Quais foram os melhores álbuns lançados em abril?
A nossa lista com alguns dos destaques do mês recém finalizado chegou e, dessa vez, selecionamos quase quarenta trabalhos nacionais e internacionais que resumem bem o quarto mês do ano. Como de costume, incluímos uma mini-resenha sobre cada um deles para explicar os motivos que os credenciam para essa seleção.
Do pop bem feito da Lizzo ao post-rock do FONTAINES D.C., passando pelas novidades de Anitta, Black Alien, George Benson, MARINA, Odair José e The Chemical Brothers, você confere abaixo a nossa lista com os 37 álbuns lançados em abril que você deveria ouvir.
Divirta-se!
# Designer, da Aldous Harding
Em seu terceiro álbum de estúdio, a neozelandesa Aldous Harding é de um talento especial. Com nove faixas, Designer chega para comprovar que todo o sucesso obtido pela cantora com o álbum Party (2017) não foi por acaso. Ainda mais interessante, a novidade é bem detalhista em sua sonoridade, um indie folk gostoso de ouvir e que casa perfeitamente com a voz ora tranquila, ora marcante de Aldous. Vale também destacar as linhas de baixo que marcam o álbum do início ao fim. [JP]
# Ventura, do Anderson .Paak
Leia a nossa resenha completa!
Apesar de não ser o trabalho mais brilhante de Anderson .Paak, Ventura não deixa de exibir algumas das características mais interessantes do rapper; sua voz impecável, e a capacidade de transformar o clássico em algo novo e atraente ainda estão aqui em alguns momentos. Sendo assim, apesar de alguns defeitos, vale a pena dar uma chance ao álbum e ser ainda mais convencido do talento de Anderson. [RS]
# Kisses, da Anitta
Veja os dez clipes lançados por Anitta para o álbum Kisses!
Por mais que as críticas em relação ao Kisses, da Anitta, tenham sido mistas, o álbum está longe de ser ruim. Para muitos, pode soar genérico. Porém precisamos lembrar que a cantora está apostando suas fichas em sua carreira internacional e este não é o momento de se fazer um trabalho alternativo e intimista. Com múltiplas participações, que transitam entre diversos gêneros, a cantora mostra que veio para ficar e que é ela quem dita as regras da sua sonoridade, não os críticos. [YC]
# Coração Fantasma [EP], do Baleia
O terceiro álbum de estúdio da banda Baleia, chega de mansinho à rede. Experimentando novas formas de divulgação, Coração Fantasma é essencialmente um disco vivo, que ainda está em processo de criação — a banda apresenta as inéditas ao vivo e o público dá o feedback, contribuindo com a montagem do álbum. Até o momento, Coração Fantasma conta com dois capítulos, contendo três músicas cada: “Eu Estou Aqui”, “A Mesma Canção” e “Lulu”, do capítulo I, lançado em 2018. “Duelo Fantasma (Epílogo Sórdido)”, “Tudo Falta, Você Sobra” e “Eu Mal Estou Aqui”, com a participação do trio Tuyo e piano de Vítor Araújo, estão no capítulo II, divulgado em abril. [BS]
# Abaixo de Zero: Hello Hell, do Black Alien
Ex-Planet Hemp, Black Alien deu uma boa sacudida no hip hop brasileiro com seu primeiro registro solo, Babylon By Gus Vol. 1 – O Ano do Macaco, em 2004. Foi um álbum que marcou demais, divisor de águas e que influencia muita gente até hoje, com letras românticas, zilhões de referências inteligentíssimas e versos que parecem verdadeiras crônicas retratando a vida real de um jeito tão pessoal e malandramente carioca que só ele tem. O segundo, No Princípio Era o Verbo – Babylon by Gus, Vol. II, só veio 11 anos depois, rodeado de