O calor e o trânsito infernal enfrentado por quem seguia com a intenção de conseguir chegar no Chevrolet Hall na noite desta sexta-feira, 23 de novembro, foram recompensadores.
Com a casa praticamente lotada, os fãs de Nando Reis pararam o trânsito da região da Savassi e se espremeram para poder ver de perto o cantor, que recentemente lançou o disco Seis, e veio divulgar o novo trabalho na capital mineira. O curioso é que o cantor resolveu imitar o Radiohead e deixou nas mãos do público a decisão sobre o valor dos discos. O famoso: “você paga quanto quiser”. O preço da semana era de R$ 21, que é absolutamente justo para o bolso dos fãs.
Eram pouco mais de 22h quando as luzes do Chevrolet Hall se apagaram e a plateia (formada especialmente por casais e grupos de adolescentes) começou a fazer muito barulho, na expectativa pela abertura do show. A banda foi entrando no palco tranquilamente, até a chegada do ruivo Nando Reis e seu inseparável violão. A primeira faixa foi “Pré-Sal”, que está no disco Seis. A banda é formada por um baixista, um guitarrista (o eficiente Walter Villaça), baterista, tecladista (que no final de “Luz dos Olhos” pulou para a frente do palco e fez uma jam com os outros integrantes – tudo isso com o teclado na mão), e mais duas cantoras de apoio, que criaram um interessante ar de música gospel nos arranjos vocais das faixas executadas ao longo do show. A terceira música “Sou Dela”, foi o primeiro momento em que o público mais se animou e cantou junto do ruivo.
O visual do cantor chama a atenção. Como se não bastasse lembrar um irlandês beberrão, quem sabe uma versão nacional do Damien Rice?, ao abrir as pernas e deixar o violão em pé, bem próximo do corpo, foi impossível não lembrar imediatamente do magrelo Eugene Hutz, vocalista do Gogol Bordello. As comparações poderiam continuar, citando ainda a maneira como Nando se move no palco, mas foram pequenas assimilações em que nada alteram o resultado do show. Recentemente, Reis se apresentou com um problema na garganta na Bahia, mas sua voz não comprometeu em nada a apresentação. Inclusive, o ruivo chegou a dar belos gritos, como no momento em que cantou versos de “Don`t Let Me Down”, dos Beatles.
Os fãs dos Titãs (ouso dizer que eram minoria absoluta) tiveram que se contentar com uma versão pouco modificada de “Igreja” e do clássico “Marvin”, que encerrou o show em grande estilo. A decisão de não pautar o repertório dos seus shows com as músicas da antiga banda é bem pertinente, afinal Nando Reis possui canções o suficiente para bolar um set list de respeito sem precisar revisitar os Titãs. No entanto, a impressão é que o repertório do show poderia ter sido melhor distribuído. Houveram momentos em que a reação do público foi bem morna por até duas músicas em sequência (outro agravante foi a longa demora de uma música para outra – por três vezes, o cantor resolveu interagir com o público. Sempre muito simpático, claro, mas com um papo maluco sobre a noite ser mais especial que as outras noites especiais – depois explicaram que era aniversário do baterista), enquanto a parte final do show contou com um clássico atrás do outro. Talvez o melhor fosse dividir os sucessos com as inéditas, mas acabou que “All-Star”, “Luz dos Olhos” (com um andamento reduzido e que deixou algumas pessoas perdidas para acompanhar a música. Também contou com um belo solo do baixista), “Para Você Guardei o Amor” (Nando Reis levou a música sozinho até a entrada da banda nas partes finais), “O Segundo Sol”, “Por Onde Andei”, “Do Seu Lado” (o momento em que o público mais se animou, previsivelmente) e “Relicário” foram parte de uma sequência matadora e arrancaram lágrimas das pessoas, além de um ensurdecedor coro que abafou a voz do cantor em diversos momentos.
Nando Reis fez o que sabe fazer melhor: conquistou o público com seu carisma e suas belas composições, especialmente aquelas gravadas por Cássia Eller, que até hoje parece entristecer demais o ex-baixista dos Titãs. Os mineiros voltaram para a casa com a certeza de terem visto um dos principais nomes da música nacional em ação, e mesmo que a apresentação não tenha sido perfeita, o simples fato de tem presenciado aquilo torna tudo especial e os erros viram pequenos detalhes.
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Foto: Rafael Vilela / SouBH