A noite era chuvosa, bastante por sinal, mas o evento era importante e valia a pena sair de casa. Pedro Morais lançou recentemente seu terceiro álbum, Vertigem, e escolheu o Teatro Bradesco para apresentar, pela primeira vez ao vivo, o trabalho para os fãs e amigos.
O clima de tempestade do lado de fora ficou em segundo plano e entrou em contraste com o clima caloroso que tomou conta do teatro, mas não deixou de render algumas piadas do cantor que perguntou se as pessoas haviam chegado ao local de barco. Firme o tempo inteiro, tanto na fala quanto em seus movimentos no palco, o artista ganhou fácil a plateia com a sua simpatia e rapidamente gritos carinhosos de “arrasou” e “lindo” ecoavam do público nos intervalos entre as músicas.
No repertório, canções como Ê camarada! e Bilhete, que abriu o show, assim como Para repetir, Grão, Às vezes só e A Eternizar promoveram a mistura, sem muitas definições, oferecida por Pedro em seu novo e ousado álbum. Tal ousadia é notável em músicas como Liga, uma das mais interessantes do CD e que, segundo Pedro, era originalmente um samba composto para a cantora Aline Calixto. A canção se tornou praticamente o oposto e agora passeia mais por uma MPB que hoje tem uma vertente Indie e público de mesmo estilo. Talvez o cantor tenha tido influência da produção de Gustavo Ruiz, irmão e também produtor da cantora Tulipa Ruiz, que hoje representa fortemente esse “novo estilo” em suas músicas, se é que ele de fato existe e não é apenas modismo.
Para quem está acostumado com o lado mais poético do artista, pode estranhar o terceiro CD e demorar um pouco para se acostumar com as novas músicas. E um conselho certeiro é: assistir o show o mais rápido possível. O motivo da recomendação é simples. No palco, as músicas crescem em grande proporção, o lado roqueiro do artista fica mais em evidência e os seus vocais se tornam absurdamente mais fortes, prova disso aconteceu no número de Vertigem.
O show foi totalmente pautado no novo álbum, mas algumas músicas dos discos anteriores promoveram um “vale a pena ouvir de novo” no público. Das antigas, foram apenas três e seria ótimo se mais canções dessa categoria figurassem no repertório nas próximas apresentações. Mas dessas poucas e boas, estavam as conhecidas De cada lado, A fúria do infinito, e Sob o Sol. As duas últimas foram apresentadas com novas roupagens que chegaram até a ofuscar algumas das músicas novas e ainda mostrou o poder da banda, de quatro músicos, com um notável destaque para o baterista, que com sorriso no rosto o tempo inteiro, deu um show, literalmente.
Sem dúvidas, Pedro é um dos nomes mais fortes da música mineira e da tão famosa nova safra da MPB e é um cantor que merece uma projeção nacional com urgência para ontem. Portanto, elogiar um artista como ele nunca é demais. Pedro Morais sempre mostrou um talento imenso nos seus álbuns e shows e saber que ele pode crescer ainda mais no palco, é algo que deixa os fãs e qualquer um que tenha noção mínima do que é o seu trabalho com orgulho. A música mineira merece esse destaque e agradece pelo bom gosto.
Foto: Athos Souza