expectativas pelo retorno de Gus aos palcos; e o terceiro, para nossa alegria, não demorou tanto assim e chegou agora, com 4 anos de intervalo. Abaixo de Zero: Hello Hell, mantém o forte sotaque e estilo carioca de Black Alien (que ele não perde, mesmo depois de 20 anos morando em São Paulo), com flow e fôlego impressionantes, letras mais ácidas (“País das fake news”, de “Take Ten”) e som de jazz. Continuam as rimas geniais, a autobiografia, a filosofia, contemplação, reflexão e referências. Mas vem também mais maturidade, autoconhecimento, experiência, autocrítica e desabafos sobre a luta contra as drogas, um dia de cada vez, sempre em movimento, caindo e levantando, recomeçando (“Baby, o tempo é rei”, de “Carta Pra Amy”), mas sem ser chato e moralista. Nos volumes I e II, Black Alien observava o mundo à sua volta. Agora, ele observa a si mesmo. Sem participações, sóbrio, mais lúcido do que nunca, sem firulas, se olhando no espelho sem medo, buscando ser sua melhor versão, se cuidar e sobreviver (“Hoje cedo no Muay Thay de manhã. Em outros tempos só Deus sabe onde ia estar de manhã”, de “Take Ten”). Esse disco só veio pra reafirmar o que a gente já sabia: o cara é disparado um dos melhores rappers do mundo. [BM]
# Social Cues, do Cage the Elephant
O novo álbum do grupo americano com cara de inglês abre com uma pegada bem oitentista e pós-punk, guitarra marcada e aguda que lembra New Order, Smiths e Cure, algo bem diferente do hit que levou a banda ao estrelato em 2008, “Ain’t No Rest for the Wicked”, que era a cara do indie/folk que dominaria os festivais, trilhas de propagandas e paradas de sucesso por anos. Do primeiro para o quinto álbum, o Cage The Elephant mudou bastante. Até a capa de Social Cues parece saída da época entre o final dos anos de 1970 e o começo de 1980, com estética kitsch. O disco é bem fluido, com as músicas seguindo muito bem amarradas e uma atmosfera tranquila. Tão relax que no meio do disco chega uma faixa muito influenciada pelo dub jamaicano e com participação especial de Beck – que foi muito bem acertada, aliás. No geral, o álbum é mais introspectivo e melancólico, mas isso não deixa a atmosfera caída. As músicas têm boa pegada e algumas são até dançantes, bem cadenciadas. Só são mais homogêneas e menos enérgicas, com exceção de “House of Glass”, que lembra os hinos britânicos do indie do começo dos anos 2000, como Franz Ferdinand, e é mais agressiva. [BM]
# The Balance, do Catfish And The Bottlemen
Em seu terceiro álbum de estúdio, o Catfish And The Bottlemen resolveu abraçar de vez a sua sonoridade sem abrir qualquer espaço para novidades. O resultado é um álbum onde a gente tem a sensação de que a banda faz exatamente a mesma coisa desde a sua estreia, com o The Balcony (2014). Ainda que o novo álbum tenha músicas boas e totalmente capazes de animar um estádio cheio, o The Balance mostra que Van McCann e companhia encontraram a sua zona de conforto e, ao que tudo indica, não pretendem sair dela tão cedo. [JP]
# A Rock Supreme, do Danko Jones
Assim como o Catfish And The Bottlemen, você sabe exatamente o que vai encontrar em um novo álbum do Danko Jones. Em seu nono álbum de estúdio, A Rock Supreme, o trio entrega o seu hard rock honesto, bem feito e de letras simples, sempre acompanhados com grandes riffs e boas músicas para cantar junto. Bons exemplos disso são as músicas “I’m In A Band”, faixa que abre o álbum, “Party” e “Burn In Hell”. [JP]
