Durante sua primeira vez no Brasil, em 2015, Tove Lo teve uma agenda lotada. A cantora promoveu seu álbum de estreia, Queen Of The Clouds, o lançamento da parceria entre a plataforma de streaming Deezer e empresa de telefonia TIM, concedeu diversas entrevistas, fez um pocket show privado e se apresentou em um programa de grande audiência da Rede Globo. Naquela época, a sueca produzia em sigilo o álbum Lady Wood (2016), que daria título a turnê que desembarcaria no Brasil dois anos mais tarde.
Dessa vez, Tove se apresentou no país em duas ocasiões diferentes, dia 24/03 na casa de shows Audio e dia 25/03 como atração do palco AXE no Lollapalooza, ambos os shows em São Paulo e promovidos pela T4F. Tive a oportunidade de ir ao primeiro show de bilheteria aberta da cantora sueca, que aconteceu dia 24. Foi tudo de última hora, quinta-feira decidi ir e sexta estava lá em São Paulo, afinal, não poderia cometer o crime contra mim mesmo de perder o show de uma artista que tanto admiro, na turnê de um dos meus álbuns prediletos.
Certo, dito isso, vamos as impressões gerais do show: por volta de 19:30 a fila já estava imensa, se estendendo ao longo do quarteirão. Na calçada era possível encontrar os típicos carrinhos de cachorro-quente e hambúrguer, ambulantes vendendo bebidas, bottons, bonés e camisetas da cantora. As portas da casa abriram em torno de 21:00 e a organização logo me chamou atenção. Pulseiras distribuídas para controle de menores de idade, estratégias para facilitar a venda de fichas e fácil acesso a espaços como o bar, banheiro e chapelaria, além da área externa. No espaço com capacidade para cerca de 3.000 pessoas, a maior parte do público se concentrava na pista, embora houvesse bastante gente no setor mezanino, que se encontra nas laterais superiores da casa.
O “esquenta” ficou por conta de um set variado, que ia desde remixes de A Banda Mais Bonita da Cidade até Foo Fighters. O show começou pontualmente por volta das 23:30, como era previsto. O público – que mesclava fãs, demais admiradores e baladeiros paulistanos que conheciam uma música ou outra – foi a loucura quando Tove iniciou o concerto com seu atual single de trabalho, “True Disaster”. Nessa hora já era difícil escutar a voz da cantora devido a gritaria da plateia, porém a histeria se agravou quando Tove deu início a faixa-título do álbum, “Lady Wood”. Toda a multidão cantou, era um êxtase coletivo toda vez que se ouvia “I know what people say about you, they say the same about me”. Pessoalmente foi meu momento favorito do show e um dos mais memoráveis em relação a experiências musicais que tive. Catártico.
Em “Moments”, faixa presente em seu álbum de estréia, várias pessoas choravam e gritavam incessantemente cada parte da letra, que é tida como uma das mais pessoais da cantora. Em seguida, “The Way That I Am”, também de seu álbum de estreia, manteve a empolgação do público com o sintetizador caótico presente na música. A faixa “Vibes” foi apresentada por Tove e coube ao seu guitarrista substituir os vocais originais de Joe Janiak. Outro grande momento do show. Porém, é óbvio que o ápice se dá na última música antes da troca de figurino. “Talking Body”, um de seus maiores sucessos, vem acompanhado do famigerado momento em que Tove ~paga peitinho~, uma referência ao movimento Free The Nipple. Delírio total. Alvoroço por todos os lados.
Um ocorrido que decepcionou muitos fãs da cantora, inclusive eu, foi a retirada de “Imaginary Friend” do setlist do show. A canção que normalmente é performada em versão acústica era uma das mais esperadas pelo público e uma das favoritas em senso comum do álbum da sueca. Várias pessoas gritaram o nome da música, numa tentativa em vão.
Após uma pausa para a troca de figurino, Tove voltou ao palco sob os sintetizadores iniciais de “Keep It Simple”, que é performada em uma versão com o final estendido, outro momento muito bacana do show! Em seguida, a plateia parecia um mar de luzes durante “Flashes”, todos celulares com lanternas ligadas, tematizando a música. A música seguinte rendeu a Lo não só disco de ouro no Brasil, mas também muitos novos fãs que em 2016 se apaixonaram com a faceta electropop que a cantora apresentou. Em “Cool Girl”, o público parecia vivenciar o orgasmo que Tove Lo tanto propagou em seu novo álbum e que inclusive, já comentamos sobre aqui no Audiograma.
Tove tentou enganar o público deixando o palco dizendo ‘’Thank you! I love you’’, como vários artistas fazem antes do encore do show, porém, enganou apenas os que não conheciam a setlist ou aqueles que são inocentes o bastante pra acreditar que ela não cantaria seu maior sucesso. Ao som de “What I Want For The Night (Bitches)”, a cantora retornou ao palco para encerrar a apresentação, poucos sabiam cantar a música que provavelmente integrará a tracklist da continuação de seu disco, previsto para ser lançado ainda esse ano. A música passou quase despercebida quando sua banda deu início a canção de encerramento, a obra que a apresentou ao mundo. Tove não seria louca de sair dali sem cantar “Habits (Stay High)” e essa foi a hora do show em que alguns estavam chorando de alegria, outros chorando por saberem que havia chegado ao fim, outros por outros motivos, mas de fato, todos bastante emocionados.
Sob uma enxurrada de aplausos, a cantora e sua banda deixaram o palco sorridentes enquanto o famoso remix de “Habits” feito por Hippie Sabotage tocava, e depois, através de seu Instagram, Tove disse que aquela havia sido a melhor plateia de toda sua carreira (coisa que todos artistas dizem depois do primeiro show no Brasil, né?).
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Entre as impressões gerais, ficou a noção de que a Tove Lo, é muito diferente de suas contemporâneas, em seu show não existe todo aquele apelo para a performance ou dançarinos, coisas que estamos acostumados a falar quando falamos de outras cantoras pop. Diferentemente, o foco da cantora escandinava é exclusivamente a música e a vontade de proporcionar uma noite grandiosa a todos, uma noite intensa como as que suas músicas narram. Uma das frases que eu penso melhor descrever sua postura em palco é “I sing to the night, let me sing to you”, da faixa “Not On Drugs”, afinal, Lo deixa explícito que sua relação com suas músicas é metalinguística, ela simplesmente canta o que vive.
A ideia de um artista conseguir transformar qualquer arena ou estádio em uma boate apenas com a energia de sua música, parece um pouco abstrata, mas isso é real para um dos maiores nomes do pop europeu. Tove pode voltar, o Brasil já sente saudade!