O Red Hot Chili Peppers chegou ao palco principal do Rock in Rio 3 no dia 21 de janeiro, um domingo. Tinham a difícil missão de superar o show do Silverchair (que o John Pereira falou aqui) e fazer o encerramento do mega-evento. Qualquer outra banda tremeria com essa responsabilidade, mas não a banda formada por Anthony Kiedis, Flea, Chad Smith e John Frusciante, que estavam terminando a turnê e gravando o material de By the Way, que seria lançado no ano seguinte. Eles conseguiram lidar com a situação de uma maneira bem adolescente e digna do começo da banda: encheram a cara e fizeram uma das apresentações mais desprezíveis do festival. Foram vários erros, longas pausas e aquela impressão de que a banda estava em outro planeta. De fato estava.
Aquele show começou com uma pequena improvisação de Flea para a abertura com “Around the World”. Frusciante estava deitado no chão e simulava uma relação sexual com a sua guitarra. O baterista era o único normal naquela altura, com Kiedis pulando de um lado para o outro, fazendo o que ele sempre fez. Flea improvisou de maneira feroz em boa parte das estrofes, assim como Frusciante, que estava literalmente babando com suas riffs do momento. Se Chad Smith não fosse um baterista sensacional, o show já teria descambado logo na primeira música. “Give it Away” veio na sequência e empolgou o público, mas isso é previsível. Quem conseguiria ficar parado com o Chili Peppers operando de uma maneira mais insana que o normal?
Pela televisão foi uma mistura de comédia trágica com pastelão conferir as expressões distantes e a ausência de comunicação da banda. Mais surpreendente ainda foi perceber que mesmo bêbados, o Chili Peppers mostra uma química de outro mundo, provavelmente do mesmo em que suas cabeças estavam naquele momento. “If You Have To Ask”, que veio logo após do super clássico “Suck My Kiss”, é uma clara demonstração disso. A banda brinca de fazer música e se diverte com saltos e ignorando quaisquer erros menores, que se tornam insignificantes. Pelo menos enquanto o show está aceitável.
Flea levou o público à loucura quando iniciou seu momento solo com a música “Pea”. Ele pode cantar mal à beça, mas que conseguiu agradar todo mundo, isso não há dúvidas. Já em “I Could Have Lied”, uma das melhores canções da carreira do RHCP, a coisa virou bagunça. Quando o Flea erra, você pode saber que a coisa não estava mesmo boa para o lado da banda. Para disfarçar os erros, a canção seguiu na cara dura. O excesso de caipirinha não atrapalhou na condução arrepiante de “Californication”, música responsável por elevar o Chili Peppers a uma das principais bandas de rock do mundo. “Under the Bridge” provou ser a canção mais famosa da banda, com boa parte do público cantando junto. E bem alto. Impossível ficar ouvindo sem esboçar reação nenhuma. Assim como o encerramento visceral com “Me & My Friends”, uma das músicas mais queridas dos fãs, que reforça o espírito de união e amizade da banda.
Depois da pausa para o descanso, ou glicose, a banda subiu no palco novamente. “Soul to Squeeze” estava tão arrastada que nem o baterista estava mais dando conta de segurar a onda. De repente a canção aumenta o andamento e fica “normal” de novo. Frusciante voltou um pouquinho melhor, embora não conseguisse ser capaz de disfarçar sua condição etílica. O show se aproximava do final, logo após a cover de “Search and Destroy”, e foi o começo de uma longa jam. Longa. Longa. E longa jam. Se foi boa ou não, assim como as opiniões sobre o show, só quem estava lá pode defender. Quem acompanhou de longe, pelo conforto do lar e depois de um show sensacional do Silverchair, com certeza não gostou muito.
O Red Hot Chili Peppers de 2011 é completamente diferente daquela banda que se apresentou de maneira frustrante no Rock in Rio 3. São mais 10 anos contabilizados na carreira e isso pesa bastante. Frusciante abandonou a barca e foi substituído pelo competente aprendiz Josh Klinghoffer, responsável pela gravação das guitarras do álbum I’m With You. Anthony Kiedis não é mais um garoto e não tem mais o corpo que tinha para ficar se comportando como um adolescente e bem, o Flea tem licença poética para fazer o que bem entender no palco, exceto ficar pelado.
Ainda que a ausência de Frusciante seja um peso, quando o Chili Peppers subir ao palco do Rock in Rio nesse sábado, não fará diferença: será um momento especial para a banda e todos aqueles que cresceram ouvindo os discos Blood Sugar Sex Magic e Californication. Será inesquecível especialmente para aqueles que decidiram se aventurar no mundo da música por conta da identificação com o maluco do Flea ou do Frusciante e nunca tiveram a chance de poder assistir uma apresentação da banda antes.
Eu sei que não sou o único nessa situação.