Há 10 anos, eu assisti a um documentário muito bom chamado Metal – Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal. Nele, o diretor Sam Dunn afirma que os fãs de metal são os mais fieis do mundo da música. Será? Essa, com certeza, é uma questão que pode gerar horas e horas de discussão, mas uma coisa é certa: os headbangers são um público que merece muito respeito pela entrega e dedicação aos seus artistas preferidos. Ao assistir ao show da banda alemã Helloween, dia 28/10, no Espaço das Américas, em São Paulo, isso ficou ainda mais nítido.
Vinte e quatro anos após a saída de Michael Kiske dos vocais, a banda se reuniu para uma turnê histórica que começou em Monterrey, no México. Além do guitarrista Michael Weikath e do baixista Markus Grosskopf, a Pumpkins United World Tour conta também com outro fundador da banda, Kai Hansen. O Helloween chegou a São Paulo preparado para gravar mais um DVD (boa parte do Live on 3 Continents foi gravado no Credicard Hall – hoje Citibank Hall – em 2006).
Ver Kiske de volta em um show do Helloween era um sonho para muitos fãs, mas parecia improvável. Os brasileiros sofriam também porque a primeira visita da banda ao país aconteceu durante a turnê do álbum The Time of The Oath, lançado em 1996, já com Andi Deris nos vocais. Com a notícia de que músicas do clássico Walls of Jericho, de 1985, também seriam executadas, o público ficou animado. Os ingressos para o show do dia 28 acabaram rapidamente, e um novo show foi agendado para o dia 29 de outubro.
A expectativa era alta. A abertura, com o clássico “Halloween” colocou todo mundo para cantar com Michael Kiske e Andi Deris. Ao ouvir o vocal potente de Kiske, fica difícil acreditar que poucos dias antes ele estava com problemas na voz, em passagem pelo México. Os dois vocalistas arrebentaram juntos no palco. Deris, como sempre, muito carismático e animado com o público se mostrou muito grato pela presença de todos, enquanto Kiske dava tudo de si para não decepcionar os fãs, e não fez feio. Na sequência, a banda tocou “Dr. Stein” e o belo telão do palco funcionava bem, mas poucas músicas depois, começou a apresentar falhas e foi desligado de vez. Uma pena, pois as imagens eram bem legais e a intenção era que, durante a apresentação solo do baterista Daniel Löble, houvesse um “duelo” entre ele e o ex-baterista Ingo Schwichtenberg, morto em 1995. Este momento tinha tudo para ser o mais emocionante da noite, mas Löble deu conta do recado mostrando suas habilidades durante as quase 3 horas de show e deixou evidente o motivo que o faz ser um músico admirado.
Deris e Kiske alternaram músicas de suas respectivas fases na banda. “I’m Alive”, “If I Could Fly”, “Are You Metal” e “Rise and Fall” mostraram que os fãs também esqueceram a disputa fictícia para saber quem é o melhor vocalista. O clima era de união e de realização. Até que veio o momento mais esperado por muitos, quando Kai Hansen assumiu os vocais no medley com as músicas “Starlight”, “Ride The Sky”, “Judas” e “Heavy Metal (Is the Law)”. O público cantou a plenos pulmões e gritou o nome de Hansen ao final da apresentação. São músicas que não faziam parte dos shows do Helloween há muitos anos.
Kiske e Deris voltaram ao palco para mostrar que o primeiro também canta músicas lançadas após a sua saída da banda. “Forever and One” teve uma performance emocionante com os dois vocalistas e a guitarra de Sascha Gerstner, além do público. Quando a plateia achava que não podia ficar melhor do que estava, foi presenteada com a sequência formada por “Power”, a icônica e muito esperada “How Many Tears” (que Andi Deris confessou ser a primeira música que ouviu da banda e, na época, se questionou por não estar no Helloween), “Eagle Fly Free” e a clássica “Keeper of The Seven Keys”. Acabou? Não! A banda voltou ao palco para finalizar a apresentação com “Future World” e “I Want Out”!
Por parte da banda, não há o que reclamar. Todos estavam muito envolvidos e fizeram o possível para agradar os fãs. O setlist estava incrível, eu teria trocado “Why” por “The Time of The Oath”, mas isso é coisa de fã apegado (risos).
A casa Espaço das Américas deixou a desejar. Como se não bastasse o problema no telão ainda no começo do show, o responsável pelos telões laterais não tem o menor feeling e, em diversos momentos, mostrava Kiske bebendo água ou Grosskopf tocando baixo enquanto um dos guitarristas entregava sua alma na hora do solo. Sem contar as inúmeras vezes em que o público via o painel, com todos os ângulos divididos nos telões. Isso, certamente, vai complicar a edição do DVD, mas não foi o suficiente para tornar este momento menos especial para os fãs.
.
Setlist:
- Halloween
- Stein
- I’m Alive
- If I Could Fly
- Are You Metal?
- Rise and Fall
- Waiting for the Thunder
- Perfect Gentleman
- Starlight / Ride the Sky / Judas / Heavy Metal (Is the Law)
- Forever and One (Neverland)
- A Tale That Wasn’t Right
- I Can
- Drum Solo
- Livin’ Ain’t No Crime / A Little Time
- Why?
- Sole Survivor
- Power
- How Many Tears
- Eagle Fly Free
- Keeper of the Seven Keys
Encore:
- Future World
- I Want Out