Por Matheus Gouthier
A ultima vez que eu escrevi sobre um lead single de Lady Gaga eu tinha feito 15 anos há pouquíssimo tempo; Agosto de 2013, era sobre “Applause”, do tão famigerado ARTPOP, álbum que foi dedicado do início ao fim ao rito de criação, a dor da artista e toda a conflitante fúria que envolve sua atmosfera artística e pessoal simultaneamente.
Desde que foi anunciado o nome da música, ”Perfect Illusion”, eu não soube o que pensar, nem esperar, o título era extremamente óbvio para ser real, soava em certo ponto, amador demais. Bem antes disso, quando Gaga começou a dar sinais do que estaria por vir, especialmente quando regravou o clássico disco-funk ”I Want Your Love”, sob a produção de Nile Rodgers para a campanha da marca TOM FORD, todos estavam certos que sua próxima ”era” seria diretamente ligada aos clássicos estilos musicais americanos do século passado repaginados com a sofisticação pop sempre presente em seu material, uma espécie de resgate somado ao contemporâneo.
Tal teoria ganhou força quando Gaga anunciou que estava em estúdio com seu amigo e produtor de longa data, o sueco-marroquino RedOne, responsável por produzir vários de seus maiores sucessos (“Bad Romance”, “Judas”, “Alejandro”, “Poker Face”, etc.). A química criativa existente entre a dupla gerou frutos que mudaram a face da música pop neste século e a possibilidade de um reencontro gerou excitação não só em seus fãs, mas em todo e qualquer amante de música pop. Diane Warren, Giorgio Moroder e Elton John repletos de confissões, num vai e vem de incertezas que só geraram mais e mais expectativas. Expectativas essas que sofreram um grande baque quando Mark Ronson foi anunciado como um dos produtores do álbum e RedOne concedeu diversas entrevistas dizendo que não sabia mais se as oito canções que havia produzido para o álbum estariam presentes neste e que a música originalmente planejada para ser o carro-chefe havia sido substituída por outra/cancelada.
Em x entrevistas, Gaga confessou que sua nova intenção é muito mais profunda musicalmente que qualquer coisa, com “Perfect Illusion” – co-produzida por BloodPop, Kevin Parker do Tame Impala e Mark Ronson (NÃO ME PERGUNTEM COMO ISSO DEU CERTO) – é notável uma evolução completa; A música apresenta um arranjo complexo e extremamente detalhado enquanto a letra carrega uma poética cheia de dor que vai de encontro ao ritmo sincopado da faixa. Visualmente, Lady Gaga nunca esteve ”tão ela”, mas ainda é cedo para julgar a proposta visual do álbum tendo em base apenas um single.
A música com certeza não agradou a todos, mas é necessário olhar para a longa trajetória da artista para então perceber que tudo nos indicava que distante de todos adereços que marcaram suas diversas fases ao longo de seus 8 anos de carreira, a novidade não seria – somente – um resgate aos clássicos estilos americanos, mas também um resgate a imprudência – combustível para a alma criativa – e as demais sensações e sentimentos humanos, explorados numa perspectiva diferente de seus álbuns anteriores que chamavam atenção por suas alegorias, ilustrando também, muitas vezes a dor, entretanto, de maneira metafórica.
“Perfect Illusion” é um êxtase, uma experiência catártica para alguém que conheceu a sede de destruição midiática e sobreviveu. Sobreviveu para lançar uma música que soa como um grande ”foda-se” para aqueles que tentaram a derrubar, aqueles que se baseiam em tabelas, aqueles que acreditam que números são sinônimos de qualidade. Hoje, a mulher que carrega a filosofia de Rilke em seu braço, o maior ícone da nossa geração, está finalmente fazendo o que ela realmente quer fazer: Transformando sua luz e sua escuridão em melodias, sem medo do que o mundo possa pensar, por puro e espontâneo amor á música.
Obrigado Lady Gaga, eterno amor e infinita admiração.