Em 2017 eu tinha uma missão: resenhar o primeiro álbum homônimo de Harry Styles.
Cinco anos e uma pandemia se passaram e agora tenho uma missão semelhante: falar sobre o terceiro álbum de estúdio do britânico, o Harry’s House.
Entre Harry Styles (2017) e Harry’s House (2022) existe uma linha tênue ou Fine Line (2019) em inglês.
Enquanto, no primeiro álbum, Harry tentava expressar sua identidade como artista solo tocando guitarra e flertando com o rock oitentista em músicas não muito comerciais, em Fine Line o cantor misturou um pouquinho com o pop e conseguiu apresentar para o público de uma forma geral mais singles de sucesso: “Lights Up”, “Adore You”, “Golden”, e o hit mundial “Watermelon Sugar”, responsável pelo primeiro Grammy do cantor. O Fine Line também foi indicado ao Grammy de Melhor Álbum Pop.
E o Harry’s House?
Em uma entrevista para a rádio SiriusXM, o britânico afirma que nunca se sentiu tão confortável e feliz com ele mesmo, e com o trabalho que faz. Isso é perceptível. Harry canta muito sobre amor, suas fraquezas, algumas substâncias ilícitas e sua intimidade. Esse combo faz com que Harry’s House seja o melhor álbum da carreira até então.
O primeiro gostinho que tivemos do álbum se chama “As It Was”. Com um ritmo semelhante ao clássico “Take On Me” do a-ha, Harry dá espaço a vulnerabilidade. Com direito a participação de sua afilhada na introdução, Harry nos mostra o lado do ser humano, que assim como todos nós, enfrentava as consequências emocionais de um lockdown:
“Answer the phone / “Harry, you’re no good alone / Why are you sitting at home on the floor? / What kind of pills are you on?” / Ringin’ the bell / And nobody’s coming to help /Your daddy lives by himself / He just wants to know that you’re well”
“As It Was” tirou “Watermelon Sugar” do topo de canção de maior sucesso do cantor. Além de primeiro lugar na Billboard Hot 100 e praticamente um mês em primeiro lugar no Reino Unido, o primeiro single de Harry’s House quebrou o recorde de canção masculina com maior número de reproduções em 24 horas de lançamento.
Apesar de ainda não ter anunciado o segundo single, a torcida é que a sucessora de “As It Was” seja a excelente “Late Night Talking”, apresentada pela primeira vez no Coachella. Uma versão bem apaixonada de Styles canta sobre conversar com alguém especial até altas horas e simplesmente não conseguir tirar essa pessoa da cabeça. É visível o crescimento de Harry como compositor e músico. A primeira faixa do álbum, “Music For a Sushi Restaurant”, tem uma clara influência sonora de Prince, e implora por um acréscimo de metais nas apresentações ao vivo, o que abrilhantaria a excelente banda que acompanha Harry pela turnê.
“Matilda”, sétima faixa do álbum, é uma experiência terapêutica. Afirmar que a letra é a maior composição do cantor não seria um exagero. Usando o nome da protagonista do filme (e livro) lançado em 1996, Harry aconselha como um amigo. Com voz calma, ele afirma
“You showed me a power that is strong enough to bring sun to the darkest days”
O refrão final é o gabarito do que uma pessoa com traumas familiares precisa ouvir. É como se um amigo te chamasse para tomar um café na casa dele, e as palavras ditas fossem o suficiente para te dar confiança para lidar com seus problemas.
“Daylight”, “Little Freak” e “Grapejuice” fecham o Lado A do álbum. Nas 3 faixas, a harmonia com variações de tom da própria voz de Harry chamam atenção. Além dos vocais, o ritmo de “Daylight” pode ser um trunfo para uma possível utilização da música como single.
O Lado B de Harry’s House, conta com uma participação especial na parte instrumental. John Mayer contribuiu com as guitarras de “Daydreaming”, que contém sample de “Ain’t We Funkin’ Now” dos The Brothers Johnson. Mayer também é creditado em “Cinema” que, se focarmos na letra, seria uma irmã mais nova de “Watermerlon Sugar” com uma sonoridade dos anos 70. Em “Satellite”, um Styles preocupado parece estar a espera de uma resolução de um relacionamento anterior por parte da amada para enfim estarem juntos.
Com “Keep Driving”, Harry vai de 0 a 100 muito rápido. Na primeira parte, há a descrição do que parece ser uma parada de café em uma road trip pra dois, e termina com cocaína e “choke her with a sea view”.
No Coachella, também fomos apresentados a “Boyfriends”, que critica o comportamento dos namorados em geral. Além de usar como cobaia os ex de sua irmã Gemma Styles, Harry também indica que há uma autocrítica na letra. O aspecto de música acústica e harmonias presentes na performance no festival também se mantém na versão de estúdio.
Como um ótimo encerramento, “Love of My Life”, Harry se despede – contra sua vontade – de um amor que seria para toda vida.
Com a tour de seu primeiro álbum, a Live On Tour, Harry Styles cantava para 5 – 7 mil pessoas. Durante a primeira parte da Love On Tour, turnê de divulgação do Fine Line, feita no último semestre de 2021, a procura aumentou. O público variava de 13 a 30 mil pessoas dependendo do local, com direito a duas ou três datas em determinadas cidades.
Antes do lançamento do Harry’s House, a segunda parte da Love On Tour programada para o segundo semestre de 2022 já estava esgotada. O público? O suficiente para encher um estádio, na verdade vários estádios. São duas datas no estádio de Wembley (UK), duas datas no estádio do River Plate (Argentina) e uma no Allianz Parque (Brasil). Isso sem mencionar as apresentações na Irlanda, Nova Zelândia e Austrália. Todas para mais de 50 mil pessoas. Além disso, uma mini residência no Madison Square Garden com direito a 10 shows também foi anunciada.
Assim como Justin Timberlake, que a partir de seu segundo álbum fez com que qualquer referência a seu passado no ‘NSync fosse desnecessária, Harry não é mais reconhecido como um ex-One Direction, como se a banda fosse o maior ato da carreira. Na verdade, o maior impacto musical da carreira do 1D foi revelar Harry Styles, e qualquer rumor baseado em nostalgia sobre uma possível reunião da boyband seria um crime contra a história que Styles vem escrevendo.
Harry Styles – Harry’s House
Lançamento: 20 de maio de 2022
Gravadora: Erskine Records Limited / Columbia
Gênero: Pop / Pop Rock
Produção: Kid Harpoon / Tyler Johnson
Faixas:
[LADO A]
01. Music For a Sushi Restaurant
02. Late Night Talking
03. Grapejuice
04. As It Was
05. Daylight
06. Little Freak
07. Matilda
[LADO B]
08. Cinema
09. Daydreaming
10. Keep Driving
11. Satellite
12. Boyfriends
13. Love Of My Life