Um dos momentos mais felizes para mim é aquele em que se pode estar próximo ao seu ídolo, mesmo com a diferença de uma grade, alguns seguranças e uma altura de dois metros. O show é o momento máximo da integração artista-fã e o Vertigo Tour foi para mim um dos mais importantes.
Na época trabalhava em horário comercial num lugar bem distante do estádio do Morumbi, em São Paulo. Mas nada como sair do trabalho ao meio dia, sem dizer ao chefe aonde exatamente iria, com a certeza de que estava fazendo a coisa certa.
A sensação parecia com a de ir para um matadouro: coração a mil, expectativa no auge e a torcida para que tudo pudesse dar certo. Era como ir a um encontro com alguém querido, mas nunca antes visto.
Chegamos lá com a mamata de entrar no meio da fila, graças ao casal amigo que havia chegado bem antes do que nós. Logo os portões foram abertos. Muitas etapas para a checagem dos ingressos, revista e mais algumas coisas: correria.
Ao chegar na área aberta do estádio, dei de cara com o palco. O sonho estava realizado: estávamos na hot area. Comemoramos como crianças de 20, 24, 27, 30 anos de idade.
Fãs do U2 são como amigos de muitos anos, era impressionante a simpatia de todos ao redor. Conheci muitas pessoas de vários lugares do Brasil: mineiros, pernambucanos, cariocas, até atrizes globais, além daqueles que estavam lá, mas que conheci algum tempo depois.
Depois de muitas horas, muitas conversas, muito calor, pouca água e nenhuma encrenca, eis que chega Franz Ferdinand, até então só conhecido por alto, de tanto que uma amiga falava.
Lógico que, apesar das reclamações ao redor de desconhecedores da banda de Glasgow, foi amor/paixão/tesão a primeira vista e lá estava eu, praticamente íntima daqueles escoceses. Após o desempenho de Alex Kapranos e cia., setenta e oito minutos intermináveis e as luzes se apagaram.
Quando Wake Up, do tão maravilhoso quanto Arcade Fire, começou a tocar, já não estava conseguindo respirar mais na grade da lateral esquerda. E lá vieram eles, eu não sabia mais o que sentia.
O show foi transmitido em rede nacional pela TV Globo, isso fez com que Bono fosse um pouco mais politicamente correto do que de costume, ou quase, ao mencionar todos os países da América do Sul e receber uma tremenda vaia quando gritou “Argentina”. Na hora ele nem mesmo entendeu.
Do lugar em que eu estava na grade, Adam Clayton dedilhava seu baixo com perfeição, compensando as poucas aparições de Bono no lado esquerdo.
O show inteiro provocou arrepios incessantes e assim foi até o final, com algumas decepções, como a falta de algumas ótimas canções que faziam parte da turnê como Miracle Drug, Bad e All I Want is You e alguns momentos máximos, como ser levantada e chorar incontrolavelmente em Where the Streets Have no Name.
Tive também o meu momento Zoo TV em Until the End of the World, com direito a rodar a camiseta no ar, como Bono fez no ano de 1994 em Sidney, Austrália.
Talvez muitos achem um exagero tantas emoções e um pouco de dramaticidade da minha parte, mas tenho a mesma certeza de que quem estava lá naquela noite de 20 de fevereiro de 2006, nunca vai se esquecer daquela imensa lua, do coro ensurdecedor e das luzes ofuscantes daquele palco.