O Natura Musical é uma plataforma que tem como objetivo incentivar a cultura para quem gosta de ouvir música e para quem a cria. Ao longo de sua trajetória, artistas como Rico Dalasam e Linn da Quebrada já fizeram parte de seus editais. Esse ano, a Natura lança mais um edital, seguindo o seu projeto de fomento à cultura. Então, o que esperar dos lançamentos dentro do cenário de música atual no Brasil? Confira no texto abaixo!
Em 2023, 15 artistas, 8 festivais e 7 coletivos serão patrocinados pela plataforma Natura Musical. São 30 projetos que compõem um panorama diverso de gêneros musicais e linguagens em trabalhos individuais e coletivos. Os selecionados formam um conjunto de iniciativas que reúnem artistas em diversos estágios de carreira — mas que, em comum, têm o compromisso de contribuir para uma cena musical em crescimento e visibilizar narrativas.
Com o objetivo de dar destaque aos artistas pretos e indígenas, no edital deste ano podemos perceber a presença de várias mulheres negras, especialmente aquelas da cena brasileira de R&B, que está em ascensão. Esse ano, o projeto inaugura a categoria Música Brasileira na América Latina, que conta com a participação da artista indígena Brisa Flow. A cantora e rapper, que cresceu influenciada pela cultura andina e defende a arte indígena, participará de uma turnê que envolve México, Chile e Bolívia, contando com participações de artistas das cenas locais. Ela também é a primeira artista indígena a tocar no Lollapalooza Brasil.
Com a proposta de fomento à cultura, o edital Natura Musical busca apoiar diferentes cenas emergentes no cenário da música brasileira, apoiando artistas, festivais e coletivos. O destaque da vez são artistas da cena R&B, como a baiana Melly, que lança o sucessor do EP “Azul”, de 2021, que contou com participações de Luedji Luna e Lazzo Matumbi. Também temos a artista de Belo Horizonte Paige, com disco inédito.
Em Salvador, a primeira edição do Festival Frequências Preciosas conta com um line-up 100% composto de artistas negros e indígenas. Além disso, outro festival participante é o Latinidades, que acontece no Distrito Federal. Serão três dias de apresentações musicais, privilegiando artistas mulheres e negras.
O resultado do edital marca os 17 anos da plataforma Natura Musical. No decorrer do ano, serão mais de 90 projetos acontecendo em todas as regiões do Brasil. Em São Paulo, temos a Casa Natura Musical, o espaço físico da plataforma que recebe shows, eventos, mostras de arte digital, entre outros acontecimentos.
Selecionados de todo o Brasil
O programa distribuirá R$ 6 milhões em fomento para os projetos selecionados, sendo R$ 2 milhões para projetos em âmbito nacional e de conexões com outros países, R$ 1 milhão para Minas Gerais (via Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais – LEIC), R$ 1 milhão para a Bahia (via Lei Faz Cultura), R$ 1 milhão para o Pará (via Lei Semear) e R$ 1 milhão para o Rio Grande do Sul (via Lei Pró-Cultura). Mais uma vez, a Natura Musical renovou seu compromisso com a região Amazônica, com investimentos de 20% da verba do Edital Nacional voltados para iniciativas na região. Confira a lista de aprovados no edital, separados por Estado:
São Paulo
- Brisa Flow
Com o projeto “Brisa Flow: Abya Yala em Trânsito“, a cantora ameríndia irá circular por três países da América Latina com Janequeo (2022), terceiro álbum de sua carreira, que foi inspirado na história de Janequeo, grande guerreira indígena; e que fala sobre amor, coragem e autonomia, misturando rap com outras vertentes eletrônicas e de raízes originárias.
- Malka Julieta
Primeiro disco da DJ, artista, musicista multi-instrumentista e produtora paulistana, Chão celebra a história musical de Malka por meio de uma reunião de artistas que fazem parte da sua trajetória. A ideia é trazer o mundo da música urbana e regional brasileira em um universo que passeia pelo pop, jazz brasileiro e house de pista, culminando em vozes cortando rimas de rap, baile funk, brega, swing e groove.
- Stefanie
BUMNI será o primeiro disco da rapper Stefanie, que já tem 18 anos de carreira. Nele, ela propõe um resgate da sua ancestralidade, se reconectando com a essência dos griots, contadores de histórias da África Ocidental, que transmitiam conhecimento, trazendo à tona seus sentimentos, anseios e superações.
Bahia
- DecoloniSate
Lançamento do primeiro álbum da Orquestra feminina “DecoloniSate”, como resultado de mais de dez anos de criação musical e formação de percussionistas nas aulas do mestre José Izquierdo, nas escolas de percussão baiana Olodum, Pracatum e DecoloniSate. O trabalho da Orquestra tem como fundamento os saberes musicais afro baianos e a sua relação com os movimentos feministas de diferentes lugares da América do sul que se inspiram na sua riqueza cultural e em seu poder de transformação social.
- Festival da Diversidade: Paulilo Paredão
No período da primavera, Salvador e sua região metropolitana ganham mais uma edição do Festival da Diversidade: Paulilo Paredão, focando no acesso à cultura e dando visibilidade para artistas LGBTQIA+, pretos e periféricos.
- Festival Frequências Preciosas
1ª edição do Festival Frequências Preciosas com line up 100% composto por cantoras e bandas de mulheres negras e indígenas da Bahia. Uma realização das Frequências Preciosas, plataforma de fomento da arte de cantoras negras e indígenas, que visa fortalecer a cena musical idealizada pela cantautora e atriz Viviane Pitaya. A curadoria irá priorizar em sua curadoria artistas das regiões Nordeste e Norte do Brasil.
- Gabi Guedes
Lançamento de Matriarcas, primeiro álbum do grupo Pradarrum, capitaneado pelo mestre e músico Gabi Guedes, referência na música percussiva baiana. Nascido no Alto do Gantois, cresceu ao lado da Iyalorixá Mãe Menininha e desde muito cedo se viu envolvido pelo toque e os sons dos tambores. O Pradarrum visa manter viva a memória das grandes Iyalorixás e Alabês, que deixaram seu legado de luta e resistência na manutenção das suas comunidades, das suas histórias e sua espiritualidade. As composições são cantos de terreiro adaptadas por Gabi e Felipe Guedes.
- Sued Nunes
Natural do Recôncavo Baiano, Sued Nunes lança em 2023 seu segundo disco, que transitará musicalmente entre muitos ritmos como R&B, afropop, misturado a beats e elementos sintéticos, aliando o ancestral e o afrofuturismo.
- Melly
Dona de uma voz potente e marcante, a cantora Melly lançará seu primeiro disco após sucesso de seu EP “Azul” (2021). Além das influências do R&B, jazz, blues e soul, o seu trabalho bebe na fonte das células musicais do samba-reggae, trap, pagodão, do toque Ijexá e percussivo, característicos da Bahia.
Minas Gerais
- 1ª Festival de Música Doida
O projeto mira realizar uma cartografia de coletivos e compositores com sofrimento mental para participação na mostra inédita que irá promover apresentações musicais e rodas de conversa sobre a produção da música e arte por pessoas e coletivos com sofrimento mental.
- Festival Pá na Pedra
Realização da 10ª edição do tradicional evento de música independente, Festival Pá na Pedra com uma programação diversa que, ao longo dos anos, se tornou principal ponto de networking de artistas, produtores e gestores culturais da região.
- Jack Will
Legítimo representante do Jazz Afro-Mineiro, Jack Will encontrou com sua ancestralidade através do ritmo gerado pelas batidas de seus tambores. O projeto leva pra estrada o show de Black Buddah, seu disco de estreia, que traz sua vivência de 15 anos dedicados à música.
- Natania Borges
Cantora e compositora de Salvador que atualmente vive em Uberlândia, Natania irá lançar seu primeiro trabalho solo. Ativista, ela pauta as vivências de corpos marginalizados, unindo a música, audiovisual e a performance pelo PagoTrap, Afrobeat e R&B.
- N’zinga
Produção e lançamento de uma obra musical e cinematográfica que conta a história de N’zinga Mbandi, rainha de Angola – capitaneada pelo rapper Samora N’zinga -, a partir do ponto de vista dos sobreviventes da diáspora africana. Nzinga Mbandi é até hoje uma das mais importantes lideranças africanas que lutou contra a colonização portuguesa no século XVII.
- Paige
Considerada uma das grandes vozes do R&B no cenário musical mineiro, artista múltipla, plural, mulher preta e bissexual, Paige lançará em 2023 seu primeiro álbum cheio depois dos EPs “Babygirl” e “Imagina a Gente”.
- ruadois
ruadois é um grupo mineiro de música eletrônica periférica nascido em 2020 formado por pessoas negras, periféricas, indígena e LGBTQIAP+ que lança seu primeiro disco. Em seus trabalhos, eles buscam valorizar e colaborar com a construção de uma cena descentralizada, diversa, democrática e criativa da música eletrônica.
Pará
- AQNO
AQNO é um artista e produtor musical que vive com HIV há 7 anos, enfrentando e dialogando, através de sua arte, todas as questões pelas quais passa um corpo positivo numa sociedade sorofóbica. Em 2021 gravou seu primeiro disco autoral, O Retorno de Saturno, projeto que fala de suas descobertas, processos e questionamentos como pessoa vivendo com HIV. Nesse novo projeto, ele produzirá um álbum visual em COLAB com produtores, artistas, diretores, músicos e profissionais diversos vivendo com HIV, além de promover rodas de conversas em comunidades periféricas de Marabá, a fim de trazer uma nova visão sobre como viver e conviver com o HIV.
