O mês de abril foi especial para muitas pessoas e das maneiras mais distintas. O principal motivo que tornou o quarto mês de 2012 inesquecível foi o Festival Lollapalooza, também conhecido como o show do Foo Fighters. Desde o Rock in Rio III, em 2001, o retorno de Dave Grohl e companhia era muito esperado no país. Toda a espera criou uma expectativa fora dos padrões e quem acompanha o que escrevo sobre cinema no Cinema de Buteco sabe o quanto a expectativa pode ser perigosa. De qualquer forma, não foi só de Foo Fighters e convidados que passei o mês. Houve momentos tão interessantes quanto, como um show inesquecível do mestre Bob Dylan, o retorno de Tupac em um Festival gringo, o Dinho Ouro-Preto destruindo várias músicas “clássicas” em um disco de “couves” e também uma bela homenagem das bandas alternativas para os fodões do Los Hermanos. A minha participação nas páginas laranjas nesta edição da coluna (Re) Descobrindo Sons será bem sucinta e objetiva, espero que meus sete leitores cativos (beijos para todos) não se sintam ofendidos por não perderem tanto tempo lendo sobre as minhas desventuras musicais. Prometo uma recompensa em breve.
Tive uma verdadeira overdose de Foo Fighters no começo do mês. Foi sem dó dos vizinhos. Colocava um disco atrás do outro com o volume estourado e de vez em quando mal dando para ouvir o som da caixinha, o que me faz relembrar que preciso comprar um home theater ou um rádio decente urgentemente. Meu sonho seria ser o exemplo de vizinho civilizado que acorda todo o bairro às 8h de um domingo com “Stacked Actors” ou “Bridge Burning”. Eu gostaria de morar perto de alguém assim, você não? A tensão crescia e como se não bastasse a tensão, ainda haviam os shows da América do Sul para serem assistidos pela internet. Ah, se eu pudesse voltar atrás… Com certeza teria evitado as três noites babando (uma combinação de saliva com cerveja) por conta do repertório. A apresentação no Chile foi histórica, arrisco dizer que talvez tenha sido a melhor da turnê sul-americana. O motivo? Era “inédito” e os chilenos estavam realmente empolgados. “Stacked Actors” com um trecho de “Feel a Good Hit For the Summer”, do Queens of the Stone Age, foi chocante. “Let it Die”, “Wheels”, “This is a Call” foram outros grandes momentos, mas nada superou o grito do público em “Arlandria”. O próprio Grohl pareceu realmente surpreso e disse que ninguém havia cantado daquela forma. Com um show sensacional daqueles, seria difícil acreditar que o Brasil faria feio.
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Mas apresentação dupla na Argentina me broxou. Aparentemente Grohl e cia haviam ensaiado não apenas as músicas, mas também as piadas. Sem nenhuma espontaneidade, o ex-baterista do Nirvana repetia as mesmas coisas ditas para os chilenos no show da Argentina. Mas com “Generator”, “Enough Space”, “Hey, Johnny Park!” e Grohl trocando de lugar com Taylor Hawkins durante “Cold Day in the Sun”, seria um erro prestar atenção apenas nisso. No Brasil seria diferente, claro que seria. Lembro que pouco antes de viajar para São Paulo, fiquei tão tenso que acabei exagerando um pouco no Absinto e liguei o meu baixo para fazer barulho. Com certeza meu “show” agradou muita gente aqui por perto. Então, finalmente naquele dia 7 de abril, eu e milhares de pessoas realizaríamos um grande sonho. Além daquela sensação de que tudo valeu a pena para chegar ali, acabei descobrindo que a internet e seus privilégios podiam ser um verdadeiro golpe cruel nas expectativas criadas. Pouco antes da banda subir ao palco e abrir o show com “All My Life” (o que me entristeceu seriamente, pois queria mesmo ouvir “Bridge Burning”) entendi o motivo que fez o Arctic Monkeys impedir a transmissão de seus shows via streaming. Enquanto lamentava que apenas o Pearl Jam e o Radiohead eram bandas capazes de surpreender o público na escolha do repertório, tentava observar o show pelo telão, quando era impossível usar uma trivela visual para desviar dos cabeçudos e conferir o palco. Ser baixinho é uma merda. Como se não bastasse sua namorada dizer que não pode andar de salto alto com você (doeu muito, viu?), ainda tem que pagar para ver o cabelo das pessoas. Grohl não fez cerimônias e nem disfarçou na hora de repetir a introdução de “Breakout” ao dedicar para os fãs antigos da banda (cara, fãs antigos? Sério?); na saída de palco para o bis (a brincadeira no telão foi muito engraçada no Chile e só); nas firulas; mas só faltou a enrolação na hora de tocar “These Days”, que foi limada do setlist. Ao meu redor, parecia que só eu havia assistido ao show do Chile e Argentina, já que todos estavam rindo de tudo. Senti que a ansiedade me sabotou. Meu “momento” foi quando tocaram “Generator” e a Força gritou que logo tocariam “Hey, Johnny Park!”, que além de ser uma das minhas favoritas, foi tocada colada com “Monkey Wrench”. Momento épico até mesmo para aqueles que estavam mais preocupados com uma boneca inflável promíscua que voava de mão em mão pelo público. O show acabou com “Everlong”. Pensei que poderia chorar, mas a ideia de que vi uma reprise de um programa muito amado estava me incomodando demais para me permitir viver aquele momento com toda a intensidade que imaginei que seria. Valeu a pena, claro, foi o show da minha vida, mas nunca mais irei cometer o erro de assistir uma apresentação pela internet antes de devorar o prato principal ao vivo. Mais do que nunca, Festival só vale a pena por conta da companhia dos amigos. Ter passado um tempo com aquelas pessoas que moram em outras cidades foi melhor que a maioria dos shows. Para quem quiser conferir o texto completo sobre o Lollapalooza, clique aqui.
Durante a viagem fui ouvindo muito Arctic Monkeys (o Suck and See é um disco incrível e que só melhora com o tempo), Cage the Elephant, Foster the People, Black Keys, Black Drawing Chalks e os malucos do Gogol Bordello. Como sou uma pessoa completamente avessa e contra os grandes Festivais, não deixei passar a oportunidade de ir assistir ao show solo da banda liderada por Eugene Hutz. Que maluquice foi aquela? O calor do Beco me fez lembrar da apresentação do Muse em 2008, quando voltei para casa com as calças molhadas (e não eram de urina, engraçadinhos). Todo mundo estava empolgado, cantando as músicas e se jogando completamente. O bom do Gogol Bordello é que você não precisa estar bêbado para apreciar a música ou se sentir um pouco alterado. O efeito maluco atinge todo mundo, independente de consumir alguma coisa ou não. O melhor de tudo foi reparar que Hutz usava a mesma roupa no Lollapalooza, dois dias depois. Nojento.
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Como era de se imaginar, com tantos shows na bagagem e acompanhado apenas do meu leal iPod (agora é meu único player, já que o GoGear faleceu) fiquei realmente preso nas músicas das bandas que participariam do Lollapalooza. Como resistir? Eu não consegui. Bem que me aproximei disso na semana seguinte, quando o show de Bob Dylan se aproximava. Tive a companhia especial da minha amiga Ivne Souza, de Vitória, para comprovar que panela velha que faz música boa. Ou algo do tipo. Dylan é muito criticado por trocar os arranjos originais de suas canções e deixar várias músicas irreconhecíveis, fora as críticas para a sua voz castigada pelo tempo. Pessoalmente, conforme escrevi na minha análise do show, ele só mostrou que é o mestre do esculacho, o “muso inspirador” do sujeito que escreveu “Sou Foda”, o senhor ding dim ding dim do rock. Ter a oportunidade de ouvir “Everlong” e “Like a Rolling Stone” no mesmo mês foi demais para o meu coração e a cada verso do refrão, com os olhos fechados, tão incrédulo quanto o próprio cantor, me juntei aos gritos frenéticos do público que estavam abafando até a banda. Um momento histórico e quem não foi, bem, se fodeu mesmo. Sinto muito pela sinceridade agressiva.
Para a coluna não ficar apenas focada nos shows, preciso elogiar a iniciativa dos responsáveis pela coletânea Re-Tratos, uma homenagem de vários cantores da cena independente nacional para os cariocas do Los Hermanos. Independente deles serem uns oportunistas com a atual turnê, a verdade é que foram importantes em vários sentidos para muita gente, especialmente para as bandas novas. É impossível ouvir o Cícero ou os mineiros do Transmissor e não perceber o mínimo de influência das composições de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante. Felizmente a homenagem ficou bonita e bem longe de ser apenas uma pagação de pau desnecessária. Dividida em dois volumes, vale ouvir com atenção as versões de “Conversa de Botas Batidas”, pelo Cícero; “O Velho e o Moço”, pelo Maglore; “Anna Julia”, pelo Velhas Virgens; e “Pois é”, pelo Transmissor. Seria exagero dizer que algumas músicas conseguiram ficar tão boas quanto as originais? O pecado ficou pela ousadia de tentar modificar “De Onde Vem a Calma”. Certas músicas não DEVEM ser tocadas em hipótese alguma e eu nem sou xiita com Los Hermanos.
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Gostaria de ter estômago para comentar sobre a tortura realizada pelo famigerado Dinho Ouro-Preto, que foi destemido e teve coragem de regravar “Time Is Running Out”, do Muse, em seu disco de covers. Se a cara de pau tivesse ficado por aí, tudo bem, uma terapia poderia me ajudar a superar o trauma, mas o cara ainda resolveu mexer com Leonard Cohen, Smiths, The Cure e uma porrada de músicas legais. Tenho certeza que a falta de respeito de Dinho influenciou diretamente na “ressurreição” do rapper Tupac no meio do Coachella, nos Estados Unidos. Para quem não sabe, o cara foi assassinado anos atrás numa emboscada digna de filmes do Vin Diesel (ou 50 Cent, para ficar mais no clima) e fez uma participação especial na apresentação do Snoop Dogg. Como? Não foi por conta de nenhum Pai de Santo do rap não, mas graças à uma avançada tecnologia que recriou o cantor em um holograma assustador. Fico pensando na reação do público que estava na grade. Como será que eles reagiram quando Tupac começou a surgir do chão? Sei que eu teria corrido atrás de um exorcista ou coisa parecida. O mês da (Re) Descobrindo Sons se encerra com esta. Até a próxima.
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Discos ouvidos:
Discografia completa do Foo Fighters
Super Taranta @Gogol Bordello
Suck and See @Arctic Monkeys
Brothers @Black Keys
El Camino @Black Keys
Best of @Al Green
Cage the Elephant @Cage the Elephant
Re-Tratos – Volume 1 @vários
Re-Tratos – Volume 2 @vários
Life is a Big Holiday for Us @Black Drawing Chalks
Lira @Lirinha
Sea Change @Beck
Torches @Foster the People
Thank You Happy Birthday @Cage the Elephant