De todas as premiações musicais, não existe dúvidas (pelo menos pra mim) de que o Grammy é aquela que é vista como a de maior reconhecimento e prestígio, seja pela crítica, pelos artistas e também por seus fãs. A mais recente das listas de indicados, liberada nesta semana, chamou a minha atenção para um “pequeno” detalhe, também conhecido como Foo Fighters (foto).
Em uma era onde Autotune, Pro-Tools e outros itens tecnológicos dominam boa parte da cena musical, é raro encontrar um artista que se utiliza dos velhos meios de gravação e edição para criar uma música ou álbum. Com o avanço da tecnologia, ficou cada vez mais fácil gravar um bom álbum ou atingir o sucesso. São inúmeros os exemplos na história recente da música que se encaixam em um desses pontos e, por isso, posso poupar as citações, certo?
As grandes questões (na minha humilde opinião) de todo esse debate são: Até que ponto os recursos tecnológicos são capazes de mascarar a qualidade musical de determinado artista? Quem se arriscaria hoje em dia em usar meios analógicos de gravação?
O Foo Fighters arriscou. Apostou na sua qualidade musical, na força de suas composições e fez nascer o Wasting Light. Sem Autotune, sem Pró-Tools, só com os instrumentos, vozes, habilidades, um estúdio na garagem de Dave Grohl e os métodos “antigos” a disposição, a banda confiou em tudo isso, arriscou e entregou (novamente, na minha humilde opinião) o melhor álbum do ano o melhor álbum da banda na sua história o melhor álbum lançado por qualquer artista nos últimos 10 anos. E, mesmo que isso não seja reconhecido pelas premiações, a banda conseguiu algo mais importante. Conseguiu (ainda mais) respeito.
Podemos fazer um exercício e apontar nomes que se arriscariam como o Foo Fighters se arriscou. E eu já antecipo, são poucos. Atualmente, vale mais entregar um álbum “perfeitinho”, mas corrigido pelos recursos tecnológicos, do que entregar um álbum onde teve que se colocar a mão na massa e fazer todo o trabalho, inclusive corrigir os possíveis erros. O que antes se levava (longos) meses para se ficar pronto, agora leva na prática apenas algumas semanas. E, mais uma vez, são inúmeros os exemplos de artistas que gravaram um novo álbum em 15, 20 dias. E isso me faz lembrar da prática do Los Hermanos, que se isolava do mundo por um longo período e só saia de lá com o álbum pronto.
Antes que alguém diga, não vou ser hipócrita a ponto de relegar o Autotune e demais itens as profundezas do inferno. Assim como muitos, eu apenas acredito que o músico deve confiar muito mais no seu trabalho, na sua vocação e na sua qualidade para produzir uma música ou álbum do que nesse tipo de tecnologia.
Uma coisa é você corrigir imperfeições, outra é ser coadjuvante deste tipo de técnica. Por isso, digo que hoje ficou muito mais fácil fazer sucesso e, por causa disso, virei um profundo defensor da famosa frase de Fausto Silva: “Quem sabe faz ao vivo”. E, mais uma vez, nem é preciso gastar muito tempo para lembrar de nomes do cenário atual que usam os recursos tecnológicos como “muleta” para os seus trabalhos e como isso faz diferença no “ao vivo”. Isso só torna mais difícil separar “o joio do trigo”, se é que você me entende.
Pensando nisso, encerro este texto refazendo uma pergunta: Quem teria coragem, hoje em dia, de se arriscar sem utilizar esses recursos?