A história da música pop nos mostra inúmeros artistas que, após viverem aventuras dentro de um projeto, resolveram se desgarrar e seguir em carreira solo. Nesse quesito, Camila Cabello é só mais um nome que, após uma saída problemática do Fifth Harmony, passou todo o último ano trabalhando naquilo que seria o seu primeiro trabalho solo.
Lançado no último dia 12 de janeiro, Camila chega com todo o peso e cobrança já existentes na carreira da jovem de apenas vinte anos e, mais do que isso, chega aproveitando a esteira criada por um hit que exalta um lado que Cabello pouco ou nunca trabalhou enquanto fazia parte da girlband, a sua latinidade. Carregado por “Havana”, o álbum mostra aquilo que a cantora carrega com ela desde o nascimento em Cuba, passando pelo tempo vivido no México até o seu estabelecimento nos Estados Unidos: a sua veia latina.
Composto por onze faixas, Camila é uma mescla dessa pegada latina com pitadas de R&B, dancehall e o pop no qual ela se tornou conhecida nos tempos de Fifth Harmony, ainda que em pequenas doses. Resultado de um trabalho cuidadoso que foi concebido por Cabello e o produtor Frank Dukes – responsável por trabalhos no More Life (Drake) e Melodrama (Lorde), só para citar dois de seus trabalhos recentes, o álbum não deixa pontas soltas para o ouvinte ao longo de sua execução. Desde a escolha das composições, passando pela ordem das faixas, o fato de contar com apenas uma participação ou até mesmo o descarte de singles anteriores, como “Crying In The Club”, Camila é um álbum bem pensado e feito para mostrar tudo aquilo que a jovem cantora pode fazer em sua carreira solo.
Ainda que “Havana” seja mesmo a melhor faixa do registro, a beleza de músicas como “She Loves Control”, “Consequences”, “Real Friends” e “Into It” são capazes de prender o ouvinte no ato. Aliás, se tem uma coisa que a jovem conseguiu cumprir com esse álbum foi entregar vários singles em potencial. As quatro músicas citadas acima são totalmente capazes de tocar nas rádios e obterem bons desempenhos.
A grande marca de Camila será mesmo a dançante “Havana”. Parceria com o rapper Young Thug, a canção já é um hit e dificilmente será batida por outra faixa do debut de Cabello. No entanto, “She Loves Control” segue a mesma linha latina e, pra mim, é uma das melhores faixas do disco. É nela que a cantora fala sobre ter o controle, uma analogia que pode ser feita tanto para relacionamentos como para a sua própria carreira musical que, agora, goza de total liberdade. A trinca latina conta também com “Inside Out”, aquela música que te transporta para uma praia com o sol fritando, você observando o movimento tendo a sua bebida preferida ao lado.
Bem no meio do álbum está a melancólica “Consequences”, que serve como contraponto para a latinidade das faixas anteriores e também como uma boa transição para o que vem em seguida. “Real Friends” é uma música de andar simples e interessante que emula um pouco de Ed Sheeran com uma pitada de “Love Yourself”, do Justin Bieber. A faixa fala sobre o sentimento de se sentir sozinha no mundo ou, no caso de Cabello, em Los Angeles, e a letra mesclada com a sua sonoridade fazem dela mais um single em potencial do álbum.
Agora, se você pensa que Camila Cabello deixou para trás o que fez no Fifth Harmony enquanto ouve o seu debut solo, terá uma boa surpresa com “Into It”. Essa é provavelmente a faixa que mais se aproxima daquilo que a cantora fazia na girlband e, ainda que não assuste quem já conhece o seu passado, pode causar estranheza para quem só ouviu falar da cantora por causa de “Havana”. A faixa é a cara de um de seus compositores (Ryan Tedder, líder do OneRepublic) e tem uma pegada eletro que não se encaixa nas demais canções do disco e, talvez por isso, está sabiamente no fim de Camila – a última disco do disco é uma versão de rádio e mais ~limpinha~ para “Never Be The Same”.
Em seu debut, Camila Cabello entrega ao público um álbum ágil e capaz de prender a atenção desde os seus primeiros acordes. É simples e direto naquilo que se propõe, mostrando que a cantora realmente tem algo a oferecer para a música pop atual. Trabalhando ao lado de bons nomes e exercitando a sua liberdade, Camila não um disco que apresenta algo de novo para a música, mas é o resultado de uma exploração por um mundo novo para a cantora. Mundo esse no qual ela deu um interessante primeiro passo.
Camila Cabello – Camila
Lançamento: 12 de janeiro de 2018
Gravadora: Epic/Syco/Sony
Gênero: Pop/R&B/Latino
Produção: Frank Dukes (prod. executivo), Jarami, Skrillex, T-Minus, Bart Schoudel, The Futuristics, SickDrumz e Jesse Shatkin
Faixas:
01. Never Be the Same
02. All These Years
03. She Loves Control
04. Havana (feat. Young Thug)
05. Inside Out
06. Consequences
07. Real Friends
08. Something’s Gotta Give
09. In the Dark
10. Into It
11. Never Be the Same (radio edit)