Com mais de vinte anos de estrada, os mineiros do Jota Quest retornaram para a capital mineira para divulgar Funky Funky Boom Boom, sétimo disco de estúdio da banda. E eles não poderiam ter escolhido um momento melhor para visitar a cidade. Apesar da sexta-feira, 27 de junho, ter sido uma noite fria, havia um calor efervescente dentro dos corações da maioria dos presentes. O motivo? No dia seguinte, a seleção brasileira jogaria contra o Chile pelas oitavas de final da Copa do Mundo 2014. Parecia tudo preparado para uma noite especial e inesquecível com mais um show inspirado de Rogério Flausino, PJ, Marco Tulio, Marcio Buzelin e Paulinho Fonseca, mas faltou o principal: a energia do público.
O Jota Quest até tentou. Preparou um repertório muito bem selecionado. A maior parte é dedicado ao trabalho mais recente, como não podia deixar de ser, enquanto o restante da apresentação foi muito bem dividida entre as várias fases da longa carreira dos mineiros. E o ponto alto não ficou apenas nas músicas ou na qualidade dos instrumentistas (PJ e Fonseca, especialmente), mas na incrível decoração do palco. Dadas as devidas proporções, a “discoteca” moderna do Jota chega a lembrar um pouco o clima do palco da turnê In Rainbows, do Radiohead. E os efeitos de luz jogavam juntos com a vibe das canções, por exemplo: “O Sol” tinha iluminação amarela, “O Vento” era tudo azul.
Houve um ou outro momento excessivamente brega, como o discurso do “coração” que fazia parte da coreografia de uma das novas faixas (chamada “É de Coração” – há). Flausino fez o dever cívico de mexer com os brios do público apático ao comentar sobre política. Fez do jeitinho mineiro, sem dar nomes aos bois, indo bem delicado e pelas beiradas sem querer atacar ninguém. Confesso que estava fazendo contagem regressiva para ouvir uma troca de carícias voltadas para a presidentE Dilma Rousseff, mas não aconteceu.
Vale elogiar muito os “spoilers” que a banda soltava antes de começar cada canção, com destaque para a sacada genial que antecedeu a versão de “O Sol”, do Tianastácia: a banda brincou tocando as primeiras notas de “Here Come The Sun”, dos Beatles. Um momento fantástico e verdadeiro presente para os fãs de música que estavam presentes. Aliás, o baixista PJ estava tão feliz que até brincou de tocar a riff de “Around the World”, do Red Hot Chili Peppers, em uma das pausas. O público parecia deixar passar esses pequenos detalhes, deixando para esboçar reações apenas durante faixas mais conhecidas ou nas baladas. Foi surpreendente perceber que o refrão de “Amor Maior” conseguiu ser o responsável pelo maior coro da apresentação. Nem mesmo em “Do Seu Lado” houve uma interação maior entre público geral e banda.
Quando digo público geral, falo a partir da observação da arquibancada. Existiam sim, óbvio, pessoas que pareciam viver o melhor momento de suas vidas. Um rapaz de camisa verde na grade da pista VIP chamava a atenção por cantar e dançar em todas as canções. Olhando ao redor era possível encontrar aqueles tipos estranhos que abusam um pouco da cerveja e começam a dançar de maneiras constrangedoras. Mas em sua maioria, o Chevrolet Hall estava distante. Com a cabeça no jogo do Brasil, aparentemente.
Outro mérito do show foi a presença realmente inspirada dos trios de backing vocals e de metais (que fazem parte do excelente Funk Como Le Gusta). Em “Sempre Assim” e “Amor Maior”, o trio deu um show a parte. Como é de se esperar num show do Jota Quest, a cozinha da banda estava impecável. Foram vários momentos inspirados da dupla PJ e Fonseca. E até o guitarrista Marco Tulio funcionou, embora ele pareça levar a sério a aura de “galã que molha a calcinha das fãs” em todos os shows. Flausino conquistou o público sem a menor dificuldade, já na abertura com “Mandou Bem”.
Jota Quest continua sendo uma das bandas pops mais competentes em atividade e uma das principais que surgiram nos anos 1990. Infelizmente mesmo as grandes bandas passam por dias em que nem toda a eficiência no palco é capaz de oferecer uma experiência inesquecível e que possa superar as apresentações mais recentes. Quem sabe numa outra ocasião, sem a divisão tola de ingressos VIPS e comum?
.
Fotos: Carol Simões