Estava eu envolto na semana de Lollapalooza Brasil quando fui informado de que uma das minhas crushes da vida tinha se lançando como cantora.
Em meio a uma família composta por músicos, era até natural que Cléo Pires resolvesse seguir esse caminho e, creio eu, isso até demorou para acontecer.
Pois muito que bem: passada a minha quinta edição de Lollapalooza, volta para Minas Gerais e vida colocada no lugar, lembrei que ainda não tinha parado para ouvir o Jungle Kid, EP de estreia da Cléo que leva o nome do seu novo alter-ego.
A minha curiosidade em torno da novidade era, provavelmente, a mesma de todo mundo que pegou o EP para ouvir pela primeira vez: “e aí? será que ela canta mesmo?”. Com nomes como Fábio Jr, Orlando Moraes e Fiuk na família, a minha cabeça girava entre as possibilidades que poderia encontrar em Jungle Kid e, logo na primeira faixa, percebi que perdi tempo com tudo isso porque o que a Cleo está disposta a entregar foge completamente do que os músicos da família já fizeram.
As suas aspirações são outras. As suas influências também. Tudo isso fica claro em “Jungle Kid”, faixa que dá nome ao trabalho e é a abertura do EP. A música tem um ar meio Lana Del Rey e é difícil não comparar com o trabalho feito pela cantora norte-americana. Uma batida eletro-indie, com um cantar meio sussurrado, uns elementos sombrios e Cléo falando que crescer foi algo cruel para ela. É uma música que talvez te ganhe com mais audições, mas não sei se gostei.
“Impulses” é o nome da segunda música. Talvez seja aquela que mais combina com a persona Cléo, com um quê pop, meio Kesha; e elementos rock enfiados no processo. Nessa altura da audição, eu não sei dizer se gosto da voz da Cleo cantando. Como meu crush, ouvir essa voz grave sussurrando no meu ouvido seria algo sensacional, mas… cantando… não sei mesmo.
A terceira música recebe o nome de “Cloud” e tem um comecinho tranquilo, todo no piano, com uma letra um pouco otimista onde Cleo afirma que a vida é se libertar. A sonoridade volta a lembrar cantoras como Lana Del Rey e Lorde, mas essa música ganha uma pitada de Norah Jones que, talvez, só eu tenha percebido. O problema é que eu fiquei esperando algo acontecer na faixa, talvez um ganho de instrumentos ou batidas eletrônicas, uma encorpada que se justificaria ao lembrarmos das faixas anteriores, mas ela acabou e ficou só nisso mesmo.
Agora o bicho resolve pegar de verdade: Cleo chega com “Bandida”, a sua primeira em português. Batida pra dançar, feita para tocar nas ~buatchis~ da vida e de letra fácil, que faz jus ao título e preza pelo empoderamento que a cantora exala em entrevistas, fotos e vídeos. A música é uma tentativa quase que forçada de mostrar o quanto ela é malvadona, independente e uma cobra pronta pra atacar. Se ela mirou na Taylor a gente não sabe, mas o resultado não foi dos melhores.
No fim, temos “Faz o Que Tem Que Fazer”, um reggaeton pop chicletão que me fez lembrar dos ~sucessos~ da nossa lacradora número um, Claudia Leitte. A letra só podia ser sobre safadeza, afinal, se tem uma pessoa que entende disso com propriedade é a Cleo, não é mesmo? É outra que vai fazer sucesso nas baladas com a galera dançando até amanhecer. Ouvindo a música, eu só consegui pensar num clipe com a Cleo dançando/sarrando em vários corpos que são estradas proibidas cheias de tesouros.
Uma vez, conversando com um baixista, descobri que o seu companheiro de banda construía todo um conceito belo e funcional em torno das suas composições e sonoridades antes de propriamente criar um álbum e que, por isso, esse ser não aceitava composições de terceiros ou sequer incluir coisas dos parceiros de banda que não se encaixassem na sua linha de pensamento. Provavelmente, esse cara teria uma crise e se mataria após ouvir o EP da Cleo, já que Jungle Kid é um trabalho bem plural. Isso pode ser positivo por mostrar que ela está antenada e tenta navegar entre vários estilos. Por outro lado, pode mostrar uma cantora atirando para todos os lados para ver o que dá mais retorno. São praticamente cinco facetas diferentes em cinco músicas e algumas delas não casam entre si.
Apesar disso, eu me acostumei com a voz da Cleo cantora ao final da audição e não dá pra negar que é preciso coragem para se lançar como cantora, participar das composições de todas as músicas e soltar um EP carregando a bagagem que ela carrega nas costas. O resultado não é ruim e, quem sabe, indique caminhos para Cleo trabalhar em seu primeiro álbum, que não deve demorar muito para sair. Mesmo sabendo que ela odeia comparações, digo que Jungle Kid deve ser melhor que toda a carreira musical de seu irmão, provando que Cleo é melhor que o Fiuk em qualquer um dos campos artísticos propostos.
Para encerrar, preciso dizer: Cleo, se você ler isso, espero que não faça a letra de “Bandida” e decida se vingar de mim por conta desse texto, tá? Lembre-se de que você é o meu crush desde os tempos de Lurdinha, personagem da novela América (2005). Me liga, vamos tomar um vinho e conversar sobre o álbum.
Cleo – Jungle Kid
Lançamento: 19 de março de 2018
Gravadora: Independente
Gênero: Pop/Eletro/Reggaeton
Produção: Guto Guerra
Faixas:
01. Jungle Kid
02. Impulses
03. Cloud
04. Bandida
05. Faz o Que Tem Que Fazer