Rodrigo Massa nasceu em São Paulo e é um artista multifacetado. O trabalho transcende os limites tradicionais, abrangendo diversas formas de expressão, como papéis em séries e filmes, música e até mesmo trabalhos como apresentador.
Durante seus estudos na Universidade de São Paulo, Rodrigo percebeu que a área de Letras não era sua verdadeira paixão. Assim, munido de sua veia artística, começou a compor ainda jovem e desenvolveu um notável potencial nesse campo.
Decidiu abandonar a faculdade e procurar novas oportunidades no exterior, mais precisamente no México. Sua escolha se baseou na afinidade com a música pop mexicana e na perspectiva de um recomeço promissor. E, de fato, alcançou inúmeras realizações internacionais, brilhando na música, televisão e cinema, além de ser fluente em seis idiomas.
Atualmente, Rodrigo é parte do elenco da série “The Spencer Sisters”, da CTV, contracenando ao lado de Lea Thompson e Stacey Farber. Além disso, está gravando na Espanha cenas da série americana “We Were The Lucky Ones“, cuja distribuição mundial está prevista para ocorrer pela plataforma Hulu no ano que vem.
Tivemos a oportunidade de explorar a mente criativa de Rodrigo, suas influências, experiências artísticas mais marcantes e os temas que inspiram sua carreira em um bate papo incrível! Também descobrimos como ele lida com o equilíbrio entre a liberdade artística e as expectativas do público e do mercado.
Ygor – Audiograma: Há três anos você lançou um clipe para a música “La Fiesta”. Sinto que ela capta muito essa questão de expressão de liberdade. A tonalidade que vocês usaram na direção do clipe é bem vermelha, tem bastante fogo. E hoje eu sinto que a gente está neste momento em que podemos colocar a liberdade e conscientização dentro da música. Eu gostaria de saber sua visão quanto a isso.
Gostei! Essas são perguntas que eu achava que seriam feitas quando estava divulgando esse single e clipe no México, mas acabou que não aconteceu na época. Para mim, era não só um dos temas principais desse lançamento em geral, mas também um desafio pessoal. Eu trabalhei no México durante 13 anos, na Televisa, que é um canal muito conservador e que pouco a pouco está abrindo a mente para temas que, no Brasil, já estão sendo discutidos.
Foi difícil tomar a decisão de gravar não só esse clipe, como também “Acabo de sonhar contigo”, porque esses vídeos tocaram em várias questões da comunidade LGBTQIAPN+. Quando gravei “La Fiesta”, teve aquela visão mais romântica da relação homossexual. O produtor da novela que eu estava gravando naquela época me perguntou: “Você tem certeza que quer lançar esse clipe? Pode te afetar, né?”. Sim. Mesmo que seja um personagem, mesmo que seja uma história que é ficção. Eles têm aquela coisa no México que, quando você começa a fazer personagens gays, já não te consideram mais como galã. Então, se “Acabo de sonhar contigo” já foi uma dificuldade para mim, imagina “La Fiesta”, com essas cenas?
No meu ponto de vista, o streaming tem puxado muito isso também para quebrar esse paradigma, né? A gente consegue te ver tanto como um mafioso, um vilão, mas também consegue ver esse seu lado mais romântico.
Exatamente! E acho que isso também me ajudou um pouco a chutar o balde depois, especialmente porque vi a reação do pessoal. Com “Acabo de sonhar contigo”, por exemplo, muita gente me escreveu para falar “Olha, eu estou passando por uma situação igual a do clipe”. Foi aí que isso me deu ainda mais gasolina para poder continuar contando histórias que no México ainda não estavam sendo contadas, ainda mais por uma pessoa que vem do mundo das novelas e dos artistas pop que, acredite ou não, no México ainda são muito conservadores. Eu amei a experiência de gravar o clipe, mas eu estava super nervoso. Gravei as cenas com a Luciana e o Rodrigo, que também é brasileiro,. O pessoal entendeu perfeitamente o conceito do clipe.
Bom, hoje a gente vê o mercado latino pegando fogo. As coisas estão efetivamente acontecendo! Qual a visão que você tem hoje do mercado musical latino?
Eu acho que estamos precisando de mais variedade. Mais artistas que estejam dispostos a se arriscar. Estamos já está caindo um pouco naquilo de que tudo está soando muito igual. Se você quer entrar nas estações de rádio do México, por exemplo, que é a plataforma principal para qualquer músico que quer fazer sucesso na América Latina inteira, você precisa fazer reggaeton. Senão, as estações de rádio não tocam você durante o dia. Então está todo mundo fazendo assim, todo ano, os mesmos efeitos na voz. E eu acho que a indústria mesmo está deixando de valorizar aqueles artistas que tentam fazer alguma coisa diferente. Se você tenta algo diverso eles falam “ah, mas não é isso que a galera está querendo escutar agora”. É muito frustrante, porque eu sempre fui um artista que tenta fazer coisas diferentes, apresentar músicas pensando fora da caixa.
Você é ator e cantor. Dentro dessa complexidade, tem alguma dessas vertentes que mexe muito com você?
Olha, a atuação é o meu porto seguro, onde eu encontro trabalho estável há seis, sete anos. E eu me sinto muito abençoado porque conheço muitos companheiros que trabalham como atores mas têm que também trabalhar como garçons ou trabalhar em escritório para poder pagar as contas. Há 17 anos que, graças a Deus, eu não preciso fazer outra coisa, entende? É o que eu amo mesmo, e eu adoro ver os meus projetos na televisão. Mas com a música eu tenho uma relação de amor e ódio na minha carreira, porque, apesar de eu adorar estar em cima do palco, me conectar com o pessoal, dançar, pular, ela é bem ingrata e é um mundo bem difícil.
