Existem shows bons, shows inesquecíveis e shows como o que Hugh Laurie deu aos mineiros na noite da última sexta, 21, no Chevrolet Hall. Com a casa parcialmente cheia e, infelizmente, com mais fãs do “Dr. House” do que de sua carreira como cantor, Hugh tinha um grande (e bom) desafio pela frente: Ganhar o público também pela música.
Acompanhado da The Copper Bottom Band e com muito bom humor, o britânico subiu ao palco por volta das 22:15 para apresentar a turnê de seu mais recente álbum, Didn’t It Rain, e, entre os gritos de “lindo” e “sexy”, já se desculpou logo de cara por saber apenas duas coisas em português: “Obrigado” e “tudo bem?”. A partir dalí, o que viria era uma das mais belas traduções de jazz e blues que eu pude presenciar até hoje.
O palco conta com um belo cenário que remete aos cabarés e casas de shows de Nova Orleans, trazendo para os dias atuais um pouco dos grandes momentos da história do jazz e do blues. Se a parte visual do show impressiona pelo requinte, faltam adjetivos para descrever o foco principal da noite: A música.
O poder da Coopper Bottom Band no palco é quase mágico. São sete integrantes incríveis e que, somados a Laurie, entregavam clássicos como “Wild Honey”, “Send Me To The ‘Letric Chair” (cover de Bessie Smith & Her Blue Boys) ou “What Kind Of Man Are You” (cover do Ray Charles) como se fossem as coisas mais simples de se tocar na vida. Quando Laurie exalta a banda e diz que “é a melhor banda do mundo”, você pode até pensar que é exagero mas, se não são os melhores, estão perto disso. Músicas como “Let The Good Times Roll” ganharam coro da plateia que, naquela altura, ainda estava acanhada em suas cadeiras e, se faltava algo para se soltar, Laurie deu isso no tango “Kiss On Fire”. Além da música ser muito boa por sí só, o britânico ainda encerrou a música com alguns passos de tango.
É com o passar do show que você consegue perceber que Hugh transformou a sua veia musical em muito mais que um simples hobby, como muitos (e eu inclusive) encararam no lançamento do primeiro disco, Let Them Talk. O carisma do britânico como anfitrião do show é algo digno de muitos aplausos, graças aos vários momentos divertidos com os seus trejeitos, caras e bocas, danças engraçadas e na interação com o público que, mesmo não tendo o desejo de ouvir “Louisiana Blues” atendido, conseguiu arrancar de Laurie um “Happy Birthday” quando um bilhete chegou em suas mãos pedindo o presente para um rapaz de nome Tiago. Depois de tocar, o parabéns acabou sendo ampliado para todos os presentes comemoram próximo a data, o que me deixou feliz já que, na véspera do show, foi a minha vez de fazer aniversário.
Se essa parte “feliz” chama a atenção, o momento de Laurie no palco que ficará registrado em mim é o de “Careless Love”, onde ele deixa o lado “empolgado” de lado e dá ao público os minutos mais emocionantes das mais de duas horas de show, onde canções como “I Hate A Man Like You”, “You Don’t Know My Mind”, “The Weed Smoker’s Dream”, “Lazy River” e “Didn’t It Rain” também fizeram parte de um repertório rico em boas músicas.
Para fechar, veio um incidental de “Satisfaction” dos Stones e a cartada final para ganhar de vez algum resistente (se é que existia) ao show: “Mas Que Nada”, um dos clássicos de Sérgio Mendes. E nem precisava tentar agradar mais. O trabalho já estava feito. E bem feito, como o blues merece. Uma noite mágica.
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Veja um trecho curto do show, que publiquei no Instagram:
Fotos: Fernanda Figueiredo/SOU BH