Sabe aquele cara que sobe no palco com total ciência do que vai fazer do primeiro ao último acorde? Não é exagero dizer que, dos nomes que dominam as paradas nos últimos anos, Ed Sheeran seja um dos poucos que consegue passar essa confiança ao público quando pega um violão e entra no palco.
Com o passar dos anos e a experiência, a ideia de ser um “one man band” por onde passa parece cada vez mais acertada e, mais uma vez, isso ficou claro para o público brasileiro. Fechando a passagem da Divide Tour pelo Brasil, Sheeran encantou, arrancou lágrimas, provocou desmaios e entregou para muitos aquele show que vai ficar na memória por muito tempo.
No entanto, antes de falar da estrela principal, a noite começou com o também britânico Antônio Lulic que entrou no palco da Esplanada do Mineirão pouco depois das 20h para dar início ao primeiro show da noite. Com um setlist curto e mesclando músicas próprias com um medley que contava com trechos de “Girls Just Wanna Have Fun” e “Call Me Maybe”, Lulic se empolgou com o público e com a noite bonita de Belo Horizonte. No entanto, se o início com “Beckoning Drum” pareceu promissor, o andar da carruagem acabou provocando muitas dispersões no público, sobretudo na Pista Premium repleta de pais e filhos ansiosos pela atração principal.
Assim como nove de cada dez shows de abertura, Antonio sofreu com um público que, em sua grande parte, sequer sabia o nome de quem estava no palco. Isso pode parecer chato, mas o músico realmente não se importou e, aos interessados, entregou um show que pode render a ele novos fãs. Foi assim quando veio ao Brasil em 2015, também acompanhando o amigo Ed Sheeran, e agora não seria diferente.
Com o fim da apresentação, a tensão em torno do show do “Edinho” se tornava mais intensa. Conforme o tempo passa, você tende a ficar mais ranzinza com a histeria alheia, seja ela pelo seu artista preferido ou pelo simples play em uma propaganda. É engraçado pensar em como as coisas mudam e como você passa a encarar situações que, até ontem, eram parte de sua vida. Ed era para muitos presentes a personificação do maior músico de todos os tempos a pisar na terra. Para mim, despertava a curiosidade de entender o que fez com que ele ocupasse esse pedestal.
Como um bom britânico, o músico não nos deixou esperando e, quase que pontualmente, lá estava ele para dar ao povo o que ele esperava. Sem firulas, introdução ou qualquer coisa que pudesse anunciar a sua entrada, Sheeran subiu ao palco segurando o seu violão e deu início aos trabalhos com duas músicas do elogiado ÷, “Castle On The Hill” e “Eraser”. E é aí que a mágica acontece.
Dono do palco, Sheeran tem em sua companhia diversos pedais com os quais ele vai gravando e reproduzindo elementos das músicas, tornando o show o mais fiel possível ao que você ouve diariamente no seu Spotify. A técnica não é nova, mas para um público formado em sua maioria por jovens que provavelmente não viram um show do Damien Rice – para citar apenas um nome, aquilo acaba sendo uma grande novidade e causa adoração. Na outra ponta, estão aqueles que balbuciam coisas como “o show é gravado, que sem graça”, entre outras pérolas que pedem uma boa cerveja para acompanhar.
Ed abusa dos pedais sem deixar se tornar algo cansativo e isso faz dele um grande músico. Seja com as músicas antigas como “The A Team” ou nas mais recentes, caso de “Dive”, ele consegue levar o show nas mãos sem o menor problema ou a necessidade de uma banda de apoio. O seu único suporte é visual e esse sim é o ponto alto da noite. Impossível não se impressionar com o trabalho artístico que é reproduzido pelo telão central no palco. Talvez o público da pista tenha sentido falta dos famosos telões laterais, mas todas as interações criadas ao longo das músicas era, para não dizer outra coisa, impressionante.
Com dezessete músicas, sendo um medley de “Dont” e “New Man”, Ed Sheeran fez o público cantar, brincou, elogiou a cidade, pediu silêncio antes de “Photograph” – quando surgiram gritos de “Ed eu te amo” – e deu ao público os grandes sucessos de sua carreira.
Ainda que tenha deixado de fora músicas como “Lego House”, “Kiss Me” ou “Tenerife Sea”, quem queria as faixas antigas pode curtir a noite com “Dont”, “Bloodstream”, “Thinking Out Loud” e a minha preferida, “Sing”. Se você estava lá pelo ÷, teve a chance de ouvir oito músicas do disco, incluindo as boas “Galway Girl” e “Shape Of You”. O que todos vão concordar é que, ao fim de “You Need Me, I Don’t Need You” e vestido com a sua já tradicional camisa do Brasil, estava um dos grandes nomes da música na atualidade.
Se a máxima do “quem sabe faz ao vivo” é real, quem esteve na Esplanada do Mineirão teve a chance de ver de perto que, dentro de um cenário musical cada vez mais semelhante, existe um cara que sabe fazer. E isso vale sim toda a histeria.
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Abaixo, veja o setlist da apresentação em Belo Horizonte:
Fotos: Polly Rodrigues