Ano novo, novos planos e ideias novas. Nesta pesperctiva que o Audiograma conversou com Carou Araujo, já que o seu projeto, Cabezas Flutuantes, é sem duvida um dos grandes achados de 2013.
Ao pensar em produzir um álbum colaborativo, a cantora demonstra uma nova visão na criação e elaboração da música e da arte. O projeto consta em reunir várias “cabezas” de várias partes do Brasil e do mundo, na produção do álbum e de arte eletrônica.
Os envolvidos neste projeto desafiador são: Acácia Lima, Agnes Lima, Camila Alvarenga, Carola Saraiva, Carou Araújo, Daniel Llermaly (La Golden Acapulco), Daniel Nunes (Constantina), Facundo Salgado (Rumbotumba), Fábio Cardelli (Visitantes), Fábio Lamounier, Felipe d’Tolla, José Luis Braga (Graveola e o Lixo Polifônico), Lê Almeida, Luís Fernando Moura, Luiz Gabriel Lopes (Graveola e o Lixo Polifônico), Luiza Brina, Marcos Luz, Matias Conejo (Falsos Conejos), Mendi Singh, Milena Takeda, Niela Moura (Gloom), Patrícia Rezende (Dead Lovers Twisted Heart), Paula Elisa, Rafael DoCoqueiro, Renato Negrão, Thiago Corrêa (Transmissor), Thiago Kropf, Victor Munhoz (Ram), Victor Silva (Iconili) e Yuri Vellasco (Graveola e o Lixo Polifônico). O disco conta ainda com a produção musical de Acácia Lima e Carou Araújo, projeto gráfico de Victor Silva.
Outra característica marcante do trabalho é que utiliza elementos do noise e percussões experimentais em suas bases. Além da música, a arte eletrônica está no DNA do projeto, com oficinas e experimentação.
Nesta conversa com Carou ela fala sobre o projeto Cabezas Flutuantes, o mercado da músicas suas expectativas para o futuro e muito mais.
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Como surgiu a ideia do projeto Cabezas Flutuantes?
Em 2011, quando ainda existia o Espaço Fluxo, o Fábio Cardelli (paulistano que hoje é parceiro flutuante) propôs uma conversa sobre processos de composição na casa. Ali foi plantada a semente de tudo o que veio a acontecer depois. As primeiras gravações foram no Rio de Janeiro na casa/estudio de uma grande amiga minha das épocas de colégio, Acácia Lima. Neste momento a sementinha começou a germinar e agora estamos nos frutos.
Algum projeto pelo mundo que foi uma fonte de inspiração?
A fonte de inspiração foram os meus amigos, de vários lugares e que trabalham com várias linguagens artísticas: músicos, poetas, pintores, videomakers, chefs de cozinha, cultivadores de hortas e flores. Acho que o Cabezas tem muito dessas misturas traduzidas mais visivelmente em sons e imagens, mas na verdade tem a ver com afeto, com relação humana e formas de misturar esses temperos.
A experimentação é um carro chefe do projeto?
Mistura é o carro chefe do projeto. Acho que experimentação é uma forma de mistura, de mestiçagem. É pegar algo que é feito de uma forma padrão e juntar com uma atitude ou um pensamento um pouco diferenciado e criar uma outra coisa, ou simplesmente mudar um elemento de contexto, já é experimentar.
Existe mercado aqui no Brasil para um projeto tão desafiador?
Acho que esse conceito de mercado é uma discussão muito maior do que a gente nesse momento é capaz de responder ou analisar. Até onde me atinge, a repercussão têm sido muito boa e na maior parte das vezes até surpreendente. No sentido de acontecer com uma velocidade maior do que eu imaginava. É gratificante fazer porque é sempre feito com prazer, sabe?
A forma de trabalho colaborativa está na moda em vários segmentos. Como foi construir música com várias mentes diferentes?
Acho que trabalhar de forma colaborativa foi uma ordem natural pela forma como sempre trabalhei mesmo e porque o Cabezas tem essa característica de misturas de linguagens. Foi um processo muito estimulante: muitas vezes doloroso pela distância por querer estar mais perto dos parceiros que são de outros estados e até de outros países. Várias mentes são várias energias, o que eu procurei fazer com tantas mentes foi dar um direcionamento conceitual, mas deixar todo mundo bem livre pra colocar a sua pitada de forma natural. Acho que essa foi a melhor amarração!
Qual foi o maior desafio para tocar este projeto?
Talvez tenha sido lidar com essa vontade de ter todo mundo mais perto, mesmo que fosse pra sentar num bar pra falar da vida.
O projeto não se restringe ao áudio. Quais são os segmentos que o Cabezas está atuando?
O Cabezas circula por todas as partes que nos são permitidas. Eu mesma, Carou, tenho uma pegada forte de produção, então tento fazer uma Noite Flutuante a pelo menos cada semestre. (Noite Flutuante é um projeto que tem como objetivo provocar intercâmbios em músicos de várias partes do mundo. Os eventos se caracterizam por sempre receber convidados de fora dividindo o palco com músicos mineiros. Mas temos flutuantes arquitetos, videomakers, artistas visuais, ceramistas. Toda equipe faz parte do projeto e todos entendem o trabalho como deles, porque o Cabezas Flutuantes não é só uma banda, nunca foi apenas sobre o som, é um grande coletivo.
Vários artistas estão disponibilizando seus álbuns na web. Esta é a melhor forma de divulgação do trabalho ou você ainda acredita no bom e velho CD ou EP?
O nosso disco está on line e na melhor qualidade possível para baixar em mp3. Temos disco físico também, mas ele funciona mais como um cartão de visitas mesmo e pras pessoas que vão ao show e querem levar uma lembrança.
Como você analisa o mercado da música contemporânea?
Eu não analiso, eles que me analisam. Acho que o mercado é cada vez mais confuso. Hoje em dia qualquer um consegue gravar um disco num quarto de casa então isso gerou tipo um overflow no mercado independente que por vezes é bom, mas pode ser muito ruim. Porque no grande mercado brasileiro o que a gente vê são aqueles artistas pasteurizados ou os clássicos dinossauros que estão vivos até hoje. Isso sem contar as mega estrelas estrangeiras que ocupam grande parte da engrenagem. Daí para os independentes sobra um pouco aquela terra de ninguém dos editais pra fazer o trabalho girar, sendo que muitas vezes os artistas estabelecidos também se ocupam desses privilégios. Daí tem esse esquema que você tava dizendo dos coletivos que nem sempre são efetivos porque às vezes dá a impressão que essas pessoas produzem shows apenas pras pessoas que estão dentro de uma bolha. Então num é exatamente um crescimento em termos de mercado, sabe? Então como eu disse, não analiso, não sei bem como fazer ainda. Mas vamos aprendendo.
Empresas como Rdio, Deezer estão mudando a maneira de consumir a música, em sua avaliação, qual o impacto para os artistas denominados indie a chegada destas empresas?
Acho que são ferramentas e que a gente tem que saber usá-las. Saber como montar um perfil, como colocar seus discos para as pessoas escutarem e comprar. Como eu disse, o visual é importante, overflow e etc.
Como podemos entrar em contato com o projeto para shows, oficinas e demais apresentações?
O site é bem completo: tem agenda, blog, área de contatos. Ou pode mandar email pra gente.
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Ouça o álbum abaixo:
[soundcloud]https://soundcloud.com/cabezasflutuantes/sets/registro[/soundcloud]