# Dogrel, do FONTAINES D.C.
Ainda que o streaming tenha tomado conta da minha vida, eu ainda mantenho o hábito de procurar artistas que estão sendo comentados por aí para ouvir. Nas buscas desse mês, acabei me deparando com os irlandeses do FONTAINES D.C., uma banda que mescla punk rock, indie rock e post punk. Eles lançaram no mês o seu primeiro álbum, Dogrel, e o trabalho tava recebendo diversas notas positivas por aí. Ao ouvir o trabalho de onze faixas, eu entendi o motivo: falando sobre a sociedade atual, a banda mostra composições de qualidade, além de um conjunto de melodias bem interessantes. Simplesmente incrível! [JP]
# Happy Now, do Gang Of Four
O seminal grupo inglês só conta, hoje, com um integrante original: o guitarrista e compositor Andy Gill, que sempre foi a cabeça da banda. Talvez por isso a identidade tão forte que o Gang of Four mostrou pro mundo quando começou, no final dos anos 70, continue firme sem perder relevância e essência. Eles tocaram no Brasil no final de 2018 e já mostraram algumas músicas que fariam parte deste novo álbum, coerentes com o resto do trabalho da banda, mesmo depois de tanto tempo. Continuam muito politizados e vanguardistas, misturando punk rock com funk e dub e fazendo shows incríveis que quem vai nunca esquece. Acho eles muito mais legais ao vivo, mas o registro vale para mostrar o quanto Andy está entrosado com os integrantes mais novos – o excelente vocalista John Sterry, que vira um maluco no palco; o baixista Thomas McNeice, que nunca para de dançar e tem um ritmo absurdo, e o baterista Tobias Humble. Mas as músicas novas são paradonas demais pro meu gosto (pelo menos na versão gravada) e o disco é mais pós-punk industrial anos 80 do que o punk cru agressivo, pesado e intenso que marca os álbuns clássicos do Gang of Four (Entertainment! e Solid Gold são obrigatórios). Por isso, gostei mais do último EP deles, Complicit, lançado no ano passado e um pouco mais enérgico do que Happy Now. Acho que faltou um pouco de pegada. [BM]
# Walking to New Orleans, do George Benson
Um dos maiores guitarristas de jazz da história, George Benson nos brindou em abril com o seu 45º álbum de estúdio. Em Walking To New Orleans, Benson presta uma homenagem para outras duas lendas da música: Chuck Berry e Fats Domino. Com dez faixas, George repassa faixas gravadas pela dupla de uma forma única, entregando interpretações tão incríveis quanto as originais. Cercado de um time de qualidade e com produção de Kevin Shirley, o resultado não poderia ser outro. [JP]
# The Wild Willing, do Glen Hansard
Um álbum sobre relações humanas e repleto de camadas interessantes. Essa talvez seja a melhor forma de definir o quarto álbum solo de estúdio de Glen Hansard. Com doze faixas, The Wild Willing evidencia todos os ganhos e as perdas que se tem com qualquer relação pessoal, seja familiar, amizades ou amorosa, sempre com uma melodia envolvente e, muitas vezes, surpreendente. Músicas como “Who’s Gonna Be Your Baby Now”, “Brother’s Keeper” e “I’ll Be You, Be Me” mostram uma evolução de Glen quando muitos já achavam que ele não poderia se superar. Se não for o melhor, é um dos melhores trabalhos do irlandês até hoje. [JP]
# Jade Bird, da Jade Bird
Uma inglesinha franzina e baixinha que só tem 21 anos mas que no palco se torna gigante: essa é Jade Bird. O que ela tem de cabelo, tem de talento. A primeira vez que a ouvi foi num vídeo ao vivo e meu queixo caiu. Fiquei tão embasbacada que dei replay umas 5 vezes e depois disso nunca mais parei de ouvir. Agora, ela finalmente tem um álbum completo e homônimo para chamar de seu, misturando country, folk, indie, blues e pop – continuando com muita coerência o trabalho do seu primeiro EP, Something American, de 2017. Ela tem uma pegada crua e meio retrô, voz rouca e rasgada e violão de aço. Suas músicas são enérgicas, intensas, têm letras espertas e um estilo de cantar visceral, sofrido, com refrões fortes gritados como um lamento ou desabafo de quem tem alma velha e muita experiência pra contar, apesar da pouca idade. Pode lembrar até a Janis Joplin em alguns momentos, mas o forte sotaque britânico não a deixa negar as origens e sua forte personalidade. Também me alegra muito ver uma mulher instrumentista no holofote porque, além de cantar, Jade toca muito bem e compõe todas as suas músicas. Isso faz com que esse disco de estreia chegue cheio de identidade própria e força. Acho que podemos esperar grandes coisas dela. [BM]
# Não Há Abismo Em Que O Brasil Caiba, do Jorge Mautner
O primeiro álbum de inéditas de Jorge Mautner em treze anos é emblemático. Como o próprio nome já entrega, Não Há Abismo Em Que O Brasil Caiba é um retrato da situação atual do país. Com elementos que passam por diversos gêneros e elementos, o álbum é belo e te surpreende ao longo de suas catorze faixas. Tem rock, tem afoxé, tem trechos bíblicos, versos declamados, música que leva o nome de Marielle Franco, faixas que nos deixam com esperança de dias melhores e outras que evidenciam o momento perturbador no qual vivemos. Dizem que são nos momentos ruins que a arte é capaz de aflorar e, provavelmente, olharemos para esse álbum de Jorge Mautner no futuro da mesma forma que olhamos para alguns marcos musicais do passado. [JP]
# Blood, da Kelsey Lu
A norte-americana Kelsey Lu preparou bem o terreno para o seu álbum de estreia. Presente no circuito desde 2016, quando lançou o EP Church, a cantora veio lançando singles soltos e colaborações com nomes como Blood Orange ou Solange enquanto preparava o seu registro. Com treze faixas, Blood é daqueles álbuns que provocam uma imersão do ouvinte ao longo de sua audição, ainda que ele apresente algumas faixas que acabam “escorregando” no conjunto da obra. Mesmo assim, qualquer desigualdade que possa ser apontada acaba sendo compensada por músicas incríveis como “Due West”, faixa que seria adorada por 9 em cada 10 fãs de certas cantoras, “Poor Fake” ou “Foreign Car”. Apenas ouça, preste atenção e se entregue! [JP]
# ARIZONA BABY, do Kevin Abstract
Após cinco trabalhos e uma escalada rumo ao mainstream como a mente criativa do BROCKHAMPTON, era hora de Kevin Abstract buscar novos voos solos. Em seu segundo álbum (ou terceiro, se contarmos o MTV1987), Kevin dá exemplos de seus flows interessantes e mostra uma sinceridade e intimidade que transformam o registro ao longo de suas 11 faixas. ARIZONA BABY é mais um bom exemplo de uma mente criativa e músicas como “Georgia”, “Big Wheels”, “Joyride” e “American Problem” comprovam isso. [JP]
# Free Spirit, do Khalid
Khalid enfrentou de frente a missão de gravar um segundo álbum e corresponder todas as expectativas criadas em torno dele e, em linhas gerais, podemos dizer que o resultado ficou na média. Ao longo de suas 17 faixas, Free Spirit mostra bons momentos de um jovem que tem tudo para se tornar um dos grandes nomes do R&B. No entanto, o novo álbum é bem irregular – tem músicas muito boas acompanhadas de outras descartáveis – e parece pensado mais em conquistar o grande público do que qualquer outra coisa. Se no American Teen o trabalho era muito mais do que o seu hit “Location”, o novo álbum soa até previsível demais em algumas faixas. Free Spirit está longe de ser ruim, mas nos deixa a sensação de que Khalid poderia fazer mais. [JP]
# Reckless & Me, do Kiefer Sutherland
Tem momentos que nos pegam de surpresa e, quase no fim do mês, Kiefer Sutherland lançou o seu segundo álbum de estúdio, Reckless & Me. Ao longo de dez faixas, o eterno Jack Bauer de 24 Horas mostra que é bom também em contar histórias. Sem parecer pretensioso, o álbum entrega melodias bem interessantes e que foram construídas ao lado do produtor Jude Cole. Se alguém aí acredita em maldição do segundo álbum, saiba que Kiefer se livrou dela e entregou um resultado melhor que o de sua estreia. Afinal, não seria isso que iria assustar o grande Jack Bauer, não é? [JP]
# Fishing For Fishies, do King Gizzard & The Lizard Wizard
Os australianos do King Gizzard & The Lizard Wizard estão de volta com o seu décimo quarto álbum de estúdio. Com nove faixas, Fishing For Fishies é um álbum extremamente criativo e livre de qualquer amarra que pudesse prender a banda. O resultado é um blues rock de incrível qualidade, o que não é nenhuma novidade na longa carreira da banda, não é mesmo? [JP]
# Cuz I Love You, da Lizzo
Se a Lizzo ainda precisava provar algo para alguém, Cuz I Love You cumpre essa missão com tranquilidade. Terceiro álbum de estúdio, a norte-americana entrega músicas para dançar, para cantar junto e para admirar a potência vocal de uma mulher sensacional. Mesclando pop, hip-hop, neo-soul e R&B, Lizzo é direto naquilo que se propõe: promover um som de qualidade, exaltar o amor-próprio e transitar entre vários estilos sem perder a sua qualidade ou a sua essência. Um dos grandes álbuns pop de 2019, com toda certeza! [JP]
# Violet Street, do Local Natives
Para o seu quarto álbum de estúdio, o Local Natives resolveu promover um resgate de suas próprias raízes. Violet Street soa como uma junção de elementos do Gorilla Manor (2009) e Hummingbird (2013) e o resultado é um álbum capaz de te motivar a acionar o repeat algumas vezes. Músicas como “When Am I Gonna Lose You” e “Megaton Mile” são bem interessantes, enquanto “Shy” é, possivelmente, uma das melhores músicas já feitas pela banda norte-americana até hoje. [JP]
# Labrinth, Sia & Diplo Present… LSD, do LSD
Após muita espera, Labrinth, Sia e Diplo lançaram o álbum de estreia do projeto LSD. Ainda que não seja nada marcante ou que ficará para sempre nos nossos corações, o álbum é interessante de se ouvir e conta com alguns singles bem interessantes. O trio consegue se organizar bem entre letras e melodias, entregando um pop muito bem produzido, mesmo que ele não ofereça nada de novo e que, no fim das contas, você conclua que cada um dos três possuem músicas mais marcantes em suas carreiras isoladas. [JP]
# Escuta, da Malía
Quer um novo nome da música nacional para dar atenção? Abril nos deu o primeiro álbum de estúdio da cantora carioca Malía. Nascida e criada na Cidade de Deus, a jovem de apenas vinte anos já vinha dando amostras da sua qualidade musical nos últimos anos e, agora, lança o seu primeiro trabalho cheio. Com dez faixas, Escuta mostra todas as influências da cantora, mas tem no pop a sua principal raiz. Com direito a participações de Jão e Rodriguinho, o álbum ainda conta com uma versão bem legal de “Faz Uma Loucura Por Mim”, da Alcione. [JP]
# LOVE + FEAR, da MARINA
Um álbum conceitual duplo foi a recompensa pela lacuna de 4 anos sem lançamentos na carreira de MARINA. LOVE + FEAR, seu novo álbum, trata os aspectos positivos e negativos dos sentimentos que o intitulam. O trabalho também reúne – segundo a própria artista – os melhores produtores musicais da década, o que inclui Joel Little, Oscar Holter e Oscar Gorres, além de co-writers como Noonie Bao, Joe Janiak e Broods. O álbum marca um retorno saudável e consciente a ideia de compor com outros artistas, visto que seu álbum FROOT (2015) – inteiramente escrito por Marina – foi uma resposta a intromissão excessiva de colaboradores sob suas próprias perspectivas em seu álbum Electra Heart (2012). Destacam-se no álbum as faixas “Handmade Heaven”, “End Of Earth”, “You”, “Emotional Machine” e a hipnótica “Karma”. [MG]
# Run Fast Sleep Naked, do Nick Murphy
Após alguns trabalhos soltos e um EP, Run Fast Sleep Naked chega para completar o processo de transição musical vivido por Nick Murphy. O músico, anteriormente conhecido como Chet Faker, lança o seu primeiro álbum em cinco anos e se mostra completamente diferente daquele álbum de 2014, o Built On Glass. O músico agora trilha por um caminho mais orgânico e bem diferente daquilo que o apresentou para o mundo, fazendo isso de uma forma bem interessante e capaz de te prender já nos primeiros acordes. [JP]
# Begin Again, da Norah Jones
Norah Jones se tornou aquela pessoa que a gente não consegue criticar ou, melhor dizendo, ela é aquela artista que não temos mesmo o que criticar. Quase três anos após Day Breaks (2016), a cantora, compositora e pianista norte-americana está de volta com um trabalho que mostra toda a sua capacidade de experimentalismo. Begin Again é resultado de um incômodo com a zona de conforto e que coloca Norah sempre em busca de algo novo. Quem ganha com isso somos nós, ainda que o novo registro tenha um pequeno problema: ele tem apenas sete músicas e menos de trinta minutos, deixando a gente com vontade de ouvir mais e mais. [JP]
