Todo mundo tem um dia ruim em que as coisas dão errado, daqueles de bater o dedinho do pé na quina da mesa, pegar todos os sinais vermelhos etc. Ainda assim, “dia ruim” é pouco para tentar entender o que foi o show do Capital Inicial no último sábado, 31 de agosto, na capital mineira.
O tempo de atividade da banda deveria garantir uma boa apresentação, independente dos eventuais equívocos, especialmente se tratando de uma banda gigantesca como o Capital Inicial, que se prepara para bater ponto pela quarta vez no palco do Rock in Rio. Infelizmente, toda a experiência adquirida com o passar dos anos foi insuficiente para disfarçar os vários erros do show, que acabou sendo medíocre para o potencial da banda.
Com pouco mais de 2h de músicas, com direito a diversas pausas para o carismático vocalista Dinho Ouro-Preto se comunicar com a plateia apaixonada pelo seu trabalho, o Capital inicial bem que tentou agradar quem foi até o Chevrolet Hall em busca dos principais sucessos da banda. Eles revisitaram seus melhores momentos e ainda tocaram canções mais recentes presentes no disco Saturno, de 2012. Com um público bem diversificado (famílias com seus filhos adolescentes; os tradicionais “camisa preta” criados com leite e pêra; patricinhas e mauricinhos; dentre outros tipos), foram poucos os momentos em que as pessoas não tentavam cantar mais alto que o vocalista.
Destaque positivo ficou para o belo arranjo de teclado em “À Sua Maneira”, que pareceu bem influenciado pelo trabalho do The Doors e foi uma excelente surpresa, já que a base da canção é extremamente simples e repetitiva. “Fátima”, um velho clássico, continua sendo uma das melhores músicas da banda e cresce muito durante as apresentações ao vivo. “Independência”, “Música Urbana”, “Veraneio Vascaína”, “O Mundo” (uma pena que a versão ao vivo não consiga superar a gravação e tenha sido um dos piores momentos do show) e covers de “Should I Stay or Should i Go”, do The Clash; “Seven Nation Army”, do White Stripes; e “Mulher de Fases”, do Raimundos; foram outros momentos em que o público fez barulho. Aliás, durante a música do Raimundos parecia que o Chevrolet Hall inteiro havia acordado. Sobrou ainda uma homenagem singela para o Chorão, falecido vocalista do Charlie Brown Jr.
No entanto, mesmo com Dinho inspirado e tentando animar o público da melhor maneira possível (ele chegou a pronunciar a palavra “cara” 105x no total), a noite não foi muito boa tecnicamente falando. Alguns arranjos ficaram truncados e os erros do baterista Fê Lemos eram frequentes, como na versão de “Eu Vou Estar”. A impressão era que ele estava tentando mesclar influências de Incubus ou Portishead no trabalho do Capital Inicial e achou uma boa ideia inventar linhas de bateria com “ritmos quebrados” no meio do show. Um verdadeiro pesadelo para os ouvidos de quem conhece bem a banda, e/ou tem a mínima noção musical.
Fica a expectativa por um show melhor no palco do Rock in Rio, pois o Capital possui repertório e capacidade de fazer bonito para um público de mais de 85 mil pessoas, incluindo quem assistir ao evento pela internet.
Ainda que o público não seja a parte principal de um show (embora algumas pessoas armadas de smartphones tenham certeza de que são mais importantes que a banda e têm todo o direito de incomodar os outros enquanto se fotografam alegremente) é sempre divertido observar cada uma dessas figuras presentes. Desta vez, fiquei curioso com a faixa etária dos adolescentes e fui conversar com um grupo de garotas. Elas disseram ter 17 anos e que conheceram Capital Inicial através da influência familiar. Uma tentou até me convencer de que a amiga era groupie da banda. Esses jovens de hoje em dia são fodas. Melhor ainda foi uma jovem que assistia ao show da arquibancada e se recusou a conversar sobre a sua tatuagem. Pessoas tatuadas geralmente conversam tranquilamente sobre as suas respectivas artes, mas não foi o caso da loirinha. Provavelmente ela estava chateada pela baixa qualidade do show e tão entediada que decidiu maltratar um cabeludo estranho perguntando porque ela tatuou algo em árabe no pescoço.
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Veja as fotos de John Pereira: