Taylor Swift apresentou seu show em São Paulo e, agora, finalmente podemos dizer que um dos maiores espetáculos da música pop esteve no Brasil!
Nas últimas duas semanas, Taylor Swift esteve no Brasil com a The Eras Tour. Com shows no Rio de Janeiro e em São Paulo, a cantora arrastou multidões e quebrou recordes de público pelo país — em São Paulo, a cantora reuniu 150 mil pessoas no Allianz Parque, quebrando o recorde de público do estádio.
Fui uma das 50 mil pessoas que esteve no show do dia 25 de novembro, em São Paulo. Ou seja, fui uma das azaradas que perdeu o ingresso da cancelada Lover Fest, mas que teve a chance de comprar o ingresso da The Eras antecipadamente.
Durante as 3h30 de show que Taylor Swift fez em São Paulo, ela passa por todas as fases de sua carreira — as “eras”, como nós fãs de pop costumamos chamar cada nova fase de uma artista —, quase sem parar para descansar.
É um espetáculo, em que as mais de 3 horas passam em um piscar de olhos e deixam o público com vontade de mais.
Mas, antes de tudo, Sabrina Carpenter
Quem, assim como eu, descobriu a existência de Sabrina Carpenter depois dela ser apontada como o um dos motivos para Olivia Rodrigo escrever SOUR, seu disco de estreia, também fez outra descoberta durante os shows de Taylor Swift: todo mundo escreveria músicas sobre Sabrina Carpenter.
Em sua segunda passagem pelo Brasil em menos de um ano (ela fez parte do line-up do MITA e tocou no Rio de Janeiro e em São Paulo no primeiro semestre), Sabrina abriu os shows de Taylor e trouxe músicas do disco emails i can’t send fwd:, edição deluxe de emails i can’t send, lançado em 2022. Um dance-pop sexy, delicioso de se ouvir, cheio de letras grudentas para cantar, referências a ficantes, namorados e ex-namorados — ou seja, tudo o que gostamos de ouvir para nos divertir.
Extremamente simpática, ela interage e brinca com o público, muito receptivo e formado por fãs, toca guitarra e não quebra o clima de animação em momento algum. Até as músicas mais tristes, como o cover que Sabrina faz de Dancing Queen, do ABBA, tem seu charme. Ela abre o show com Read Your Mind, segue com Feather — que recentemente a envolveu em uma polêmica com a Igreja Católica — e segue cantando hit em potencial atrás de hit em potencial.
O grande destaque do show é Nonsense, última música que Sabrina canta e na qual costuma cantar um final diferente a cada show para homenagear a cidade onde está cantando, rendendo memes nas redes sociais.
No sábado (25), ela cantou:
“I’m a nine, but I’m a ten without clothes
He said im the prettiest, but how so?
Cause all the hottest girls are in São Paulo”
“I’m a nine, but I’m a ten without clothes
He said im the prettiest, but how so?
Cause all the hottest girls are in São Paulo”— Outro de “Nonsense” na segunda noite de #SaoPauloTSTheErasTour pic.twitter.com/o3CSObwesm
— Sabrina Carpenter Brasil (@scarpenterbr) November 25, 2023
Em livre tradução, “Sou nota nove, mas sou dez sem roupas/Ele disse que eu sou a mais bonita, mas como?/Se todas as garotas gostosas estão em São Paulo”.
Aclamada, Sabrina Carpenter deixa a sensação de que vimos uma cantora com muito potencial de se tornar uma grande estrela do pop nos próximos anos. Sorte de quem viu um dos oitos shows que ela fez no Brasil em 2023.
Sobre o espetáculo que foi Taylor Swift em São Paulo
A entrada pontual de Taylor Swift no palco ao som de Miss Americana & the Heartbreak Prince é o início de um êxtase que dura exatas 3 horas e 30 minutos. Desde o momento que ela aparece no palco com a frase “It’s been a long time coming, but” até o último “Thank you” antes de sair do palco, a cantora faz um show que mais parece um sonho — e, para muitas pessoas por lá, que esperaram por anos para ver a cantora em carne e osso, era isso mesmo.
É, como o próprio nome diz, um show dividido por eras: cada disco tem seu bloco de músicas, caracterizado por roupas e cenários diferentes. Taylor começa com Lover, e é recebida aos gritos pelo público que, a partir daí, não deixa de cantar uma só palavra de suas músicas: a famosa ponte de Cruel Summer, por exemplo, é cantada à todo pulmão, a ponto da voz de Taylor Swift quase não ser ouvida.
Aqui, precisamos fazer elogios à estrutura do show. O palco, gigantesco, cobriu boa parte do gramado do Allianz Parque, permitindo que você assistisse ao show com uma bela visão em qualquer setor. O telão cobre todo o fundo do palco e se divide muito bem entre artes e imagens da cantora, seus dançarinos e banda. A passagem de Taylor Swift em São Paulo até ganhou pontos a mais por ela ser provavelmente a primeira artista a usar um dos telões que fica nas pontas do estádio, permitindo a visão para quem estava na pista e, às vezes, não conseguia ver o que acontecia no palco.
Depois de Lover, vem Fearless, a primeira das regravações lançadas por Taylor e que tem You Belong With Me como single. O show segue com a era evermore — cenário de floresta, com uma vibe meio encantada, meio bruxa, e Taylor sendo ovacionada ao cantar champagne problems ao piano — e, finalmente, Reputation.