- Caquiado
Surgido da inquietação de dois jovens artistas da cidade de Belém, Pratagy e Reiner, o Selo Caqui procura tornar sustentável a cena musical feita na cidade das mangueiras. O projeto coletivo “Caquiado: Álbum-coletânea e filme-manifesto de novos artistas paraenses” visa gravar um álbum-coletânea com 10 artistas paraenses em ascensão em músicas autorais inéditas.
- Festival Apoena
O Festival Apoena (edital PA) chega à terceira edição em 2023 focado em ser um espaço de (re)existência cultural. O evento busca expandir os sons da floresta que fazem o som da música paraense, além de reforçar a disseminação da cultura local. O projeto ainda prevê oficinas de produção cultural gratuitas para a comunidade de Fátima/Matinha, bairro periférico de Belém.
- Rawi
Multiartista queer em ascensão na cena pop amazônida, RAWI conta com 10 anos de carreira nas artes. Ele apresenta seu segundo disco, em busca de uma sonoridade experimental, utilizando os instrumentos e o ritmo do carimbó como base, passando pelo pop amazônida e muitas referências musicais do rock ao eletrônico. É um álbum de poética crua, e busca nos cenários das vidas amazônidas uma reformulação do imaginário de corpos e histórias LGBTQIAP+.
Rio Grande do Sul
- Festival OBronx
OBronx é um movimento artístico e cultural que surgiu em Porto Alegre em 2016 com o objetivo de fomentar a cultura preta e acolher o público preto, lgbtqiap+ e periférico. Em 2023 a proposta é unir referências estéticas afro futuristas no primeiro festival do coletivo, que contará com apresentações musicais, além de workshops de produção musical, discotecagem e dança. Todo o projeto será documentado em audiovisual que será lançado ao final de sua execução.
- 50 Tons de Preta
Formada por Dejeane Arruée (vocal, trombone) e Graziela Pires (vocal), o 50 tons de Preta apresenta o novo disco “Tira o teu Racismo do Caminho”, dando voz às mulheres negras, igualdade de gênero e luta antirracista.
- Gfilms Rap Festival
Festival itinerante que promove a cultura Hip Hop e abre espaço para novos MCs e para as mulheres no rap, com shows musicais, apresentações de dança ao ar livre, batalha de MCs e realização de oficinas de grafite e stencil.
- Ialodê
O projeto Ialodê nasceu em 2020, com o desejo de celebrar a trajetória das artistas gaúchas Nina Fola, Glau Barros, Marietti Fialho e Loma, mulheres negras que, juntas, somam 100 anos de carreira. Agora em 2023 saem em turnê pelo interior do estado.
- Luiza Hellena e a Velha Guarda da Praiana
O projeto resgata uma das vozes negras da noite (e das rádios) de Porto Alegre que foi referência na década de 50. Junto da Velha Guarda da Praiana, a escola de samba mais antiga de Porto Alegre, Luiza Hellena grava disco que mostra que o samba não é apenas do eixo Rio/São Paulo e Bahia.
- Paula Posada
Inspirada nos povos originários da região amazônica e caribenha,Flecha Envenenada é o nome do primeiro álbum de Posada, DJ, produtora cultural, produtora musical, gaúcha, indígena em contexto urbano, filha de mãe paraense e pai colombiano.
Alagoas
- Canto Sagrados Kariri-Xocó
Registro dos cantos das tribos Kariri e Xocó para manutenção da cultura viva, sua sonoridade e força de ritmo.
Amazonas
- Circuito Manacaos
Luli Braga, D’água Negra, Kurt Sutil, Jambu e Guillerrrmo são projetos emergentes de diferentes vertentes sonoras que dialogam entre si e fortalecem o desenvolvimento do território artístico amazônida. Da união, nasce o Circuito Manacaos, que tem como proposta fomentar a produção de artistas manauaras de diferentes estilos musicais e promover a integração de shows e movimentos coletivos, além de promover a formação de mulheres cis e trans no mercado de produção musical.
Distrito Federal
- Festival Latinidades
A 16ª edição do Festival Latinidades irá privilegiar a produção musical de mulheres negras, com três dias de apresentações musicais, conferências, feira, debates e campanhas de equidade, além de programa de formação no mercado musical.
Amapá
- Quilombo Groove
Mostra de conteúdos artísticos e culturais com duração de sete dias no Quilombo do Curiaú (AP). Neste período serão realizadas vivências sobre o Batuque e o Marabaixo, oficina de percussão, rodas de conversas, degustação de gengibirra, intercâmbio com músicos e pesquisadores locais e encerramento com Rave Quilombola, enfatizando a música popular, tradicional e identitária do local, intitulada Preces, Louvores e Batuques.