“Eu sou o seu homem e você, seja o que quiser”.
Pequenas palavras causam imensas transformações. A música tem esse poder de tornar uma mudança na letra em algo imenso, como é o caso de “Toda forma de amor”, canção escolhida por Lulu Santos para conquistar o público mineiro de forma imediata, na primeira das duas noites da turnê Barítono na capital mineira.
Não é como se existissem desafios ou dificuldades. Na verdade, é muito pelo contrário. Na celebração dos seus 70 anos, Lulu sabe muito bem como seduzir sua audiência, tanto que construiu a sua carreira dentro de uma sociedade machista e homofóbica, que em 1988, dificilmente aceitaria bem realmente ouvir “Toda forma de amor”.
Felizmente, os tempos são outros. Apesar de não desejar mal para quase ninguém, somos melhores e capazes de apreciar a releitura da carreira do Lulu muito além da mudança de tom em suas canções. Para quem não sabe, o maior hitmaker brasileiro está em paz com seu timbre barítono, que é o som da voz mais grave, e modificou a forma de cantar alguns de seus sucessos. Em “Tudo por você” fica mais fácil identificar essa mudança.
Acompanhado de Tavinho Menezes (guitarra), Jorge Ailton (baixo), Sergio Melo (bateria), Hiroshi Misutani (teclado) e Robson Sá (vocal), a apresentação de quase duas horas e meia presenteou os que ali estavam com verdadeiras trilhas sonoras da vida real, capazes de nos levar de volta para dias que ficaram para trás.
Aliás, Jorge e Robson mostraram um talento acima da média e chamaram a responsabilidade para si. Cantaram sozinhos, dividiram estrofes com Lulu e deixaram um belo cartão de visitas para quem gosta de descobrir talentos na música brasileira. Ainda que eu seja (muito) fã da formação power trio com Dunga (baixo) e Chocolate (bateria), essa nova banda é mais porrada do que aquela que veio em BH em 2015.
Como um grande mestre, Lulu Santos sabe que o show está muito além da sua música. O cuidado com o palco chama a atenção por optar por jogos de luzes refletindo o tom das suas canções. É um presente para os ouvidos e também para os olhos. A interação com os mineiros também aproveitou do vício em tecnologia e fez as pessoas ativarem as lanternas dos seus smartphones em uma bela troca – e golpe de mestre – para trazer todo mundo para dentro do show.
É clichê falar que o Lulu é como um bom vinho? Se for, peço licença para abraçar o clichê gostoso que não incomoda e constatar o óbvio. Quem sabe fazer, só vai melhorando com o passar dos anos. Foi um belo reencontro com os mineiros, que (ainda bem) ignoraram as cadeiras na pista para ficarem em pé e se jogarem do jeito que um bom show pede.
Veja mais fotos do show, feitas pelo John Pereira, na galeria abaixo: