Nos últimos anos não posso reclamar, fui a grandes shows: Coldplay, Michel Bublé, inclusive o da minha banda do coração, U2… Tive a oportunidade de ir ao Rock in Rio e ver bandas como Red Hot Chili Peppers, Snow Patrol, Coldplay novamente, mas nada, nada mesmo se compara a ver Paul McCartney ao vivo, ali, de carne e osso tocando seus grandes sucessos bem diante dos meus olhos.
Fui iniciada na música dos Beatles pelos meus pais que tinham discos da banda em casa e ouviam e comentavam sempre sobre o quarteto inglês. Fui aprendendo a gostar, escolhendo minhas canções favoritas (“Let it Be”, “Helter Skelter”, “Something”, “I Want To Hold Your Hand”) e aquelas de que todos parecem gostar, menos eu (“Yellow Submarine”, “Ob-la-di Ob-la-da”). Mas principalmente, fui me acostumando com a ideia de que só os teria ali mesmo, nos discos, CDs, documentários… afinal, a banda havia acabado há anos, John estava morto, depois veio a morte de George… E ver Paul, ao vivo, me parecia tão distante quanto a China.
Mas então, por uma daquelas razões que a própria razão parece desconhecer, Paul confirmou uma apresentação em São Paulo e, por uma questão de escolha entre guardar dinheiro para a possível, e quase certa, vinda do U2 (que se concretizaria, em abril do ano passado) ou ir ao show do Paul, com muita dor no coração, escolhi minha banda favorita e me convenci de que tudo bem, se ele havia vindo uma vez, era bem capaz de voltar, quem sabe daqui há 10 anos e, então, meu trabalho me desse dinheiro suficiente para não ser obrigada a fazer uma escolha tão cruel. Meses depois, nova surpresa, Paul resolve voltar e confirma show no Rio de Janeiro. E, mais uma vez, fiquei de fora. Dessa vez, por falta de ingresso. Parecia uma daquelas coisas de destino, não era para ser.
Mas eu estava enganada e sábado lá estava eu, longe de casa, no Recife, concretizando mais um sonho, assistindo mais um show daqueles para entrar para a história da minha vida como um dos grandes momentos vividos. Quando, britanicamente pontual, às 21h30 Paul subiu ao palco, aos primeiros acordes de “Magical Mystery Tour”, diante dos gritos e aplausos de fãs de todas as idades eu tentei, de alguma maneira, me manter com um olhar apurado, prestando atenção aos detalhes para a resenha, mas música a música, mostrando-se extremamente carismático e arranhando um português, com palavras como “povo arretado”, “pernambucanos” e “recifianos?” (sic) Paul vai lhe conquistando, lhe enredando e quando você percebe já foi totalmente tomado pela atmosfera do show. E olhando para as pessoas ao redor era visível o quanto aquilo acontecia com todos. Paul parece trazer uma certa nostalgia, tanto para os que viveram os anos 60, quanto para aqueles que só foram conhecer sua história e suas músicas anos mais tarde.
É como se cada um ali tivesse assistido a um show particular, só seu, mas seja na bolha que for – de ter ouvido boa música, de ter visto um mito tocando ao vivo, de ter revivido uma parte da vida ou ouvido aquela canção especial – a sensação de plenitude ao final, era, com certeza, comum a todos. E os sorrisos, comentários e murmúrios na fila do ônibus para voltar para casa/hotel deixaram claro que, quem pudesse, independente da idade, estaria ali novamente no dia seguinte. Eu, infelizmente não podia, mas não tenho dúvidas de que, no próximo, seja onde for, farei tudo novamente. Afinal ouvir e ver Paul tocando/cantando “Something”, “Blackbird”, “Let it Be”, “Yesterday” e “Helter Skelter” em uma única noite, não tem preço.
Desde o início ficou claro que Paul cantaria muito, mesmo não deixando de conversar com a plateia, muito mais em português do que estamos acostumados a ver em um artista internacional. Esbanjando simpatia, ele dançou, gesticulou e acenou para fãs. Inclusive quatro sortudas tiveram a chance de subir ao palco e ganhar abraços e autógrafos do ex-beatle que, apesar do calor não pareceu desanimar em nenhum momento. Aos quase 70 anos, fazer um show de 3h, com direito a mais de 30 músicas é de fazer inveja a muito cantor novinho por aí.
Como era de se esperar, o show foi bem dividido entre canções de sua carreira solo, dos Wings e, principalmente, dos Beatles. Todas, de qualquer uma das fases, acompanhadas em coro pelo público que, se deixassem, ficaria ali até o dia seguinte.
E, como não poderia deixar de ser, não faltaram os momentos de homenagem. Primeiro “My Valentine”, dedicada à sua atual esposa Nancy. Em seguida, ainda no piano, veio a homenagem a Linda, com “Maybe I’m Amazed”. Mais tarde, a homenagem aos companheiros. Sozinho no palco, acompanhado do violão, Paul dedicou “Here Today” a John Lennon e na hora de “Something”, (um dos vários momentos em que as lágrimas ameaçaram escorrer), imagens de George tomaram o telão, deixando a homenagem ainda mais emocionante.
Extremamente bem cuidado, os telões nas laterais e no fundo do palco se tornaram personagens do show, mostrando não apenas a banda, mas também imagens que dialogavam com as canções tocadas, como em “Lady Madonna” onde era possível ver fotos de diversas mulheres marcantes, de Lady Di a Madre Teresa de Calcutá, passando por Audrey Hepburn e Maria Ester Bueno, entre outras.
Como de costume, Paul voltou para o primeiro bis ao coro do Na Na Na de “Hey Jude” entoado pelo público. No segundo, agradeceu a plateia e, quando tocava “Golden Slumbers” no piano, começou a se despedir, prometendo, em português, não dizer tchau, mas até a próxima. O público que lotava o estádio do Arruda, em Recife, vindo de todos os cantos do país só pode esperar que possa ser em breve, muito breve.
E para terminar, um vídeo de um dos momentos, para mim, mais emocionantes do show e que vai ficar guardado pra sempre na memória, a homenagem ao George, com “Something”.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=VJgw6lM_sI8[/youtube]
Setlist
Magical Mystery Tour, Junior’s Farm, All My Loving, Jet, Got To Get You Into My Life, Sing The Changes, The Night Before, Let Me Roll It, Paperback Writer, Long and Winding Road, 1985, My Valentine, Maybe I’m Amazed, Things We Said Today, And I Love Her, Blackbird, Here Today, Dance Tonight, Mrs. Vanderbilt, Eleanor Rigby, Something, Band On The Run, Ob-La-Di, Ob-La-Da, Back In The USSR, I Got A Felling, A Day In The Life, Let It Be, Live And Let Die e Hey Jude.
Primeiro bis: Lady Madonna, Day Tripper e Get Back;
Segundo bis: Yesterday, Helter Skelter e Golden Slumbers / Carry That Weight / The End (medley).