Nunca tinha me imaginado antes indo a um show do Restart e, salvo acontecimentos futuros, não me vejo voltando a outra apresentação da banda. Digo isso sem vergonha ou preconceito algum e, acredito eu, quem gosta da banda vai acabar me entendendo, caso leia o texto até o final. Então, como diria Jack, o Estripador, vamos por partes.
Quem me conhece sabe que, se tem algo no meio musical que não me agrada, procuro evitar ao máximo escrever sobre. Apesar disso, resolvi encarar a passagem do Restart por BH como um desafio, ao qual dei o nome carinhoso de “odisséia colorida”.
Casa bem cheia (ainda que não tenha atingido lotação máxima), noite de domingo, o Chevrolet Hall recebia mais uma vez o “fenômeno musical da atualidade” dentro do Happy Rock Sunday (que teve a abertura por conta da banda Done, só para efeito de registro). Hoje, são vários os fatores capazes de classificar o Restart como fenômeno. Podemos falar do carinho dos fãs com a banda – demonstrado por gritos ensurdecedores, cartazes, faixas e as já tradicionais calças coloridas; a boa vontade (e até paciência) dos diversos pais que acompanham os filhos nos shows, sabem as músicas e estão alí pela felicidade dos filhos e, porque não, pelos próprios integrantes que tentam demonstrar ou “devolver” um poucode tudo o que recebem todos os dias.
Claro que todo o marketing em torno da Restart contribui. A lojinha oficial vendendo diversos tipos de artigos relacionados a banda é só um exemplo de ações capazes de confirmar o Restart como fenômeno. Se musicalmente a banda não consegue me agradar – ainda que consiga soar, em alguns poucos momentos, melhor ao vivo do que em estúdio; é impossível negar o quanto o fenômeno já está inserido no meio musical brasileiro, doa a quem doer.
Gritos a cada gesto “diferente” e a cada frase “bonitinha” me fizeram encarar o show mais como uma performance dos integrantes, algo semelhante as “boy bands” do início dos anos 2000, do que um show de rock, como originalmente proposto. É um evento voltado para quem tem entre 12 e 17 anos e, ao fim de tudo, ficou claro para este que vos escreve o quanto é errado comparar o Restart com as bandas de rock… ou colocar tudo na mesmo saco. É um fenômeno adolescente, como vários outros que pudemos ver por aí ao longo dos anos. A diferença talvez seja que, diferentemente de antes, estão usando guitarras.
Ser visto como tal não é nenhum demérito para Pe Lanza, Koba, Pe Lu e Thomas, até porque os quatro levam público por onde passam e fazem a alegria deste público alvo, mesmo que do outro lado da “trincheira” existe um (grande) grupo de descontentes.
Desde a sua abertura – com imagens de diversos apresentadores de TV (Jô Soares, Xuxa, Faustão, Marília Gabriela, entre outros) falando da banda, a apresentação do Restart é uma sucessão de clichês que cumprem bem o seu objetivo. O abuso de luzes, o telão sempre com muitas cores, performances solo de cada um dos integrantes, o ato de pegar uma fã do público para levar ao palco e os tradicionais coraçõezinhos com as mãos agradam a quem está presente, escuta diariamente e procura, durante o show, registrar e guardar cada momento.
Enquanto Pe Lanza incorporava Michael Jackson durante uma versão de “Billie Jean” (com direito a ‘moonwalk’ e tudo) ou Thomas fazia seu solo de bateria (totalmente) inspirado em Matt Sorum e o Guns N’ Roses de 1992, pude perceber que tudo o que foi descrito aqui fez o Restart se tornar isso que é hoje. Podemos discutir as questões musicais, falar da qualidade de composição ou da influência que tudo isso causa em seu público, mas o quarteto otimiza a presença do marketing no cenário musical e isso tende a ser cada vez mais presente no cenário musical, goste você ou não.
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Fotos: Polly Rodrigues