Quais foram as músicas que vocês ouviram logo na entrada de 2012? Passei minha virada muito bem acompanhado e dividindo minha atenção entre as doses de absinto, as garrafas de Heineken, a televisão passando Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, e o Queens of the Stone Age quebrando o pau no som. Faziam anos desde a última vez que escutei um disco em um aparelho de som decente. A experiência foi sensacional. Geralmente sou meio apegado a certos detalhes e certamente, ter ouvido as minhas bandas favoritas durante a transição de um ano para o outro foi bem interessante. Gostei do momento de conciliar as melhores coisas da vida em uma única noite.
E quando você descobre que está no meio de colecionadores de todos os tipos? Se em 2010, quando eu iniciei a minha participação nas páginas laranjas do Audiograma, eu pensava que era um louco de gastar todo o meu salário com discos das bandas que eu mais gostava, hoje, dois anos depois, descubro que aquela compulsão era menos da metade do que posso observar no comportamento de outras pessoas tão próximas. Embora o papo aqui seja música, devo dizer que o Heitor Valadão, meu companheiro de redação no Cinema em Cena, possui uma coleção de Blu-rays com mais de 3000 títulos, incluindo aquelas edições raras e limitadas que os estúdios lançaram para agradar os fãs. O Renato Silveira, editor-chefe da página, é outro que tem uma coleção enorme. Pensava que não conhecia ninguém que tivesse uma paixão semelhante, mas que fosse voltada para a música. Ledo engano. Minha querida amiga Julia Goulart conseguiu encontrar a maioria dos lançamentos da banda Muse. Ela tem LPs, singles, caixas, livros, edições especiais dos discos de estúdio, enfim, ela tem (quase) tudo. Fiquei muito surpreso quando descobri – não que eu já não soubesse o quanto ela era doente com a banda, afinal ela foi em nada mais que nove shows da banda. Confesso que senti um alívio quando vi que o vício dela não se limitava à banda liderada por Matthew Bellamy. Haviam outros discos e edições especiais de outras bandas, como o The Suburbs, do Arcade Fire, em versão com as duas músicas extras e mais o curta-metragem dirigido por Spike Jonze. (vídeo MUITO interessante, por sinal)
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=5Euj9f3gdyM[/youtube]
Falei isso tudo sobre as coleções alheias para dizer que eu não sou compulsivo e que, embora tenha edições especiais de alguns filmes, os discos mais raros da minha coleção são as edições importadas de So Real, de Jeff Buckley (uma coletânea e os leitores mais antigos sabem como me sinto à respeito dessas edições); Mer de Noms, de A Perfect Circle; e a tríade sagrada de Bob Dylan: Highway 61 Revisited, Bringing It All Back Home e The Freewheelin` Bob Dylan. E partindo para outros campos, a coisa mais rara e “espetacular” que está no meu armário é a edição de capa dura e numerada com os três volumes de O Senhor dos Anéis. Ou seja, sou um fraco. Acho que preciso endoidar um pouco nas minhas ideias e sair comprando coisas obscuras e montar uma coleção bizarra.
Em janeiro economizei um pouco nas compras de discos. Ok. Eu ando fazendo isso há tempos, mas prometo não ficar com menos de 12 novos títulos na coleção. Em compensação, finalmente, adquiri a minha cópia de Quando os Gigantes Caminhavam, de Mick Wall. Por enquanto estou finalizando a leitura de Não Me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro, mas sei que não irá demorar muito para começar a devorar a biografia do Led Zeppelin. Esperei tempo demais para finalmente ter coragem de comprar o livro e na primeira oportunidade, não consegui deixar passar. Também resolvi retomar os velhos hábitos de frequentar shows de rock. Durante um final de semana inteiro, viajei de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro e fui conhecer o famoso Teatro Odisseia, na Lapa, também conhecido como o paraíso das pessoas bizarras e lindas da cidade maravilhosa.