Opinião particular: acho o Reputation um dos discos mais fracos de Taylor Swift. Entendo todo o conceito por trás, toda a simbologia das cobras e o deboche que faz parte das letras, mas, mesmo assim, algo ali não me conquistou. Talvez seja a experimentação com hip-hop ou música eletrônica, que não funciona bem para a cantora, ou talvez o disco tenha sido lançado numa época que eu estava cansada da imagem dela.
O ponto é que Reputation é, provavelmente, a melhor era do show. A expectativa da aparição dela no palco, o som do salto batendo no chão que soa pelo estádio, as cobras mostradas na tela, os visuais impecáveis, os figurinos, as versões ao vivo de …Ready For It? e Look What You Made Me Do… Tudo ali me fez querer ter mais tempo da era Reputation no palco e me deixou mais ansiosa para a Taylor’s Version do disco.
Outro momento tão excitante quanto a era Reputation é a era Red. Além da versão de 10 minutos de All Too Well (que foi o que me fez começar a me perguntar como ela consegue decorar e lembrar de absolutamente todas as letras das 45 músicas que canta no show), é nesse momento que Taylor protagoniza um momento fofo e dá o chapéu que ela usa em 22 para uma das crianças da plateia — provavelmente em seu momento de maior contato com um brasileiro no dia — e deixa um de seus dançarinos completar a letra de We Are Never Ever Getting Back Together com um “nem fodendo“, que, também, é recebido aos gritos da plateia.
O show segue com a era folklore — betty é o ponto alto aqui, já que illicit affairs acaba encurtada para caber na setlist do show — e 1989, que traz a sequência impecável de Style, Blank Space, Shake It Off, Wildest Dreams e Bad Blood.
Depois, chega um dos momentos mais esperados do show: as surprise songs, duas músicas surpresas que Taylor deixou de fora da setlist e não tocou em nenhum dos shows anteriores da turnê. As escolhidas para a segunda noite em São Paulo foram Safe and Sound, parte da trilha sonora de Jogos Vorazes e que não era tocada ao vivo desde 2013, e Untouchable, que não era tocada ao vivo desde 2011 e faz parte da tracklist de Fearless. São versões belas das músicas, tocadas por Taylor respectivamente no violão e no piano, onde ela cria uma atmosfera intimista e quase individual, em que parece que ali só está ela e cada um dos fãs presentes.
Fechando o show, é hora da era Midnights, disco mais recente de Taylor Swift. O destaque aqui é Vigilante Shit, em uma perfomance sensual de deixar qualquer um de boca aberta. Não é um dos melhores trabalhos dela, mas é impossível não se pegar cantarolando Anti-Hero ou o refrão kitsch de Karma, última música da setlist.
Pontos negativos? Sempre tem. Mas, aqui, não é nada técnico e sim uma reclamação pessoal de fã mesmo: encurtar grandes músicas da carreira, como Style, I Knew You Were Trouble, Bad Blood e illicit affairs, uma das letras mais bonitas de folklore, é um erro. Ok, se ela não fizesse isso, o show provavelmente duraria 4 horas? Sim. Mas, existem músicas que não fariam falta naquela setlist e poderiam ser substituídas por versões completas de outras.
O resultado da The Eras Tour e da passagem de Taylor Swift por São Paulo é um show impressionante não apenas por sua estrutura ou duração, mas também pela evolução de Taylor Swift no palco. Ela dança, canta, toca violão, piano, interage com discursos prontos, mas que vem nos momentos certos e causam uma deliciosa histeria no público e mostra que não é apenas uma das maiores compositoras que temos no momento, mas uma das maiores artistas.
Em uma era onde o minimalismo é um consenso, os grandes — e, por que não?, exagerados — espetáculos são deixados de lado e os valores cobrados por eles são cada vez mais altos, a The Eras Tour é uma aula de como fazer um show que vale a pena ser assistido.
Sobre os fãs de Taylor Swift
Apesar do fenômeno que foi a vinda da cantora para o Brasil, não podemos deixar de lembrar da tragédia que foi a morte de Ana Clara Benevides durante a primeira noite de show no Rio de Janeiro.
Não referenciada pela cantora em nenhum momento além do comunicado postado em um story no Instagram, o acontecimento abalou a relação e a imagem que os fãs tem da cantora. Por outro lado, foram os fãs que demonstraram que a comunidade formada por eles vai além do amor por Taylor: juntos, arrecadaram dinheiro o suficiente para fazer o traslado do corpo de Ana Clara para sua cidade natal.
Assistir os fãs presentes no show interagindo fora do ambiente mal controlado que é a internet é fascinante: eles se ajudam na fila, arrecadam comida para distribuir, trocam pulseiras artesanais, se reúnem para fazer homenagens, distribuem água e estão dispostos a fazer tudo ao seu alcance para que todos tenham a melhor experiência possível durante o que, para muitos ali, é o maior momento de suas vidas.
Apesar de sua passagem pelo Brasil e os erros cometidos durante o período, que definitivamente abalaram a imagem altruísta cultivada pela cantora, ir ao show de Taylor Swift em São Paulo foi impressionante não apenas pelo espetáculo, mas também pelo seu público. É claro que a maior parte de um show é feito pelo artista que está no palco, mas é importante que o público contribua também. E acho que nunca vi um público tão disposto a estar presente de todas as formas quanto os fãs de Taylor Swift.