# <atrás/além>, d’O Terno
Vi muita gente criticando o disco novo do O Terno por ser “mais do mesmo”, mas isso nem sempre é ruim. Pensa nos Ramones, por exemplo. Acho que a banda está apenas mantendo sua identidade, que sempre foi muito forte e única. Eu vi O Terno nascer, acompanhei as bandas em que eles tocavam antes de formar o trio e é muito louco ver o quão longe eles chegaram, tendo começado se apresentando nas mesmas bibocas que eu, em barzinhos na Vila Madalena que nem existem mais. Não achei o <atrás/além> chato ou repetitivo… muito pelo contrário, me pareceu um álbum mais forte, auto afirmativo e seguro. Tanto nas letras de Tim Bernardes, que parecem sempre tão autobiográficas e, sendo assim, mostram aceitação e paz de gostar de ser quem se é; quanto no som e na produção. O uso excessivo de barras com conceitos opostos também mostra isso, é um tipo de reflexão… atrás e além, profundo versus superficial, passado e futuro. Até o clipe que acompanhou o lançamento do álbum é assim: uma superprodução, lindo, com drone, pensado nos mínimos detalhes, com cor, fotografia, classe. Tudo parece muito rico, bonito e elegante, feito com todo o cuidado. Tem arranjos de cordas, piano, trechos orquestrados e até participação do Devendra Banhart. “Pegando Leve”, música e clipe, traz umas lições de vida importantes, experiências e aprendizados, resiliência. E por mais que soe irônico para muitos ver uma banda como eles dizendo “me cansam tantos hipsters e modernos de plantão”, para quem conhece, sabe que O Terno sempre foi retrô, vintage mesmo, sempre deram valor para os clássicos e fugiram de modismos. Quando a gente era adolescente, eu sempre tive bandas punks cruas tosconas e eles torciam o nariz, tocando coisas muito mais elaboradas, estudando teoria musical e fazendo questão de compor em bom português. Se alcançaram a fama, não foi abrindo mão da sua essência. Não se esqueçam de onde Tim Bernardes vem, afinal: ele é filho de Maurício Pereira, que tinha a banda Os Mulheres Negras e foi, tanto com o grupo como em carreira solo, um ícone da música independente brasileira. O Terno não é hipster nem moderno, e sim uma banda que reverencia os clássicos brasileiros que conseguiram juntar rock e MPB criando uma coisa totalmente original, sem perder sua identidade própria. Eles são a versão século XXI, feita à sua maneira, de coisas como Clube da Esquina e Secos e Molhados, e não uma molecada montada e deslumbrada de Void e Lollapalooza. Respeitem. [BM]
# Hibernar Na Casa das Moças Ouvindo Rádio, do Odair José
Em seu 37º álbum de inéditas, Odair José reflete sobre o mundo atual em suas novas músicas, com um rock bem afiado e letras com altas doses de ironia e bom-humor. Tudo isso já começa com o nome do álbum, Hibernar Na Casa Das Moças Ouvindo Rádio, que representa o lugar para onde ele vai em busca de reflexões sobre a vida. O álbum conta com participações de Assucena Assucena e Raquel Virginia, do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira, na faixa “Chumbo Grosso”, e de Toca Ogan e Jorge Du Peixe, ambos da Nação Zumbi, que participam de “Rapaz Caipira” e “Imigrante Mochileiro”, respectivamente. A novidade ainda conta com inserções de Luiz Thunderbird, que serve como narrativa para o conteúdo do álbum. [JP]
# Peter Doherty & The Puta Madres, do Peter Doherty & The Puta Madres
Não tem como ouvir Pete Doherty (que já faz uns anos gosta de ser chamado de Peter, com o “R”) e não pensar no The Libertines, banda que marcou época e que é liderada por ele e Carl Barât, em uma relação maluca de bromance. Acontece que tudo que o Peter faz é parecido, tem muito a cara dele. Daí ser tão difícil dissociar uma coisa da outra. Os Libertines voltaram e fizeram um disco ótimo em 2015, mas Peter e Carl sempre mantiveram suas carreiras solo em paralelo – e Peter sempre manteve, também, uma personalidade difícil de lidar aliada a abusos de drogas e altas tretas. No entanto, Peter é um workaholic prolixo, que sempre produz e compõe muito, fonte inesgotável de música boa. Sorte a nossa. Ele se reinventou com os Puta Madres, sua terceira banda além dos Libertines e dos também excelentes Babyshambles (donos da inesquecível “Fuck Forever”). A banda nova era formada por Peter e por um ex-integrante do Babyshambles, inclusive: o baixista Drew McConnell. Em 2016, eles foram tocar na Argentina e lá recrutaram o guitarrista Jack Jones e inventaram o nome em espanhol. Drew saiu da banda em 2017 pra tocar com o Liam Gallagher, mas o grupo continuou com a chegada do baixista francês Michael Bontemps, do