“You’re gone and I gotta stay high”
Foram necessários poucos dias para que o mundo conhecesse Tove Lo. Apelidada por tablóides de “A Garota mais Triste da Suécia”, Ebba Tove Elsa Nilsson, filha de um empresário e uma psicóloga, nasceu e cresceu em Estocolmo, iniciou sua carreira musical compondo para vários artistas e chegou até a lançar um álbum com covers de Depeche Mode, Tears For Fears e New Order, entre outros, sob o pseudônimo de Sue Ellen, mas apenas após a estréia de seu single “Habits” (2013) – que viralizou e chegou ao top 5 no Hot 100 da Billboard – a sueca deixou o status de anonimato e passou a ser vista como uma promissora estrela a ser observada. Somando o sucesso do carro-chefe de seu EP Truth Serum á divulgação de seu então recém lançado álbum de estréia, Queen Of The Clouds, o sucesso era absoluto, as pistas tocavam incessantemente a dolorosa canção hedonista que a revelou como superstar.
Recém chegada na indústria, seu single “Talking Body” bombardeava as rádios; era a voz do hit “Heroes” do DJ e conterrâneo Alesso; parcerias com Adam Lambert, Coldplay, Nick Jonas, Years & Years e até mesmo Taylor Swift, que lhe rendeu o palco da 1989 Tour e dividir vocais numa performance inesperada de “Talking Body”. Fora isso, a canção de Ellie Goulding para o longa 50 Tons de Cinza, “Love Me Like You Do”, a qual foi escrita por Tove, havia sido indicada ao Grammy e pré-indicada ao Oscar. Com o sucesso instantâneo, os números e o reconhecimento, a expectativa era tamanha acerca de seu próximo projeto. Conseguiria Lo superar o sucesso de seu álbum de estréia?
Em dezembro de 2015, a sueca disse em entrevista que o contemporâneo The Weeknd era uma de suas inspirações para o álbum e sem mais informações sobre, a produção do disco seguiu sigilosa, até que através de imagens misteriosas com legendas sugestivas publicadas em suas redes sociais, aconteceu o anuncio oficial do lead single de seu novo projeto. “Cool Girl” foi lançada em 4 de Agosto de 2016 e seu vídeo musical no dia 19 do mesmo mês. A música inspirada no filme Garota Exemplar (2014) serviu como aperitivo do mergulho electropop que viria a ser o álbum e, visualmente, Tove havia criado um enigma com um vídeo no mínimo perturbador e instigante. A cantora aproveitou o impacto midiático causado pelo seu novo clipe e fez o anuncio oficial: Seu novo álbum Lady Wood seria lançado dia 28 de outubro.
Polêmico em todos os aspectos, o nome do álbum causou espanto: Lady Wood é um termo usado para designar o ápice da ereção feminina. E com a capa não seria diferente; era muito similar a Like A Prayer da Madonna, porém, segundo a própria artista, uma mera coincidência, uma vez que sua inspiração para a capa do álbum teria sido o Sticky Fingers, LP dos Rolling Stones.
Com fotos contendo nudez, letras introspectivas e batidas caóticas, parecia não poder melhorar, porém, Tove deu o arremate final e surpreendeu a todos quando lançou Fairy Dust, o primeiro capítulo visual de seu álbum – que inclui o vídeo de “Cool Girl” -, dirigido por Tim Erem – que segundo a própria cantora “captou sua essência visualmente”, o curta narra a trajetória de Tove e seu alter-ego destrutivo, que ganhou vida na pele da atriz Lina Esco. O curta de pouco mais de 30 minutos contém todas as 6 músicas do capitulo homônimo também presente no álbum, além de “What I Want for the Night (Bitches)”, uma faixa bônus durante os créditos – onde a cantora aparece se masturbando.
A recepção da mídia foi variada; a crítica foi unânime e não poupou elogios quanto à filmagem e a produção técnica do vídeo, porém quanto ao roteiro, as diversas opiniões foram contrastantes. O fato é que mesmo se tratando de um material ousado, que atrai olhares muito mais pelo conteúdo controverso que pela real mensagem, a intenção de Lo foi criar um registro “Brutalmente Honesto, Lindamente Sombrio” – como a própria o descreveu. Os longos diálogos do vídeo são quase sempre metafóricos e em outrora parecem sem sentido ou forma, ou sequer são percebidos pelas pessoas que o assistem simplesmente pela refutação e o alvoroço que causa uma mulher com controle sob sua figura sexual. Com uma abordagem explicita sobre amor, sexo, drogas, desilusão, solidão, vícios, descontrole emocional e psicológico, a obra incorpora tópicos que em outras ocasiões foram usados simplesmente para atrair atenção e transcorre com tom discursivo feminista. Obviamente, um vídeo de difícil compreensão sem conhecimento prévio sobre as idéias presentes no curta, porém após a familiarização com o conceito criado pela artista, compreende-se que o álbum liricamente, musicalmente e visualmente é um perfeito encaixe, ilustrando o medo e a vulnerabilidade de uma mulher e seu auto descobrimento em vários aspectos, um retrato cru de quem vive na linha tênue entre a dor e o prazer, um registro metalinguístico criado sob as mesmas condições que retrata; o qual cede e explora a escuridão interna na intensidade de um orgasmo.
Diante de um material extremamente complexo, esquecemos de dar continuidade a pergunta feita no início do texto; Conseguiria Tove superar o sucesso de seu álbum de estréia? A resposta em números é: A cantora segue bem, seu novo álbum segue no topo das listas nas plataformas de streaming, sua nova turnê mundial desembarca no Brasil em março para o Lollapalooza e o crescimento de sua popularidade é constante. Porém, o que verdadeiramente a edifica como uma das grandes artistas da nova geração não é o fato de ser uma cantora-compositora de êxito em números, é a rara capacidade de aliar as metas comerciais estipuladas, a pressão imposta pela indústria fonográfica e mesmo enquanto produto, manter sua identidade e usar sua arte como ferramenta de questionamento e inovação. Muitos esperavam e até duvidavam que Tove Lo se superasse e, de fato, ela não se satisfez apenas com a façanha da superação, era necessário mais. Ela se reinventou.