Lá em 2000 (obrigado ao amigo Sami Auni pela correção), uma empresa de telefonia anunciou que Belo Horizonte receberia o Foo Fighters, projeto do ex-baterista do Nirvana e que até aquele momento ainda não havia pisado em solo brasileiro. Na época, Dave Grohl ainda se dizia um alucinado por extraterrestres e o tal do “E.T. de Varginha [cidade do interior de Minas]” ainda era um assunto que atraía bastante atenção dos apaixonados por ufologia. Por motivos diversos e incertos, o show não aconteceu e a capital mineira teve que esperar quase 20 anos para poder ver Grohl e companhia tocando na cidade.
Com pouco mais de 17 mil pessoas presentes, a Esplanada do Mineirão recebeu o último show da turnê brasileira de Sonic Highways. Ainda que Belo Horizonte tenha sido o local com o menor número de ingressos vendidos (mesmo após a troca de local da apresentação, que estava originalmente marcada para o famigerado Mega Space), o público realmente não decepcionou e fez questão de cantar junto todos os hits. Aliás, verdade seja dita, mais parecia uma turnê de “Greatest Hits” do que do último disco: apenas “Something for Nothing”, “Congregation” e “In the Clear”, sendo a terceira uma forte candidata ao posto de “músicas obrigatórias de shows do FF”.
Porém, antes da atração principal subir ao palco, o público acompanhou os shows de Raimundos e Kaiser Chiefs. Com pouco tempo para conversar, Digão iniciou a apresentação de sua banda com o clássico “Eu Quero Ver o Oco”. Foi o bastante para garantir a atenção da turminha que esperava ansiosa por Dave Grohl. Cerca de quarenta minutos depois foi a vez dos britânicos do Kaiser Chiefs abrirem com “Everyday I Love You Less And Less” e realizarem o melhor dos quatro shows da turnê brasileira – embora aparentassem certo cansaço. “Na Na Na Na Naa” foi novidade, já que não havia sido tocada nas outras cidades. Quando se trata do Kaiser Chiefs, é sempre certeza que será um show animado para todo mundo dançar e se divertir. Com seis shows no Brasil, eles nunca falharam em agradar o público.
Um dos principais defeitos da performance do Foo Fighters é a sua previsibilidade. Chega a ser ofensivo, a começar da mania de perfeição em começar pontualmente às 21h15. O rock de Dave Grohl se tornou uma peça de teatro minimamente ensaiada e sem espaço para improvisação. São as mesmas músicas, as mesmas piadas, as mesmas interações e espaço zero para improvisações. BH pode se dizer orgulhosa de ter presenciado uma brincadeira inusitada em “Breakout”, quando o sósia Rafa Giacomo (da banda cover Monkey Wrench) surgiu correndo e cantando o começo de uma das canções mais adoradas pelo público. Não foram poucos que não perceberam a mudança e acreditaram que se tratava do próprio vocalista. Fora isso, o roteiro foi o mesmo dos três shows anteriores.
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No entanto, há de se considerar que era o primeiro show de mais de 70% do público presente. E pensando justamente nisso, que o FF fez uma apresentação memorável para ficar guardada no coração de cada fã que saiu com o rosto vermelho e afirmando categoricamente que havia sido o “melhor show de sua vida”. Foram 23 músicas no total, sendo que quatro eram covers e mais duas que ficaram de fora na última hora: “Hey Johnny Park” e “This is a Call”.
A turnê comemorativa do lançamento de Sonic Highways é nada mais que uma celebração da banda para homenagear o rock em geral. No meio do show, eles se reuniram num palco giratório (U2 feelings) entre a pista premium amarela e verde, e tocaram covers de Kiss, Rush, AC/DC e Queen. A pausa é um momento de alívio para o vocalista não forçar tanto a sua voz, mas ao mesmo tempo quebra o ritmo da apresentação. Como se não bastasse as longas jams em “Breakout”, “My Hero” e especialmente em “Monkey Wrench”, o Foo ainda faz opção de tocar covers ao invés de privilegiar seu próprio repertório. Podemos dizer que são três shows embutidos no preço elevado do ingresso. Compensou? Aparentemente sim.
Reforçando a imagem de uma das maiores bandas de rock da atualidade, o FF não se arriscou e optou pelo produto garantido: um show pesado, com músicas de todas as fases e sucessos conhecidos da maioria do público. Somando com o carisma e experiência do vocalista em ganhar a plateia, não tinha como dar errado mesmo com o ingrediente amargo da previsibilidade.
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Fotos: Polly Rodrigues | Vídeo: Ana Flávia Miranda