Jack White, a faixa funciona bem e, ainda que não seja tão impactante logo em sua primeira audição, acaba se tornando interessante. É daquelas que acaba te ganhando com o tempo. O mesmo não podemos dizer de “Little Monster”, faixa que também já havia sido mostrada anteriormente pela banda. Ela é mais uma que integra o grupo de “riffs sensacionais” do disco e conta com um refrão capaz de ficar rapidamente na cabeça.
“Loose Change” é outra faixa que remete bem a Jack White. Inclusive, em alguns momentos, a voz de Mike Kerr acaba se assemelhando a do ex-líder do The White Stripes. Impressão parecida ocorre durante “Careless”, o que pode nos levar a pensar que a principal influência do Royal Blood seja mesmo o guitarrista dono de uma gravadora e vários projetos bem sucedidos.
“Tem Tonne Skeleton” e “Better Strangers” fecham o álbum e acabam por corroborar com o fato de que o alcance obtido pelo Royal Blood é realmente impressionante mas, acima de tudo, completamente compreensível e válido. Fazia tempo que uma banda de rock recém criada – eles se juntaram em 2013 – não causava tanto impacto antes mesmo de lançar o seu primeiro álbum e, agora que Royal Blood está na rua, a expectativa que fica é a de consolidação.
Confesso que fazia tempo que um debut essencialmente de rock me impactava assim. E o pior, o que mais se aproximou disso nesse ano foi um álbum do I Am Giant, The Horryfying Truth, mas que foi lançado em 2011. Royal Blood é carregado de bons clichês, boa produção, muito barulho e influências bem destacadas, mas o ponto alto do trabalho está certamente nos detalhes, desde a dinâmica entre as faixas até a ausência não sentida daquele que é o grande símbolo do rock, a guitarra.
O fato é que o Royal Blood conseguiu reunir tudo aquilo que lhe interessa, bater no liquidificador e fazer um excelente álbum de estreia. Um disco rápido – pouco mais de 30 minutos, eficiente e que, dificilmente, não estará presente nas principais listas de melhores álbuns de 2014.
Longe de querer apontar o duo como a “salvação” de um gênero e correr o risco de repetir erros cometidos aos montes nos últimos anos, mas ouso dizer que o Royal Blood acabou aparecendo na hora certa. Ou na hora que o rock precisava, se preferir.
Royal Blood – Royal Blood
Lançamento: 16 de setembro de 2014
Gravadora: Warner
Gênero: Rock / Grunge / Noise Rock / Industrial Rock
Produção: Tom Dalgety, Mike Kerr e Ben Thatcher
Faixas:
01. Out of the Black
02. Come On Over
03. Figure It Out
04. You Can Be So Cruel
05. Blood Hands
06. Little Monster
07. Loose Change
08. Careless
09. Ten Tonne Skeleton
10. Better Strangers