baterista Rafa Rueda e da pianista Katia de Vidas, que também virou namorada do Peter. Nessa nova fase, Peter não tem medo de se arriscar e mostrar músicas novas, continua sempre criando, e isso me traz uma grande admiração. É um artista irrefreável, que nunca para e não admite viver de passado, apesar de os seus trabalhos terem muitas semelhanças entre si (até pelas suas características muito fortes como músico). The Puta Madres tem uma sonoridade menos rock, mais tranquila, blues, indie/folk e até meio country, mas é inevitável a comparação com o som clássico dos Libertines em canções em que as guitarras ganham mais destaque, como “The Steam”. Depois de uns anos conturbados entre 2015 e 2018, Peter gravou o disco novo tranquilo, no verão, em uma cidadezinha na Normandia, entre uma comunidade de pescadores e a natureza. O álbum é gostoso de ouvir e chegou para marcar uma fase mais saudável e feliz para Doherty, que tem tentado ficar limpo e ativo. Tomara que continue assim! [BM]
# Hurts 2B Human, da P!NK
A primeira impressão que fica ao se ouvir o Hurts 2B Human é que ele é, necessariamente, uma continuação para o seu trabalho anterior, Beautiful Trauma. Não que seja necessariamente obrigatório ouvir o álbum lançado em 2017 para se entender o que foi saiu no mês passado, mas ajuda na compreensão do oitavo registro de estúdio da P!NK. Com treze faixas e participações de Khalid e Chris Stapleton, o álbum da cantora norte-americana é divertido em sua sonoridade e muito bem produzido. No entanto, o destaque acaba ficando em torno da temática profunda das letras, onde P!nk fala sobre medos e paranoias que fazem parte do seu dia a dia. Isso acaba transformando o Hurts 2B Human em um diário aberto que, mesmo não sendo o seu melhor álbum da carreira, é interessante de se ouvir. [JP]
# Matriz, da Pitty
Ao contrário do que muita gente esperava com seus singles iniciais, Matriz mantém a essência rock que Pitty apresentou aos brasileiros no início dos anos 2000 com o já clássico Admirável Chip Novo (2003). No entanto, o novo álbum promove um mergulho interessante da cantora em sua terra natal, abraçando elementos, artistas e elementos naturais da Bahia em suas novas músicas. Matriz conta com participações de Lazzo Matumbi, Larissa Luz e BaianaSystem; tem uma versão para “Motor”, faixa composta por Teago Oliveira, do Maglore; tem sample de Dorival Caymmi e uma faixa composta por Peu Sousa, parceiro de longa data de Pitty que faleceu em 2013. Tudo isso resulta em um álbum que supera as expectativas, principalmente quando falamos de “Roda”, uma das melhores faixas do registro. [JP]
# Saúde, do Raça
Em seu terceiro álbum de estúdio, a banda paulistana Raça resolveu apostar no bom e velho uso das guitarras e pedais. Com doze faixas, Saúde é o primeiro trabalho da banda lançado pela Balaclava e mostra um aprimoramento de tudo o que o quinteto vem fazendo desde o seu álbum de estreia, Deu Branco (2014). Curto, direto e bom de se ouvir, Saúde conta com as participações de Heloisa Cleaver e Bruna Guimarães, conhecida pelo seu projeto BRVNKS. [JP]
# Chip Tooth Smile, do Rob Thomas
Em seu quarto álbum solo, Rob Thomas deixa de lado a sua zona de conforto em busca de estímulos. As novidades de Chip Tooth Smile começam em sua produção, já que vocalista do Matchbox Twenty deixa de lado o Matt Serletic, seu parceiro de longa data, para trabalhar com outro produtor, Butch Walker. Com baladas interessantes e músicas de arena capazes de fazer todo mundo cantar junto, Rob Thomas abraça a sua meia-idade, faz uma avaliação da sua jornada até aqui e se abraça nas coisas positivas para seguir em frente, passando a limpo várias coisas que estão em sua cabeça. [JP]
# Amidst The Chaos, da Sara Bareilles
Os anos passam e Sara Bareilles segue entregando bons álbuns em sua discografia. Em seu sexto registro de estúdio, Amidst The Chaos, a norte-americana fala sobre o caos de uma forma positivista, sem deixar que a sua esperança seja ofuscada pelo medo ou insegurança que os tempos atuais podem oferecer. O resultado é um álbum que deixa clara a evolução de Sara ao longo dos anos, muito disso por causa das composições interessantes, das melodias bem trabalhadas e da produção sempre bem feita de T-Bone Burnett. Mesclando momentos melancólicos com bons momentos pop, Bareilles se firma entre os bons nomes que os anos 2000 nos deram, mesmo que muitos ainda não tenham tirado um tempinho para ouvi-la. [JP]
