Como disse na edição anterior, festivais podem ser aproveitados de maneiras bem distintas. Se você vai com sua namorada, existe um lance mais 2 a 2, mais romântico e menos bagunçado. Nada comparado ao que pode acontecer se você unir forças com três amigos e encenar um verdadeiro Se Beber, Não Case durante o evento. A força da amizade, especialmente quando um dos amigos está numa pior, compensa a ausência de qualquer beijinho e, independente de ser melhor ou não, garante a diversão e alegria. É o suficiente para se tornar inesquecível. Com isso, a experiência Lollapalooza 2014 ficará guardada para sempre como um dos melhores dias da minha vida.
O amigo André não apareceu para o segundo dia, e acabou perdendo a sacada de mestre que tivemos de ficar tirando “selfies” com todo mundo que aparecia na nossa frente. Portanto, em homenagem (e agradecimento) aos envolvidos, vamos ilustrar essa edição com uma coletânea de imagens da #selfiewithme. Mas eu, Mateus e John ganhamos a companhia da amiga Babi e seu amigo Luiz, que “abraçaram” as causas cantadas no dia anterior e compraram a ideia de nos divertir radicalmente.
Com o peso da idade chegando, não se esqueçam que são quase 30 anos aqui, o corpo pediu um pouco de sossego. O domingo seria saudável, sem envenenar meu corpo com substâncias tóxicas, como a maldita Skol que era vendida facilmente, e com direito a muita água e açai (de R$12). O humor estava pior também, afinal de contas o Muse havia feito um show de bosta e estava muito quente. No entanto, nada que não pudesse ser resolvido com uma boa dose de humor. E música, claro.
Logo de cara, encontrei um sujeito com uma mochila do Bob Esponja e pedi para tirar uma foto para mandar para uma amiga. A gente trocou mensagem durante um bom tempo até meu celular morrer, e ela se divertiu horrores com a foto especial tirada sob um sol de rachar.
O primeiro show do dia foi Raimundos, no palco principal. Já comentei deles recentemente (no Planeta Brasil) e o que vi foi a mesma coisa. Uma banda esforçada que se apoia exclusivamente no sucesso do passado para se manter viva. Vale pela nostalgia, e só. Depois foi a vez de assistir Johnny Marr quebrando tudo num sol ainda mais agressivo. Não é mistério dizer que os grandes momentos da apresentação foram durante as covers de Smiths, né? Nessa altura, eu já estava prostado com umas cinco garrafinhas cheias de água e bebendo como se não houvesse amanhã. Até tirei um cochilo no tempo de espera pelo Vampire Weekend.
Nos planos iniciais do Lolla, eu provavelmente nem teria assistido ao show do Vampire Weekend, mas na companhia de meus amigos tudo mudou e pude comprovar os motivos de tanta gente elogiar o show deles. As músicas eram tão contagiantes que, inspirado no Sasquatch Festival, aproveitei um momento para tentar bancar o lobo solitário e conquistar “seguidores”. Iniciei uma dança daquelas que a gente só faz depois de beber muito e de preferência às 3h, 4h da madrugada, e fui esperando outros malucos se aproximarem. SEMPRE existem malucos dispostos a se aproximar e fazer bagunça. Você só precisa ter coragem. O resultado foi um show a parte, com muita gente se divertindo loucamente e deixando o palco pra lá. O show era nosso.
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A ideia de tirar selfies acabou nos custando o começo do show do Pixies, mas tudo bem. Eu já havia visto a banda no SWU e meu sonho de dividir “Where is My Mind?” ao lado de alguém especial havia ficado (mais uma vez) para uma próxima oportunidade. Se bem, que considerando o que vi no palco principal, o Pixies deve anunciar o fim em breve. Mais decadentes que o Raimundos, mas assim como os brasilienses, continuam mandando bem demais para a gente ficar desprezando.
