A turnê Nívea Viva Elis colocou Maria Rita à frente de um perfeito espetáculo e também do desafio de interpretar as canções da mãe, Elis Regina. Há 30 anos, a cantora saiu de cena e marcou a história da música no Brasil com a perda de uma voz que até hoje é considerada uma das melhores da música popular brasileira ou simplesmente a maior dela. A apresentação aconteceu no Parque das Mangabeiras para uma plateia de aproximadamente 10 mil pessoas que reviveram cada momento da carreira de Elis em mais de duas horas de show.
Maria Rita em dez anos de carreira conquistou grande público, foi aclamada pela crítica e sempre foi classificada como umas das melhores cantoras da MPB contemporânea, além disso sempre teve seu nome relacionado ao de Elis e provavelmente por isso preferiu moldar sua carreira de outra forma e até então evitou gravar algo marcado na voz da mãe. A cada ano que se passava, a curiosidade das pessoas em relação à possíveis interpretações da cantora com as músicas de Elis era maior, até que a ideia do projeto Viva Elis surgiu e junto dele o espetáculo comandado por Maria.
Há quem diga que o show é considerado um tiro no pé e este certamente não entende a simples diferença entre cantar Elis em homenagem e querer ser ou imitá-la no palco. Algumas pessoas também não conseguem acreditar que a intenção de Maria Rita é apostar na homenagem à mãe e deixar cada vez mais viva a memória dela. Dar a cara para bater, mesmo que isso não a incomode e mesmo que as pessoas não entendam o objetivo da turnê, deixa nítido que ela é uma artista de muita coragem.
Maria Rita não é Elis, assim como nenhuma outra cantora será, mas o peso de ser sua filha traz esses momentos de críticas indesejáveis. Se alguém com competência e boa voz canta Elis, o povo aplaude e nem fala que o timbre do cantor em questão não chega perto do de Elis, mas basta Maria Rita abrir a boca para o imã da critica ficar forte e comentários muitas vezes impertinentes e sem fundamento começarem. Ouvir e ver Maria Rita nesse show e associar às performances de Elis é normal, pois há uma herança genética no meio de toda essa história. Comparação é inevitável, mas comentário infeliz é dispensável.
O show começou com a canção “Imagem” seguido de “Arrastão” e passeou por diversas fases da carreira de Elis em um bom set list que tinha canções de compositores como Tom Jobim, Gilberto Gil e Milton Nascimento. A plateia não ficava quieta nem quando a cantora se dirigia à ela para falar e se mostrou extremamente animada e extasiada com cada canção que seguia pelo set .
Em “Bolero de Satã”, o primeiro de vários bons momentos do show, os fãs deixaram o céu repleto de bolinhas de sabão com os tubos de brinde dados pela produção do evento e deixaram Maria surpresa que cantava a música de olhos fechados e no fim da canção se deparou com o parque decorado pelas bolinhas.
Destaque também para as canções “Querelas do Brasil”, “Vou deitar e Rolar”, “Saudosa Maloca” e “Me deixas Louca” onde Maria Rita mostrou toda a sua presença de palco, charme e simpatia característicos em seus shows, mas foi em “Menino” e “Onze Fitas” que a força de sua voz se manteve mais presente e a vontade de cantar era maior e a emoção explodia nos arranjos fortes de ambas as músicas.
As únicas queixas a respeito do espetáculo foram nas músicas “O que foi feito devera” e o “O bêbado e a equilibrista” que simplesmente perderam a sua força na voz de Maria Rita devido a mudança nos arranjos e não agradaram tanto quanto deveriam. Outro fator é que as vezes a cantora se mostra um pouco robótica nos movimentos no palco que parecem coreografados e executados exatamente como em apresentações que foram feitas há meses. Exemplo disso é a extinta turnê do samba meu e os seus numerosos registros no youtube que não deixam mentir.
O set também passou por sucessos como “Alô, Alô Marciano” e “Aprendendo a jogar” e terminou com “Maria Maria”, famosa na voz de Milton Nascimento. No bis, um momento de muita emoção aconteceu na interpretação de “Romaria” onde a cantora ficou bem emocionada e em alguns instantes colocava a plateia pra cantar enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. A apresentação terminou com “Redescobrir” e deixou a sensação de dever cumprido e “quero mais” por parte do público que sem dúvida alguma ficaria ali a noite inteira ouvindo e vendo o maravilhoso espetáculo que havia sido apresentado.
Maria Rita interpretou as músicas de Elis de forma segura, despretensiosa (mas certamente muito emocionante) e com muita sutileza, além disso, se divertiu no palco e interagiu bastante com o público. Para quem infelizmente achava que a Elis ia encarnar na cantora e cada movimento no palco seria idêntico, se decepcionou, pois Maria Rita provou que não precisa disso e que tem personalidade e talento suficientes para homenagear a mãe de forma sincera e deixar sua marca em cada um dos números apresentados. Viva Elis é um show que merece ser visto inúmeras vezes – uma pena ser apenas cinco shows – e que seria um presente maravilhoso para todos tê-lo registrado em um DVD.
1. Imagem
2. Arrastão
3. Como Nossos Pais
4. Vida de Bailarina
5. Bolero de Satã
6. Águas de Março
7. Saudosa Maloca
8. Agora Tá
9. Ladeira da Preguiça
10. Vou Deitar e Rolar
11. Querelas do Brasil
12. O Bêbado e a Equilibrista
13. Menino
14. Onze Fitas
15. Tatuagem
16. Me Deixas Louca
17. Essa Mulher
18. Se Eu Quiser Falar com Deus
19. Zazueira
20. Alô, Alô, Marciano
21. Aprendendo a Jogar
22. Doce de Pimenta
23. Morro Velho
24. O Que Foi Feito Devera
25. Maria Maria
Bis:
26. Fascinação
27. Romaria
28. Madalena
29. Redescobrir
Fotos: Nath Carazza e Beto Magalhães