O feriado é aquele período do ano em que você está disposto a fazer coisas que não esperava ou, como nesse caso específico, não achava possível fazer.
Formado por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel em 1995, o duo francês AIR faz parte da minha lista de coisas ouvidas a um bom tempo, mas ver a dupla ao vivo não era algo que fazia parte da minha lista e até podemos colocar na mesa a questão prioridade, mas o fator principal eu vou creditar a minha pouca fé numa chance de ver a banda no Brasil.
Pois bem: Eis que o Popload resolveu esticar sua festinha de dez anos com mais alguns eventos em 2016 e, entre eles, nos premiou com um show do AIR… em um feriado. Era a pedida perfeita para arrumar a mochila, sair de Belo Horizonte e ir rumo a São Paulo para ver de perto o que Nicolas e Jean poderiam fazer no palco do Audio Club.
São vinte anos de carreira de uma dupla consolidada no cenário musical, que entrega em cima do palco um live eletrônico de raiz, aquele eletrônico moleque transante analógico gostoso de se ouvir de olhos fechados sem ser incomodado por ninguém – ou fazendo sexo, se preferir – e, ainda que o setlist tenha sido curto – apenas 14 músicas, a dupla transitou pelos sucessos da carreira e arrancou suspiros e comemorações dos fãs, principalmente nas faixas vindas do álbum Moon Safari.
Afinados no palco e visivelmente felizes com a recepção do público, o AIR entregou um show muito acima das minhas expectativas, principalmente por agradar a minha listinha pessoal ao tocar “How Does It Make You Feel?”, “People in the City” e, claro, “Sexy Boy”. Muito do que se via no palco, além da competência esperada, eram os sorrisos de Nicolas e Jean. E aquilo bastava. Quem acompanha a banda, sabe que o que sobra em qualidade falta em conversa e isso não seria diferente em cima do palco. No máximo, se ouviu um “obrigado, Brasil” bem tímido em meio a muitos aplausos e adoração.
Entretanto, como nem tudo são flores nessa vida, ser feliz pagando R$15 em cada lata de cerveja consumida é algo que não consigo conceber nem se eu tivesse ganhado na Megasena (na qual apostei e, claro, não ganhei) sorteada naquela noite de 15 de novembro. Apesar disso, curtir o show com o nível mais alto de sobriedade da vida fez bem por dois motivos: Viajar de verdade nas músicas do AIR sem ajuda de aditivos e sair do Audio Club se perguntando porque as pessoas arrumam tanto assunto para colocar em dia enquanto um artista foda está no palco.
Shows… como não amá-los, né?