Adivinha doutor, quem está de volta na praça? Não é apenas o Planet Hemp e a tal da esquadrilha da fumaça. A coluna (Re)Descobrindo Sons sumiu boa parte do ano, sofri com problemas inesperados da vida moderna (tipo, ganhar na loteria, ser pai, trocar de emprego, virar artista famoso, ou nenhuma dessas coisas) e acabei deixando as páginas laranjas de John Pereira e a turminha da pesada do Audiograma na mão. Porém, retomei as atividades com a cobertura do show do barbudo ruivo Nando Reis, em Belo Horizonte. Pensei muito e “por que não” escrever uma breve análise do que ouvi no último mês? Sinto muito por conta dos problemas, mas sei que meus cinco leitores assíduos (se é que vocês ainda estão aí, eu rezo para que estejam) não tem nada a ver com isso. Shame on me.
De maio para cá, muita coisa aconteceu. O Bob Dylan veio tocar em BH, fez uma apresentação de encher os olhos, com todo mundo gritando no refrão de “Like a Rolling Stone” e deixando o velho louco de ódio. Dylan mostrou que não está parado no tempo e também lançou o belo disco Tempest, trigésimo quinto de sua carreira. Para quem não ouviu, vale a recomendação. Encontrei nas lojas por menos de R$ 24,90. Aliás, falando em gente “velha” que deixa os novinhos enlouquecidos, o Robert Plant foi outra surpresa na capital mineira. Com direito até a cover de Tim Buckley (com a linda linda linda linda mesmo “Song to the Siren”), o vocalista do Led Zeppelin cantou várias de suas antigas músicas para agradar ao grande público que achava que se tratava de um show da banda. Tem que ter muita paciência com quem vive no passado assim. Foi o cúmulo de abrirem uma roda no meio do show…
Quem também lançou disco novo foi a cantora Tulipa Ruiz (foto), minha atual musa da música brasileira. Tenho realmente uma atração tão grande por ela (para o desespero da minha namorada) que aproveitei uma viagem para o Rio de Janeiro para ver ao vivo um dos primeiros shows da nova turnê. Tulipinha e sua banda estão afiados com as canções novas, com um show melhor do que aquele que assisti no ano passado em BH e no Rock in Rio. Quanto ao disco novo, Tudo Tanto, não me decepcionei nadinha. Sabemos das dificuldades de uma banda para colocar o segundo disco no mercado, e a Tulipa fez bonito. Tem até parceria com o Lulu Santos.
“O single “É” abre o disco em grande estilo e ao contrário de “Efêmera”, abertura do primeiro disco, não tem nada daquele clima mais tranquilo e dita o ritmo de todas as canções seguintes. “Ok” é uma das poucas faixas que se encaixaria completamente no conceito do primeiro disco. Apesar disso, sua sonoridade é a mistura perfeita do que era aquela Tulipa e quem é a cantora atualmente. “Expectativa” é empolgante, novamente usando linhas de baixo para conduzir a música e criar uma bela cama para a voz de Tulipa e guitarras funkeadas.”
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=LS_AhzPVn-U[/youtube]
Glen Hansard (daquele filme Once – Apenas Uma Vez) deu um tempo no seu projeto Swell Season e lançou um disco solo. Eu confesso que estava cagando e andando, mas a empolgação da minha amiga Ana Clara Matta, do site Rock n`Beats, me fez reconsiderar. Sabe quando você ouve uma música que faz a sua coluna gelar de tão triste que é? Foi exatamente a minha impressão ao ouvir “Rhythm and Repose”. Que disco do caralh*. Infelizmente ele ainda não foi lançado no Brasil e dificilmente será, mas está na minha lista de cds a serem comprados em 2013.
Não tem como indicar música X ou Y. Para todo mundo que se sente orfão do trabalho de Damien Rice, o disco de Hansard pode ser considerado como o remédio do momento. Na verdade, dizer que “Rhythm and Repose” é apenas um “remédio” é quase um sacrilégio. São poucas as músicas que você pode ignorar e dizer que não se sentiu tocado. Seja com as músicas mais otimistas ou com aquelas em que você sente vontade de chorar, não tenho dúvidas de que este é um dos melhores discos de 2012. Especialmente para pessoas que apreciam o flerte constante com a melancolia.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=hgG2rljJqH4[/youtube]
Em outubro, o Muse lançou o sexto disco de estúdio, o The 2nd Law. Muita gente estranhou o resultado da obra, mas a verdade é que eles não tiveram medo de se arriscar e ao contrário das tentativas fracassadas do Coldplay e do The Killers (que lançou um disco horroroso e comentado por John Pereira aqui), o Muse teve sucesso. Pode até não ser o melhor disco do ano, mas é uma feliz mudança de sonoridade para uma banda que possui grandes ambições. Meu retorno ao Audiograma deveria ter acontecido na ocasião, já que nada melhor que um lançamento de sua banda favorita para recuperar a disposição e fazer o tempo curto ser o suficiente. Especialmente quando ela será uma das atrações do Rock in Rio V, no dia 14 de setembro de 2013.
“O single “Madness”, segunda música do disco, desagradou muita gente que ainda está presa ao tempo que o Muse era mais visceral. E abusava dos cogumelos. E das teorias conspiratórias com alienígenas. E dos banhos comprometedores. Felizmente, a banda amadureceu muito e por tudo que eles apresentaram nos cinco discos anteriores, chega uma hora que insistir no mesmo caminho passa a ser cara de pau e medo de se arriscar e dar o passo adiante. Depois de ganhar o mundo, seria uma loucura tentar reformular tudo, mas eles ousaram e foram bem sucedidos. Após o solo de guitarra de “Madness”, claramente inspirado em “I Want to Break Free”, do Queen, a canção se transforma e Matt evoca o grito de desabafo de Bono Vox em “With or Without You” para engrandecer a música, cujos arranjos de voz merecem atenção especial.”
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Ek0SgwWmF9w[/youtube]
O The National, banda que costumava aparecer sempre aqui nas primeiras edições da coluna, se tornou uma das melhores coisas para se ouvir em momentos tristes. Trilha sonora perfeita para pessoas melancólicas, adquiri recentemente o disco Boxer, de 2007. Ando evitando gastar muito, mas foi um choque tão grande descobrir que o disco foi lançado no Brasil (e estava por menos de 20 dilmas) que não resisti. Embora seja um excelente disco, a verdade precisa ser dita: ele não chega aos pés de High Violet, de 2010. O disco é perfeito do começo ao fim, tanto que até foi incluído na última edição da bíblia musical 1001 Discos Para Se Ouvir Antes de Morrer. Encontrei no Submarino por acaso, e claro, virou o meu presente de natal do ano. Para quem está com saudade da banda, ela gravou recentemente uma faixa para a segunda temporada da série Game of Thrones. Ouça logo abaixo:
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=qFpgF3f51ZQ[/youtube]
Mês que vem a gente retoma com uma edição especial apenas com as melhores coisas do ano, pode ser? Bom dezembro e feliz natal antecipado.
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Discos comprados:
Ok Computer @Radiohead
Pablo Honey @Radiohead
Kid A @Radiohead
The Bends @Radiohead
Hail to the Thief @Radiohead
Tempest @Bob Dylan
Boxer @National
High Violet @National
King Bee @Muddy Waters
Dummy @Portishead
The Downward Spiral @Nine Inch Nails
Old Ideas @Leonard Cohen
Time Out @The Dave Brubeck Quartet