Partimos antes do fim para tentar capturar um bom lugar no aguardado show do Soundgarden. O amigo Fernando Scoczynski, do Antiquiet, manja dos paranaues dos atalhos nos shows e nos colocou num lugar melhor do que aquele que eu havia visto o NIN no dia anterior. Por coincidência no mesmo palco. Porém, pouco antes de chegarmos ao Onix, a gente discutia em voz alta sobre a supremacia sonora do Audioslave em relação ao Soundgarden e Rage Against. Meu discurso foi interrompido depois que me esborrachei no chão e puxei o John junto, num efeito boliche.
Chris Cornell não está em seus melhores dias, mas ainda assim foi a realização de um sonho ouvir a voz dele ao vivo. Anos de adoração ao Audioslave, seu trabalho solo (exceto Scream) e, claro, ao próprio Soundgarden. Tinha tudo para ser especial, e certamente foi. Sem esforço nenhum, o Soundgarden ofereceu o melhor show do Lollapalooza 2014. Com muita pegada e disposição, eles tocaram clássico atrás de clássico, me fazendo até mesmo querer encarar um mosh violento com pessoas com braços maiores que a minha cabeça (mas com pintos menores que o meu mindinho). Não sei o que acontece com a gente em shows. Todo mundo gosta de apanhar um pouco, e porra, levei umas porradas muito feias no meio daquela roda amaldiçoada. Até pensei em fazer outra dança maluca, mas certamente seria surrado por todos os fedorentos barbados que se agrediam com muito amor.
Pouco antes do fim do Soundgarden, partimos para o encerramento do Lollapalooza com o Arcade Fire. Desta vez, não cometi o mesmo engano do dia anterior e minha estratégia foi buscar a aproximação pelo lado direito do palco. Andei mais, mas consegui sucesso. Conseguimos um local privilegiado e de quebra, a um show surpreendente e que por muito pouco não tomou o trono do Soundgarden – mas foi o suficiente para ser o meu favorito.
Donos de verdadeiras porradas emocionais (“músicas sobre saudade”), o Arcade Fire me fez derreter. A última vez que chorei tanto assim num show foi durante o Radiohead, em 2009. Ouvir “Lies”, “The Suburbs”, “Ready to Start” e “Afterlife” ao vivo foram verdadeiras sessões de tortura, nas quais lembranças boas se misturavam à emoção de estar ouvindo aquilo ao vivo e sentindo o quanto essas canções são fortes. O Arcade Fire tem quase um time de futebol inteiro em cima do palco, mas é impressionante a sua organização e como cada um funciona em prol da “equipe”. Todos os elogios para as performances não foram em vão: existem shows realmente especiais, e quem estava no Lollapalooza e não preferiu ver os decadentes do New Order (seria o Lolla 2014, o festival que mais tentou reanimar os dinossauros?) certamente guardará essa lembrança para sempre.
A reflexão final é que nos momentos de escuridão e tristeza, se deixar vencer pela dor e ignorar que a vida persiste em seguir é um enorme engano. Precisamos lutar. Finalmente perceber o que significa estar vivo, e que decepções fazem parte de tudo. Aos meus amigos, que fizeram do Lolla 2014 a melhor experiência musical da minha vida, fica o meu agradecimento eterno. Vocês fizeram a diferença. Tornaram possível um sorriso real no meio de todo o caos. Então, para quem estava comigo por SMS, e especialmente ao Mateus, John, André, Babi, fica aqui um beijo e a possibilidade de eu pagar a cerveja de vocês em 2015. Desde que não seja Skol, claro…
ps: um beijo para a Thais Vieira, do Cinema de Buteco. Infelizmente não deu para a gente se trombar.
ps²: É muito amor que rola com esses Musers oldschool.
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Favoritos:
Arcade Fire
Nine Inch Nails
Vampire Weekend
Soundgarden
Muse
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Melhores:
Soundgarden
Arcade Fire
Nine Inch Nails
Johnny Marr
Vampire Weekend
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Veja as fotos do momento #SelfieWithMe: