O Audiograma está prestes a inaugurar um novo momento dedicado para voltar atenção maior para a cena de rock independente da capital mineira. Fora o show do Planar (RJ) no ano passado, não me lembro, sinceramente, da última vez que escrevi sobre apresentações de bandas de BH. É quase como um retorno aos tempos em que participava do Rockinpress e dava uma força falando sobre eventos que aconteciam por aqui.
A banda responsável por “inaugurar esse rolê” nas páginas laranjas é justamente o Tempo Plástico. Enquanto eu buscava as atrações para incluir na primeira edição da festa AUDIOsessions, parceria do Cinema de Buteco com o Audiograma, amigos recomendaram o som desses caras. Nunca tinha ouvido falar. O nome me fez pensar no sociólogo Zygmunt Bauman e imaginei uma pegada mais tilelê, mas, porra, não. Com um visual bem anos 1990 e uma sonoridade influenciada por Alice in Chains e Queens of the Stone Age, fiquei surpreso com a qualidade do projeto. A primeira oportunidade de conhecer essa banda ao vivo foi no Festival Sensacional, que fechou o parque Municipal na sexta-feira e sábado, 24 e 25 de junho. Com entrada franca, apesar do frio ser um bom motivo para ficar em casa curtindo Orange is the New Black na Netflix.
Divulgando o álbum IT, lançado em 2015, a Tempo Plástico iniciou a apresentação com uma releitura de “Down em Mim”, dos deuses do rock nacional Barão Vermelho. De cara deu para sentir como seria a pegada da noite: bateria reta, guitarra pesada e cheia de riffs, baixo equalizado para ser sentido e ouvido (o que é um alívio, considerando que poucos instrumentos possuem essa capacidade de bater direto no peito da pessoa ou dar a sensação de que o chão está mexendo. Pena que muitos baixistas prefiram timbres mais agudos ao invés de aproveitar a pressão das frequências graves. Palmas para Luciano Porto, baixista da banda), e um vocalista que permite ao público entender o que ele está dizendo, mesmo quando transita entre português e inglês.
Engraçado que mesmo ouvindo tão pouco da banda, me peguei acompanhando a letra de “Hoje eu Acordei” e “Hit do Verão”, que realmente faz jus ao seu nome – independente de estarmos na estação errada. Sem cair nas armadilhas de ser pop cara de pau, o Tempo Plástico combina a “sujeira” com letras sobre relações humanas e constrói obras marcantes que grudam nos ouvidos de quem aprecia esse estilo mais chapado. Ideal para quem gosta de fechar os olhos e simplesmente curtir o pessoal que está no palco.
O grande momento da noite foi a participação da drag queen Dolly Piercing, que cantou “Por um Fio” e uma releitura de “Ando Meio Desligado”, dos Mutantes. Mais do que uma apresentação teatral interpretando a letra, Dolly também somou a sua voz com a do vocalista Fabio Gruppi. O show já estava vencendo o frio com larga vantagem, mas a partir daí a “vitória” foi garantida.
O Tempo Plástico deixou o palco do Festival Sensacional convidando o público para um reencontro durante a Virada Cultural, no viaduto Sta. Tereza. Como o palco estava localizado próximo da saída do parque, vale mencionar a quantidade de pessoas que deixou de ir embora para casa mais cedo para acompanhar um pouco da apresentação da turma. Se isso não for garantia de qualidade da obra e do show, não sei o que seria…