Podemos dizer que Robin Thicke foi do céu ao inferno em muito pouco tempo, hein?
Apesar de bons trabalhos anteriores, Robin era tido como um cantor que não tinha um grande sucesso. Assim foi até “Blurred Lines” explodir e o transformar no cara mais amado e odiado da música pop. Amado por aqueles que acharam a música sensacional (prazer, sou um desses). Odiado pelos que viram no single – e no álbum como um todo – manifestações machistas e de degradação as mulheres. Para completar o cardápio de polêmicas, temos a apresentação com Miley Cyrus no VMA, que lhe rendeu diversas críticas; e todos os problemas pessoais que resultaram no fim do casamento com Paula Patton. No fim, tudo caiu como uma bomba em seu colo.
Quando a separação foi anunciada, o que se viu de Thicke foi a atitude de uma pessoa desesperada (e eu sei do que estou falando). Continuou usando sua aliança de casamento em público e se referia a Paula como “minha menina” sempre que podia. Assim se seguiu até o Billboard Music Awards, em maio passado, quando Robin revelou ao mundo “Get Her Back”, a primeira música de seu novo álbum, Paula.
Do momento em que Robin viu Patton o deixar em diante, parece que tudo o que foi obtido com “Blurred Lines” ficou para trás. Enquanto todos esperavam um álbum “degradante e dançante” como o anterior, Robin praticamente se entrega ao desespero e, em catorze músicas, faz o que todo músico apaixonado recém abandonado faz: demonstra o quanto a pessoa é importante e a pede para voltar. Gravado em apenas uma semana, Thicke faz uma passagem por toda a sua vida ao lado de Patton. A pede para voltar, relembra do passado e, em muitos momentos, resgata o seu passado como “R&B man” já apresentado em álbuns como Love After War, de 2011; ou o Something Else, de 2008.
Paula é repleto de boas sacadas, mesclando momentos que evidenciam suas habilidades e outros que soam desesperados, consequência de toda a carga emotiva presente em sua vida. Além de dialogar com o seu passado enquanto pessoa, o álbum conversa também com vários elementos do R&B clássico. Estão ali as backing vocals, a sonoridade característica, o jeito rasgado de alguns versos e, como em muitos casos conhecidos, a dor nas letras, por mais “vazios” que alguns versos possam parecer.
O álbum abre com “You’re My Fantasy” e seus quase seis minutos de pura imploração. “Get Her Back” não deixa por menos e dá prosseguimento ao projeto “volta Paula” em grande estilo. As duas músicas já são suficientes para notar que Thicke não precisa usar toda sua extensão vocal para se sair bem, um artificio que ele usou demais em Blurred Lines. “Still Madly Crazy” é simples e, só com um piano, o cantor exalta o quanto é maluco pela moça, enquanto “Lock The Door” é igualmente simples mas incrivelmente viciante.
“Love Can Grow Back” é uma mistura de todo o clima sexy de um cabaret com uma construção gospel muito forte. Aliás, é uma das músicas que mais se aproximam dessa classificação em todo o álbum e, como bem lembra a Vibe em um artigo com 13 pontos importantes sobre o disco, a música pode ser vista como um “Gospel Sexy”, ainda que o conceito não seja… digamos… apropriado, se é que você me entende.
Enquanto “Black Tar Cloud” possui uma das letras mais interessantes – com Thicke ligando para a emergência e tendo que “contar a verdade” para o 911, representado pelas backing vocals – do álbum, músicas como “Whatever I Want”, “Living In New York City” (que lembra muito “Living For The City”, de Stevie Wonder), “Too Little Too Late” e “Tippy Toes” possuem ótimas melodias e são resultado de toda a experiência musical de Robin, que escreveu todas as faixas, produziu algumas delas, toca piano, baixo e até bateria quando preciso. Para fechar a declaração de amor, cinco minutos de “Forever Love” onde Thicke usa apenas um piano para falar sobre tudo o que aprendeu nos últimos meses e de sua vontade de manter a família unida ao lado de Patton.
Robin cuida do álbum como se fosse a sua última chance. Não musical, porque isso ainda deve durar, mas a sua última chance com a (agora) ex-esposa. Ele apostou naquilo que sabe fazer de melhor, canalizou a dor e a vontade de recolocar a vida nos eixos e transformou tudo isso em 51 minutos de um pedido incessante de retomada. Se o resultado vai ser suficiente para fazer Paula Patton voltar ninguém sabe (e nem Robin), mas a aposta foi feita. E ela não ficou tão ruim assim.
Robin Thicke – Paula
Lançamento: 01 de julho de 2014
Gravadora: Interscope
Gênero: R&B
Produção: Robin Thicke
Faixas:
01. You’re My Fantasy
02. Get Her Back
03. Still Madly Crazy
04. Lock the Door
05. Whatever I Want
06. Living in New York City
07. Love Can Grow Back
08. Black Tar Cloud
09. Too Little Too Late
10. Tippy Toes
11. Something Bad
12. The Opposite of Me
13. Time of Your Life
14. Forever Love