Belo Horizonte foi cruel com o público acostumado a frequentar grandes shows durante o final de semana entre 1 e 3 de dezembro. Eram tantas atrações que dava para ficar indeciso ou desejando se dividir em mais de um para conseguir dar conta de tudo. Infelizmente, ainda não é possível se multiplicar nem mesmo para o açoite assalariado quanto mais para o lazer. Rogério Skylab, Paulinho Moska, Humberto Gessinger, Ney Matogrosso, Paul McCartney e Caetano Veloso eram algumas das opções – alguns deles tocando no mesmo dia, inclusive.
Tentei me organizar para ver o Ney Matogrosso na sexta, Caetano no sábado e o ex-Beatle no domingo. Só não tive sucesso na empreitada de sexta, já que os ingressos estavam esgotados e a produção não conseguiu acomodar o nosso pedido de credenciamento. Mas vejam só as coincidências da vida: se eu não fui até o Ney, ele veio até mim: um dos maiores nomes da história da música estava no meio do público que lotou o Arena Hall para ver Caetano no sábado.
Foi a minha primeira vez assistindo a uma apresentação de Caetano. Se os boatos se concretizarem, possivelmente será a última. O cantor estaria considerando fazer shows apenas na Bahia e deixaria de lado as turnês pelo mundo afora. Esse medo me estimulou a não abrir mão do evento, mesmo com um mega festival internacional acontecendo em São Paulo. E, poxa vida, como foi bom saber que fiz a escolha certa.
Turnê Meu Coco
Com Ney Matogrosso na plateia, Caetano encanta fãs em show de ingressos esgotados em BH
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— Jornal Hoje em Dia (@jornalhojeemdia) December 3, 2023
Caetano Veloso ao vivo é sublime. Com sua leveza e bom humor, ele conversou com o público em diversos momentos. Reclamava da microfonia com uma elegância surpreendente. O normal é reclamar com firmeza e quebrar o pau, como a Maria Bethânia fez com o retorno do baixo há algumas semanas. Ou seja, Caetano estava em paz e celebrando uma carreira tão incrível que nada afetaria sua noite de frente para os mineiros.
Durante 1h30, Caetano apresentou obras conhecidas e novidades, como as faixas do seu último disco, Meu Coco, de 2021. Enquanto é comum para diversos artistas viverem apenas do passado glorioso, Caetano faz questão de mostrar que continua criando músicas relevantes. Mesmo que a maioria das pessoas esteja lá pelo passado, o que não é problema algum, o show é pensado para ser um olhar para o futuro.
Seria impossível sair do show sem dizer que faltaram várias músicas. No caso, “Sozinho”, “Alegria, Alegria”, “Não enche”, dentre outras canções apaixonantes. Mas isso não desanimou ninguém. “Leãozinho”, “Sampa”, “A Luz de Tieta”, “Baby”, “You Don´t Know Me” foram acompanhadas por uma legião de pessoas completamente apaixonadas.
Na parte da audiência, presenciei duas discussões um tanto bobas. Primeiro, ver um profissional de imprensa discutindo com uma PCD foi o fim da picada. Entendo perfeitamente que o público comum muitas vezes não entende o trabalho do fotógrafo ali tentando conseguir um bom registro. Existem situações em que as discussões avançam de forma grosseira porque o profissional teve o azar de cruzar com uma pessoa idiota. Mas a situação ali foi de pura imaturidade, falta de paciência e desrespeito. Se você incomoda, você pede licença, agiliza, pede desculpas novamente e vaza. Cabe à pessoa entender ou não. Agora discutir com ofensas é outro papo. Acredito que o público PCD precisa ter um espaço na primeira fileira para evitar essas situações de desrespeito. Já a outra discussão é coisa corriqueira de evento, mas ver homem gritando com mulher e ameaçando é o tipo de coisa que faz a gente ter certeza que tá tudo errado. Se nem com o Caetano fazendo um puta show essas pessoas se acalmam, só com Rivotril mesmo.
Felizmente, apesar das idiotices de alguns, o público não fez feio e como sempre tentava chamar a atenção do ídolo com gritos de “lindo”, “eu te amo” etc. Uma pessoa em especial, na arquibancada, me fez rir alto. Como se alguém tivesse pedido para ela “diminuir” suas demonstrações de amor, ela exclamou em alto e bom tom: “Não estou nem aí. Eu amo ele. LINDOOO!” Esses detalhes tão pequenos são parte do que mais amo em ser uma testemunha ocular dessa relação mágica entre fãs e artistas. Também destaco uma vovozinha com os cabelos brancos como a neve, curtindo o som, dançando e tomando a sua cerveja. A música proporciona emoções para qualquer idade e isso é lindo.
Torço para os boatos não serem reais e que existam novas oportunidades de ver Caetano ao vivo porque uma vez só é pouco demais. Todo mundo deveria Caetanear pelo menos uma vez na vida.