Sim, é mais complexa a cobrança também. Eu imagino que deva ser muito maior.
Muito maior, eu sempre falo que a música é 10% do dinheiro que está entrando na minha carreira. É onde eu mais gasto meu tempo, que eu preciso de reuniões e preciso estar ali em cima do diretor que está produzindo o clipe, planejando as próximas músicas, compondo, planejando as turnês. É claro que pra uma coisa assim a gente não pode ficar só na nossa zona de conforto, né? Apesar disso, eu ainda tenho muitas coisas que eu faço sozinho. Sou muito “control freak”, quero tudo perfeito. Ontem eu estava com uma ligação no Zoom com o diretor que está editando o clipe que eu gravei com a Daniela Lucky, carioca de todas essas novelas do SBT. E eu estava encrencando com uma questão de uns títulos que aparecem na tela. Eu estava querendo que aparecesse no momento exato para cair com uma questão de som e que a tipografia tinha que ser um pouco diferente. Passamos 45 minutos só naquela questão, eu cuido de cada detalhe.
Vou te fazer uma pergunta um tanto quanto genérica, mas ela abre uma ponte muito interessante de uma discussão. Hoje, com qual artista você gostaria MUITO de colaborar?
Tem uma artista que muita gente se surpreende quando eu falo, mas influenciou muito a minha maneira de escrever música, de compor canções. Eu escuto desde que eu era adolescente ou criança e agora ela está numa turnê mundial que eu estou doido para ver, mas ainda não consegui achar um lugar no mundo onde vai dar certo com a minha agenda para eu poder ir no show dela. É a Shania Twain! Admiro muito não só a carreira, mas tudo, tudo o que ela conquistou.
Seria um match incrível! Uma mescla de trabalhos alucinante.
Sim! obviamente ela quebrou recordes no mundo inteiro, mas também tem uma história pessoal de superação. A questão da doença de Lyme que ela teve, inclusive eu escrevi uma música que é para a Shania Twain. Aliás, eu consegui conhecer alguém que conhece o guitarrista dela, da turnê, então já tem uma pessoa que me separa dela.
Tem algum gênero musical que você ainda não explorou e tem muita vontade de fazer
Sim, country! Meu irmão veio aqui para o México e faz cinco dias que ele foi embora. Nós temos uma coisa, sempre que viajamos de carro estamos escutando música country. E estávamos fazendo isso, e eu estava me conectando um pouco com esse sonho antigo, pensando ‘cara, eu escrevo muita coisa de country americano’. Eu acho que ‘Rodrigo Massa’ não é um nome, tem uma imagem que funcionaria do cantor, teria que encontrar um alter ego. Não é o que eu vou fazer, mas é uma coisa que há muito tempo estou considerando.
Eu imagino que a sua carreira seja uma montanha russa de emoções, mas gostaria de saber um momento que você não consegue esquecer, que você considera o mais emocionante dela?
Olha, eu acho que tem dois. O primeiro foi quando eu tive a oportunidade de cantar no Auditório Nacional, que é o palco mais importante da Cidade do México. Subir naquele palco para mim foi uma emoção incrível. E foi uma noite de ingressos esgotados, recebemos 10 mil pessoas lá! Aapesar de não ser o maior lugar da Cidade do México, é o mais bonito e realmente representa o sonho de todos os cantores mexicanos e latinos. Então foi uma coisa maravilhosa, o coração batendo a mil por hora.
Outro momento foi quando eu tive a oportunidade de gravar o meu primeiro papel como protagonista em Hollywood no ano passado. Foram as quatro semanas mais felizes da minha vida! Me sentia realizado, tudo era lindo, eu estava nas nuvens! Muito feliz com todas as conquistas, com a produção, com o roteiro, com a direção, com o meu personagem maravilhoso e, além do mais, que foi um sonho duplo que virou realidade: não só o meu primeiro papel protagonista por lá, mas também tive a oportunidade de cantar a música que foi a faixa principal dentro da trilha sonora do filme, então é maravilhoso!
Qual conselho você daria para você mesmo , digamos, para o Rodrigo do passado? E qual conselho você daria para quem está começando agora e tem uma perspectiva artística parecida com a sua?
Há dez anos eu estava no México, trabalhando na Televisa, em 2013. Acho que o conselho que eu daria para mim mesmo seria atravessar a fronteira um pouco antes. Eu demorei, acho que eu esperei demais porque estava com medo. E aquela coisa de ir para Hollywood, tem tanta concorrência e quando a gente quer, parece impossível. Mas, um ano e meio depois de eu ter tentado a sorte por aqui, acabou aparecendo o meu primeiro papel como protagonista. Foi meu primeiro personagem fixo no elenco de uma série que está agora na CW. Eu estava numa zona de conforto na televisão, aquela coisa de tentar fazer novelas, estava fazendo séries e estava feliz, mas eu não imaginava que eu podia conseguir coisas 100 vezes mais interessantes, porque a Televisa já estava me colocando numa caixinha, do amigo do protagonista, o inimigo do protagonista e nunca o protagonista.
Para o pessoal que está começando como artista, aconselho a se arriscar e não ficar só no seu escritório. Eu sei que tem muitos atores que têm medo de tentar a sorte em outros países, mas isso mudou a minha vida completamente, esse é um conselho que eu sempre dou nos meus workshops que faço para atores que estão começando, dou uma listinha para eles de coisas que podem fazer em diferentes países onde conseguir um visto de trabalho talvez não seja tão complicado. Se você é brasileiro, por exemplo, a gente tem o Mercosul, você pode trabalhar na Argentina. Ou na Colômbia, no Chile.
Procura, escreve, manda e-mails para agências, produtores, para gente no mundo inteiro e vai atrás dessas colaborações (sem as quais eu não estaria aqui).
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