# No Geography, do The Chemical Brothers
São trinta anos de carreira e, quando você pensa que o The Chemical Brothers não vai conseguir te surpreender, o duo britânico ri na sua cara e mostra porque é um dos maiores nomes da música eletrônica de todos os tempos. Em No Geography, Tom Rowlands e Ed Simons estão ainda mais afiados e te entregam muito mais do que você espera. É um álbum divertido e, mesmo que não seja o seu melhor trabalho, mostra a relevância e a importância que o The Chemical Brothers tem em uma cena onde cada dia surge um novo nome que julgam ser capaz de reinventar a roda. Pena que poucos são os que conseguem fazer o que Tom e Ed fazem. [JP]
# In The End, do The Cranberries
In The End é um álbum póstumo, lançado após a morte repentina da vocalista Dolores O’Riordan. Seu falecimento está mais para um triste acidente do que para um suicídio, como as investigações vieram a descobrir, mas de qualquer forma é um misto de sensações boas e ruins ouvir as suas últimas músicas. Quando ela morreu, em Londres, em janeiro de 2018, estava trabalhando nestas gravações. Agora, o oitavo álbum marca também o fim dos Cranberries. A capa mostra crianças tocando, representando a história deles, que passaram 30 anos juntos entre idas e vindas, fazendo um enorme sucesso em todo o mundo. A voz de Dolores, única e linda, marcou a história da música, virou um ícone irlandês e abriu caminhos para muitas mulheres no rock. Ela deixou um enorme legado, que foi homenageado com esse último registro. Os vocais tão característicos dela, cheios de emoção, afinados, angelicais e límpidos, foram retirados de demos feitas em 2017, e impressiona demais a qualidade da voz nos registros, provando como ela era uma cantora incrível, soando grande até mesmo em guias simples usadas para compor um novo registro. O resultado final, simples e cru, se assemelha ao disco de estreia da banda, de 1993, com um vocal mais doce e melódico. As canções são muito bonitas, mas tristes, um tanto melancólicas; e muitas falam sobre o encerramento de um ciclo, mas os demais membros da banda contaram que era uma coisa positiva, pois Dolores estava superando vários problemas de saúde na época e, garantem, não queria se matar. Ela estava em uma fase de recomeço, de esperança com o novo. [BM]
# Pra Doer (Remix) [EP], do Tuyo
Não é um álbum, é um EP. E é também um relançamento do EP de 4 faixas que o Tuyo liberou em 2017, que foi remixado com novas versões para “Conselho do Bom Senso”, “Candura”, “Solamento” e “Amadurece e Apodrece”, além de ganhar as inéditas “Nois por Nois” e “Quem Não Gostou Bate Palma”, que funcionam como interlúdios, durando poucos segundos e ligando uma música na outra. Nesse novo remix, as canções aparecem com batidas eletrônicas e de afrobeat, com uma estética bem moderna, atmosfera, diversas camadas e nuances. Mais produzidas, agitadas e dançantes do que as versões originais de dois anos atrás, mas não tão diferentes delas. Só que antes era uma parada mais acústica, introspectiva. O trio paranaense formado pelas irmãs Lay e Lio e por Jean (namorado de Lio) tem como principal característica os vocais perfeitamente harmoniosos e, no final do ano passado, também lançaram um álbum cheio (o lindo Pra Curar, com dez faixas). Depois de participarem da banda Simonami e até do The Voice Brasil, o grupo vai se consolidando com suas composições autorais em português, letras sobre amor e relacionamentos, muito bonitas e cheias de emoção, em cima de bases de violão acústico e batidas eletrônicas que remetem a trap, R&B e hip hop. São canções sensíveis, emotivas, com o vocal como principal atrativo. A voz deles é simplesmente maravilhosa e combinam muito entre si. Se você escutar Tuyo e não se emocionar, é porque seu coração já virou pedra faz tempo. [BM]
Não deixe de ver a nossa lista com os nossos álbuns preferidos de janeiro, fevereiro e março, além de dar uma passada em nossa lista com os principais lançamentos previstos para 2019 no mundo da música.
Textos: Bárbara Monteiro, Bárbara Silva, John Pereira, Matheus Gouthier, Rahif Souza e Yuri Carvalho