Os Titãs subiram ao palco do Chevrolet Hall, no sábado, 15 de junho, e celebraram os 30 anos de carreira com mais um show da turnê Cabeça Dinossauro, na qual a banda toca todas as faixas do album homônimo lançado em 1986 e considerado, ao lado de Selvagem, do Paralamas do Sucesso, e Dois, da Legião Urbana, um dos principais discos da geração 1980.
O público era bom, embora houvesse muito espaço para andar pela pista, e cantou a letra dos principais sucessos da banda formada por Paulo Miklos, Sergio Brito, Branco Mello e Tony Bellotto, os remanescentes da formação original.
Foi curioso perceber o grande número de famílias presentes na casa de shows. Pais e mães com filhos/filhas adolescentes e se divertindo como se estivesse revivendo a sua própria época dourada. Com tantos fãs presentes era de se esperar muita gente cantando os clássicos (felizmente privilegiaram o repertório antigo e foram poucas canções recentes), e isso se confirmou especialmente em “Diversão”, com as pessoas acompanhando a riff da introdução, “Família” e “Marvin”. Com o consumo de bebida alcoolica liberado, a alegria geral das pessoas estava garantindo e tinha muito marmanjo pulando como uma criança quando ouvia sua música predileta.
Um ponto negativo da apresentação foi a ausência de posicionamento político da banda, que praticamente ignorou os protestos acontecidos em São Paulo, na quinta-feira anterior ao show, e a movimentação crescente das pessoas pelas redes sociais. Se tratando da banda que escreveu “Estado Violência”, “Porrada” e “Polícia”, eles poderiam ter optado por tecer alguns comentários. Na verdade, considerando que “Polícia” foi tocada num andamento hiper acelerado e com momentos beirando o caos sonoro, talvez o recado do Titãs tenha sido sutil demais para os presentes na apresentação. O refrão de “Vossa Excelência” foi cantado a plenos pulmões pelo público cansado de ser manipulado e roubado por tanto tempo. Em tempos em que a nossa geração se tornou mais politizada, é uma lástima que as únicas canções que nos representem tenham sido escritas há mais de 20 anos – ou por bandas na ativa desde a década de 1980, já que “Vossa Excelência” foi composta durante a crise do Mensalão, em 2005.
A ausência de um baixista de ofício (não que Nando Reis fosse um exímio instrumentista) é uma grave deficiência no show da banda. Brito e Mello se revezam no instrumento, mas não demonstram muita intimidade e mesmo confiança para darem a devida importância às belas linhas de baixo do Titãs. O solo de baixo de “Bichos Escrotos”, por exemplo, foi sumariamente eliminado e substituído por novos arranjos e uma parte de guitarra. Bom para Tony Bellotto, ruim para os amantes da baixaria.
Após tocar as músicas de um dos seus principais discos, o Titãs começou a misturar o repertório, inclusive com direito a uma faixa inédita chamada “Fala Renata”. Senti um arrepio na espinha quando ouvi “inédita”, pois lembrei de Sacos Plásticos, de 2009, um disco que ficou aquém das expectativas, mas a verdade é que a nova faixa mostra tudo que a banda havia ignorado no trabalho anterior e revisita seu passado com uma riff de guitarra inspirada e hipnotizante de Bellotto, além de uma letra que brinca com as palavras da mesma maneira que “O Que” faz. Pode parecer bobo para quem não conhece a história da banda, mas para os seguidores mais antigos fica uma sensação de otimismo para conferir o novo trabalho, cujo lançamento está previsto para o segundo semestre de 2013.
Após saírem do palco algumas vezes para matar o público de ansiedade, a banda retornou para o encerramento épico com “Comida” (detalhe para o volume elevado dos instrumentos, quase como se aqueles quarentões virassem adolescentes barulhentos com necessidade crônica de serem ouvidos) e depois, um desnecessário “replay” de “Bichos Escrotos”, novamente sem o solo de baixo. Uma apresentação incrível de uma banda que ainda parece ter muito a oferecer para o seu público antigo e os jovens que estão descobrindo o Titãs agora.
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Veja fotos do show feitas por John Pereira: