Após um certo “incômodo” com as críticas direcionadas ao álbum Rattle and Hum, o U2 recorreu à dupla produtora de sucesso, Daniel Lanois e Brian Eno, além da edição de Mark Flood, para fazer um dos melhores discos da banda: Achtung Baby. A estratégia não apenas deu certo como também mudou a cara do quarteto irlandês, culminando em uma das maiores turnês de sua carreira, The Zoo TV Tour.
Em um estúdio de Berlim, em plena reunificação alemã com a queda do muro, o clima frio, em ambos os sentidos, não impediu que a gravação fosse feita por lá, ao contrário, a temática em torno incentivou-os ainda mais.
No entanto, uma tensão começou logo no início das gravações: foi nesse período que o U2 quase se desfez. Isso aconteceu após uma briga entre Bono e Daniel Lois. Os dois escreviam Mysterious Ways quando começaram a discutir e quase chegaram às vias de fato. A briga abalou todos os envolvidos, a ponto de dar um tempo nas gravações para aproveitarem o final do ano de 1990 na companhia de suas famílias e compensar todo o estresse. Ao voltarem à Berlim, com os nervos em ordem e One na bagagem, a banda e seus produtores começaram a dar forma àquela que seria a quebra de uma ordem, o rock deveria tomar outra forma, as canções não tocariam o coração humano, mas o seu fígado.
A intenção de “abraçar e destruir” o mundo ficou evidente ao tratar de temas sensíveis como a perda do amor, traição, ciúme e solidão contrastando com a ironia ao abordar falta de caráter e de esperança, a satisfação momentânea, hipocrisia, sexualidade, tudo com o fundo religioso do U2 que conhecemos.
As letras se encaixam deliciosamente com a sonoridade brilhante das guitarras distorcidas de The Edge, que buscou inspiração em diversas bandas industriais recém-formadas na ocasião, uma delas bastante conhecida por nós, o Nine Inch Nails. O restante do conjunto também não decepciona, como a velocidade e a força da bateria de Mullen Jr., a sintonia do baixo de Adam Clayton, que também esqueceu sua timidez ao ser fotografado por Anton Corbijn, resultando no censurado nu frontal presente na contra-capa da obra-prima, e, por fim, a rouquidão providencial de Bono, que, com gritos, sussuros e gemidos, esquenta as faixas dançantes de um dos mais premiados trabalhos da banda irlandesa.
A tecnologia utilizada no álbum nem de longe revelou o que se tornaria a exagerada turnê Zoo TV, uma das mais modernas para a época, além de clipes perturbadores como o de Even Better Than The Real Thing.
Aclamado pela crítica europeia, norte-americana e mundial, o sétimo disco do U2 causou a ruptura dos trabalhos até então realizados pelos irlandeses, sendo o preferido por muitos fãs como eu. O mais recente feito do Achtung Baby foi ter sido escolhido por leitores da revista norte-americana Spin, em sua edição especial de aniversário, como o melhor álbum dos últimos 25 anos, ultrapassando grandes nomes como The Smiths, com The Queen Is Dead, Nirvana, Nevermind, e o Radiohead, com OK Computer.
E, para matar a saudade dos que estiveram lá, ou deixar a boca cheia d’água de quem nunca mais verá algo parecido, segue o início da turnê Zoo TV, com Zoo Station, música de abertura desse excelente disco:
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fMneYa8gJBY[/youtube]
Achtung Baby
Faixas
Zoo Station
Even Better Than the Real Thing
One
Until the End of the World
Who’s Gonna Ride Your Wild Horses
So Cruel
The Fly
Mysterious Ways
Tryin’ to Throw Your Arms Around the World
Ultraviolet (Light My Way)
Acrobat
Love Is Blindness
Produtor: Daniel Lanois and Brian Eno
Estúdio: Berlin’s Hansa Studios: Berlim, Alemanha
1991 Island Records, Inc.
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Por: Liliane Rodrigues