Letras inteligentes aliadas a arranjos bem trabalhados e que fogem do que é praticado atualmente pelo mainstream do rock nacional. Só por isso, já diria que ouvir o recente álbum do Selvagens à Procura de Lei foi uma das mais gratas surpresas que tive nos últimos meses.
Após conquistar Fortaleza – onde surgiu em 2009, Rafael Martins (vocal e guitarra), Gabriel Aragão (vocal e guitarra), Caio Evangelista (baixo) e Nicholas Magalhães (bateria) já são vistos por muitos como a grande revelação do rock nacional nos últimos anos. Outros vão mais longe e já pintam o SAPDL como a “salvação do rock nacional”, colocando na banda um peso nas costas muito grande, principalmente se a gente olhar para trás e ver as bandas que surgiram neste espaço de tempo.
Com um pé nos anos 80 e influências que vão de The Strokes e Arctic Monkeys, passando por Lobão, Cazuza e Renato Russo até chegar nos Beatles, a banda lançou no ano passado o seu segundo álbum, auto intitulado. Nele, 12 músicas que vão do rock explosivo de “Brasileiro” até momentos introspectivos e mais arrastados, capazes de mostrar a diversidade sonora da banda, como é o caso de “Sr. Coronel”.
Lançado pela Universal, o álbum abre com “Massarrara” e duas guitarras já jogando na sua cara que “isso aqui é rock n’ roll”. Ao longo da música, riffs que remetem a bandas que fizeram sucesso no começo dos anos 2000. “Juventude Solitude” tem uma pegada psicodélica, mostrando uma melodia linda – sobretudo durante o refrão – e uma letra que lembra perguntas importantes feitas pelos (e para os) jovens como “Será que você vai se tornar o que esperam de você?”. Outras músicas de pegada mais rock n’ roll do disco são “Brasileiro”; um retrato marcante e não muito bonito de se ver da população do Brasil, cujo ano “só começa quando passa fevereiro”; e “Mucambo Cafundó”, que nos lembra que moramos “no país do futuro”, ainda que ele não pareça querer sair disso. Nas duas, uma levada rock com guitarras pesadas e ótima presença da cozinha da banda.
O disco também tem folk com “Música de Amor Número Um” e a tradução da vontade existente em cada um de encontrar uma Cláudia (ou algo parecido) para chamar de sua. Na sequência, “Despedida” trás o relato de um fim de relacionamento. A primeira balada propriamente dita do disco tem a participação do baterista Nicholas nos vocais e, provavelmente, é uma música que vai ficar na sua cabeça após ouvir. A banda também fala de amor em “Enquanto Eu Passar Na Sua Rua”, que é uma balada romântica com pegada mais pop/rock.
Essa mescla de estilos e o amadurecimento da banda fica clara em músicas como “Sr. Coronel” e “Crescer Dói”, que possuem dois arranjos lindos. Nas duas, um piano dá o tom da música e são as atrações principais das melodias, casando perfeitamente com os demais instrumentos, alguns deles até “deixados de lado” em alguns momentos. “Carossel em Câmera Lenta” me fez lembrar de Weezer, enquanto “Mar Fechado” se assemelha bastante a algumas canções do Los Hermanos, com aquele começo lento e explosão no refrão. Para fechar o álbum, uma pitada de Beatles com “O Amor Existe, Mas Não Querem Que Você Acredite”.
Apesar de algumas conquistas importantes no curriculum em apenas três anos de vida, talvez seja cedo para elevar o Selvagens à Procura de Lei ao status de “salvação da lavoura” e pode ser que a banda nem queira esse fardo para carregar tão cedo. Contudo, é importante ressaltar que o quarteto tem talento mais do que suficiente para conquistar de vez o público brasileiro e, com o passar do tempo, deixar o seu legado no rock nacional. O que vai acontecer, a gente assiste nos próximos capítulos.
Selvagens à Procura de Lei – Selvagens à Procura de Lei
Lançamento: 2013
Gravadora: Universal Music
Gênero: Rock / Pop Rock
Produção: David Corcos
Faixas:
01. Massarrara
02. Juventude Solitude
03. Brasileiro
04. Música de Amor Número Um
05. Despedida
06. Sr. Coronel
07. Carossel em Câmera Lenta
08. Mar Fechado
09. Crescer Dói
10. Enquanto Eu Passar Na Sua Rua
11. Mucambo Cafundó
12. O Amor Existe, Mas Não Querem Que Você Acredite
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