O último dia nove de abril fez com que uma parte da população de Belo Horizonte que curte boa música tivessem um dilema interessante pela frente. Quase ao mesmo tempo, duas boas opções sonoras se apresentavam na cidade e, enquanto boa parte foi encarar algumas doses de clássicos no Mineirinho, fiz o caminho inverso e fui para o Chevrolet Hall curtir um pouco do que o novo festival de BH tinha a me oferecer.
Talvez a grande sacada do Via Nova Festival seja reunir duas atrações que, analisando de forma superficial, possuem muito pouco ou nada em comum. E assim foi em sua estreia com os shows da Pedra Letícia e do Móveis Coloniais de Acaju. Se por um lado eu já tinha visto a “big band” de Brasília algumas vezes, a Pedra Letícia ainda era uma novidade para mim.
Acredito que todo mundo já deve ter ouvido pelo menos uma criação dos goianos, mesmo que não tenha conhecimento de sua autoria. São mais de 25 milhões de acessos registrados até o momento no Youtube, tudo isso graças a uma divulgação massiva por parte dos fãs e de pessoas que acham engraçadas músicas como “Creuza”, “Teorema de Carlão” ou “Como que ocê pôde abandoná eu?”.
Mas é ao vivo que a banda realmente se revela e que todo o sucesso alcançado se justifica. Com um show animado, altas doses de humor e uma mescla de composições próprias com grandes sucessos (ou nem tanto assim) da música nacional, a Pedra Letícia é empolgação, rock e alegria do início ao fim.
Fazendo uma analogia até idiota (perdão), talvez a banda seja a única e verdadeira digna de ser definida no cenário musical pela alcunha de “happy rock”, tão usada atualmente para classificar certo estilo de bandas. A Pedra Letícia é um rock feliz na concepção literal do termo. Alegria, piada, ironia, altas doses de bom humor ao vivo e, tudo isso, aliado a um som de qualidade, que me surpreendeu ao longo da noite.
Aí veio o Móveis Coloniais de Acaju e, com eles, mais um show capaz de marcar aqueles que foram pela primeira ou pela centésima vez conferir a banda de perto. Salvo reações bem adversas, até hoje não encontrei alguém que não tivesse gostado de alguma apresentação da banda, ainda mais em Belo Horizonte, onde a sintonia banda-público chega a níveis que eu jamais vi com outros nomes nacionais e internacionais.
A qualidade ao vivo de músicas como “Copacabana”, “Perca Peso”, “Cão-Guia” ou “Lista de Casamento” te obrigam a cantar e dançar, mesmo que não queira. Ou, como no meu caso, a bater o pé no chão e cantarolar alguns trechos.
Não me lembro com exatidão quantas vezes já pude conferir a banda ao vivo, mas sempre saio com a sensação de que o Móveis é daquelas bandas que se enquadra na história do “bom vinho” e melhora a cada vez que vejo.
Para um público pequeno, mas incrivelmente animado, o saldo do Via Nova Festival é bem positivo. É interessante ver novos nomes da música nacional utilizando uma estrutura que é tida como a melhor de Belo Horizonte. Tudo isso é capaz de credenciar o evento para novas edições e atrair mais o público da capital mineira, desde que não tenha algo clássico para dividir as atenções em outro local.
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Fotos: Polly Rodrigues