O canadense Mac DeMarco se estabeleceu nos últimos anos como um dos grandes nomes da cena alternativa internacional; seja pela sua sonoridade com linhas de guitarras cheias de distorções e sintetizadores, ou pelas suas performances empolgantes ao vivo, o cantor se tornou um verdadeiro astro nesse nicho. Por esse motivo, Here Comes the Cowboy, seu sexto álbum de estúdio, era um dos lançamentos mais esperados de 2019.
Após uma sequência de trabalhos em um curto período de tempo (foram um total de cinco discos lançados em seis anos), Mac parece estar se cansando desse ritmo mais agitado. O primeiro sinal disso foi a recente criação de sua própria gravadora, a Mac’s Record Label, trazendo assim mais autonomia não apenas em relação ao seu período de criação entre uma obra e outra mas também ao processo em si. Outro ponto foram as declarações vindas do próprio DeMarco em entrevistas que o mesmo descreve a sua atual rotina após ter se mudado com a sua namorada para Los Angeles, muito mais tranquila e com um certo isolamento.
Por esses motivos, não é de se surpreender que Here Comes the Cowboy venha com uma estética mais minimalista, com poucos elementos habitando nas suas melodias; além disso, as composições vem com uma perspectiva bastante pessoal, assim como em seu álbum anterior, This Old Dog (2017). Entretanto, esse aspecto mais introspectivo na sonoridade do novo disco faz dele algo diferente dos outros trabalhos de Mac.
Here Comes the Cowboy na maior parte do tempo foca nas composições e se constrói por arranjos mais delicados, em um tempo mais lento. A faixa de abertura inicia o álbum repetindo a frase que dá nome ao disco, deixando claro que o “cowboy” aqui é o eu lírico que representa Mac, procurando por paz de espirito. “Nobody” também confirma essa narrativa, com versos que demonstram uma crise existencial vindo de DeMarco (“I’m a fixture/A split decision/A pretty picture/A superstition”).
“Finally Alone” é disparadamente a melhor canção do álbum, com ganchos bem encaixados e um refrão em coro que remete a um dos grandes sucessos de Mac, “Salad Days”, mas com o ritmo mais cadenciado que habita Here Comes the Cowboy. Outras faixas que merecem destaque são “Heart to Heart”, uma homenagem à Mac Miller, rapper que faleceu ano passado e era um grande amigo de DeMarco, e “On The Square”, música reflexiva que faz uso de arranjos mais densos de sintetizadores, fugindo da estética minimalista do trabalho.
À partir daí, pode-se dizer que Here Comes the Cowboy é tranquilamente o álbum mais fraco já lançado por DeMarco; toda a sua produção mostra que o disco não foi bem pensado na hora de ser concebido, com melodias que soam preguiçosas e entediantes. A estratégia de fazer uma sonoridade com linhas instrumentais de pouca presença poderia funcionar se ele tivesse composto letras mais interessantes, algo que não ocorre aqui. “Choo Choo” e “Hey Cowgirl” são os maiores exemplos disso, com uma aparente falta de criatividade e a insistência em versos não tão elaborados (“Choo choo, take a ride with me/Choo choo, come and die with me”).
Here Comes the Cowboy é inconsistente e não condiz com a qualidade como artista que Mac DeMarco já demonstrou ter. A fuga do estilo de vida caótico que o cantor estava acostumado pode ajudar nos próximos trabalhos, mas ele precisa entender que diversos álbuns lançados em um curto espaço de tempo podem acarretar em um esgotamento de criatividade. Fica a expectativa então pra que Mac volte a acertar a mão nas suas obras, utilizando de todo o seu potencial.
Mac DeMarco – Here Comes the Cowboy
Lançamento: 10 de maio de 2019
Gravadora: Mac’s Record Label
Gênero: Indie rock, lo-fi
Produção: Mac DeMarco
Faixas:
01. Here Comes the Cowboy
02. Nobody
03. Finally Alone
04. Little Dogs March
05. Preoccupied
06. Choo Choo
07. K
08. Heart to Heart
09. Hey Cowgirl
10. On the Square
11. All of Our Yesterdays
12. Skyless Moon
13. Baby Bye Bye