Revisitando o passado, mas sem esquecer do presente. Talvez essa seja a frase que melhor define a atual fase do Skank e, bem traduzida em seu novo álbum de estúdio, Velocia. Seis anos depois de Estandarte, Samuel Rosa (voz e guitarra), Lelo Zaneti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferretti (bateria) promovem um passeio por todos os recém-completados 23 anos de carreira, caminhando entre o dub e o reggae que eram marca forte no início de carreira e o eletropop que se fez presente no último álbum, abrindo espaço inclusive para abordar o tema futebol, trazendo imediatamente a memória o clássico “É Uma Partida de Futebol”.
Produzido por Dudu Marote – que trabalhou com a banda em Calango, O Samba Poconé e Estandarte, e Renato Cipriano, Velocia já abre falando de futebol com “Alexia”. Com uma melodia que fica na cabeça e letra que faz homenagem a jogadora espanhola Alexia Putellas, a música é também uma homenagem à cultura espanhola num todo, com citações a nomes como Gaudi e Buñuel, entre outros. “Multidão” abre as participações de Velocia. Em um reggae com algumas pitadas de rock, Samuel e BNegão versam sobre os protestos que fizeram parte do cotidiano do brasileiro em 2013, mostrando que os mineiros ainda possuem uma veia política, já demonstrada anteriormente por músicas como “Esmola”, “Sem Terra” ou “In(dig)nação”. Apesar de ser uma boa música, o resultado acaba não causando tanto impacto como poderia ou deveria.
“Do Mesmo Jeito” é talvez a música que mais se aproxima dos hits festivos que a banda tanto nos entregou nos últimos anos. Com uma ótima letra de Lucas Silveira (Fresno), é difícil não ouvir a música e a imaginar como single. Todo o trabalho instrumental aliado a voz do Samuel fazem da música uma das grandes apostas de Velocia. É pra tocar em show com todo mundo pulando e cantando, como acontece em “Vou Deixar” e “Mil Acasos”, só para citar algumas. Na sequencia, vem “Aniversário” e a bela participação da paulista Lia Paris. A cantora divide os vocais e a composição com Samuel Rosa em uma música que remete ao Estandarte mas, ao mesmo tempo, nos faz lembrar do Cosmotron, pelo menos em sua letra.
“Ela Me Deixou” é o primeiro single do álbum e, quando a ouvi solta pela primeira vez, não tive uma grande conexão. Ouvindo encaixada no álbum, ela ganha um valor maior mas, ainda assim, o seu pop reggae romântico continuou sem me conquistar. E olha que se tem uma banda que consegue me emocionar quando resolve falar de sentimento é o Skank e a prova disso vem logo depois de “Ela Me Deixou”. “Esquecimento” é de apertar o coração e, como não podia ser diferente, se trata de mais uma parceria do Skank com Nando Reis. Com arranjos doces e um violino marcante, a música remete de forma sutil a “Sutilmente” (não resisti a essa analogia, desculpa) ou a “Resposta”, uma das primeiras baladas de sucesso da banda e que também é fruto da parceria com Nando.
“Périplo” é uma canção tão dançante que, se tivesse sido lançada no Estandarte, se encaixaria perfeitamente. Não que ela não se encaixe em Velocia, claro. É só uma forma de pontuar a música na linha cronológica da banda. “Rio Beautiful” é outra música capaz de ficar na cabeça e fruto de uma nova parceria do Skank com Emicida. Se eles já tinham trabalhado juntos – e bem – em “Presença”, repetem a dose em “Rio Beautiful” e “Tudo Isso”, músicas onde o rapper contribuiu com letras fortes e de boas rimas, características próprias de Emicida. Por sua vez, “Galápagos” trás mais Nando Reis que, além da letra, divide os vocais com Samuel.
Se Velocia pode ser encarado por muitos como uma releitura de toda a carreira do Skank, faltava algo com Chico Amaral, certo? Um dos grandes parceiros dos mineiros, o compositor de músicas como “Mandrake e Os Cubanos”, “Três Lados” e “Jackie Tequila” dá as caras no álbum em “A Noite”, música com fortes metais e a característica comum dessa parceria: Música para a multidão dançar e cantar junto.
Velocia é o retrato dos 23 anos de carreira do Skank. Está tudo (ou quase tudo) inserido em sua fórmula de composição. Talvez o disco não contemple muito os fãs apaixonados pela trilogia “brit-rock” da banda – formada por Maquinarama, Cosmotron e Carrossel (como o caso deste que vos escreve), mas trata-se de uma passagem bem fiel pela história da banda mineira. O resultado é positivo, ainda que pessoalmente eu esperasse algo além. O que seria esse algo eu realmente não sei dizer mas, fora “Esquecimento”, o disco num todo não causou aquela paixão impactante. Felizmente, aconteceu o mesmo com o Estandarte há seis anos, então pode ser apenas uma questão de tempo.
Skank – Velocia
Lançamento: 17 de junho de 2014
Gravadora: Sony Music
Gênero: Pop/Rock / Eletropop / Reggae
Produção: Dudu Marote e Renato Cipriano
Faixas:
01. Alexia
02. Multidão (Part. BNegão)
03. Do Mesmo Jeito
04. Aniversário (Part. Lia Paris)
05. Ela Me Deixou
06. Esquecimento
07. Périplo
08. Rio Beautiful
09. Galápagos (Part. Nando Reis)
10. A Noite
11. Tudo Isso