Seria um crime ignorar que foi graças à discotecagem de Tomás Tróia, da banda R.Sigma, que conheci uma das músicas mais surreais da MPB brasileira. Conheci o trabalho do Kassin através do Los Hermanos e da Orquestra Imperial, em meados de 2005. Sabia que ele havia lançado um disco muito elogiado em 2011, mas não fazia a menor ideia do teor das letras e das canções, logo quando ouvi as primeiras notas de “Calça de Ginástica” pensei que se tratava de uma nova canção do Cansei de Ser Sexy ou alguma banda de funk inteligente. Tentei me esforçar para lembrar outra música que tivesse versos tão bizarros, mas foi tudo em vão. Dificilmente alguém irá superar “quero transar com você no banheiro de paraplégicos usando calça de ginástica” e a situação fica ainda mais engraçada para quem sabe uma das versões da “origem” da música: parece que o Kassin era vizinho de um político e sempre o via saindo de casa usando uma calça de ginástica. Até que passou a ter sonhos eróticos com o tal político.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=eAzQOUsK8oU[/youtube]
A minha amiga Julia (aquela mesmo que coleciona qualquer coisa do Muse, incluindo o balão usado durante “Plug in Baby” na turnê passada) insistia para que eu ouvisse o disco de um tal de Cícero (foto). Minha primeira impressão com o nome era horrível. Um babaca com o mesmo nome havia dado em cima de uma ex-namorada (aquela que me atormentava em 2010) e já que sou meio “mimado”, acabei tomando raiva do nome. De qualquer maneira, disse que ouviria quando chegasse a hora. Muito me surpreendia saber que a Julia, completamente off do cenário alternativo nacional, insistia para eu conhecer um cara com pegada MPB, Bossa-nova e Los Hermanos. Aquilo tudo deveria ser o suficiente para que eu baixasse o excelente Canções de Apartamento e descobrisse o que é que o Cícero tinha, mas ao invés de partir para o download, esperei por uma apresentação ao vivo.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=7DEb6gBcOO4[/youtube]
Da mesma maneira que aconteceu em 2007, quando conheci o Móveis Coloniais de Acaju em uma apresentação incendiária no Circo Voador, observar aquele rapaz tímido, de olhos fechados, calmamente acomodado num banquinho e tocando seu violão foi algo muito impactante. O Cícero é um daqueles artistas raros e que por mais que existam pessoas para criticar negativamente e apontar semelhanças com os Los Hermanos, nada é o bastante para diminuir o talento do cantor. Poucas vezes ouvi algo que fosse tão sincero e triste na música brasileira. As letras do disco capturam exatamente a sensação de frieza que a solidão transmite. Cícero fala do amor como se fosse gente grande e toca na alma daqueles que apreciam a melancolia como se fosse algo doce. Prestem atenção no trabalho desse cara.
O Black Keys lançou um trabalho lindo no ano passado e virou o meu atual disco de cabeceira (ou disco para transportes coletivos e também para frequentar a academia). Além de “Lonely Boy”, existem várias outras canções animadas e que tem o estranho poder de modificar os rumos do seu dia. A tal magia da música, saca? Impossível não criar expectativa para conferir a banda ao vivo. Fãs de Led, como eu, com certeza compartilharão orgasmos com “Little Black Submarines”.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=mpaPBCBjSVc[/youtube]“Tighten Up” não está em El Camino, mas o clipe dela merece sua atenção.
No mês que vem terei a oportunidade de conferir os shows de Mayer Hawthorne e Criolo, ambos no Circo Voador. Deixarei para comentar sobre o Criolo após o show, mas preciso adiantar um dos temas da próxima edição da coluna e dizer que desde que descobri o clipe de “The Walk”, o norte-americano Hawthorne virou um dos meus ídolos do começo do ano. Sei lá quanto a vocês, mas eu adoro uma música safada, daquelas que você coloca para tocar quando está acompanhado de uma bela garota em sua casa para um jantar e sabe que a situação irá ficar muito quente. Ele é exatamente assim, além de ter um humor sensacional para lidar com relacionamentos, que costuma ser o tema central da maioria de suas canções. Escutem acompanhados.
Acho que já falei demais para o começo do ano, né? Bom 2012 para todo mundo e que todo mundo tenha muita música boa (e nova) para (re)descobrir. E vamos começar nossa contagem regressiva para o show do Foo Fighters?
.
Discos Ouvidos:
– El Camino @Black Keys
– Canções de Apartamento @Cícero
– Efêmera @Tulipa Ruiz
– How Do You Do @Mayer Hawthorne
– I`m With You @Red Hot Chili Peppers
– Lira @Lirinha
– Live From Faraway Stables @Silverchair
– Lonely Avenue @Ben Folds e Nick Hornby
– Los Hermanos @Los Hermanos
– O Pensamento é um Imã @Vivendo do Ócio
– Nó na Orelha @Criolo
– Sea Change @Beck
– Tonight @Franz Ferdinand
– Thank You Happy Bityhday @Cage The Elephant