Capa de CALL ME IF YOU GET LOST, do Tyler, The Creator
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Review: Tyler, The Creator – CALL ME IF YOU GET LOST

No álbum lançado no fim de junho deste ano, Tyler, the Creator apresenta um novo alter-ego ao público: Tyler Baudelaire (uma referência ao poeta francês Charles Baudelaire) é um viajante de alto poder aquisitivo que sai pela primeira vez de Los Angeles, sua terra natal, buscando novas perspectivas para reafirmar sua confiança, partindo em uma jornada de autoconhecimento e que foge ao máximo do estereótipo por muito tempo a ele taxado por grande parte da indústria fonográfica enquanto “rapper”.

No decorrer do álbum, o ouvinte é situado em locais diferentes e tem a sensação de movimento e percepção de diferentes atmosferas, visual e musicalmente falando, capitaneadas por DJ Drama, que dá anúncios como “We just landed in Geneva, and that’s in Switzerland.” (“Acabamos de chegar em Genebra, na Suíça.”), na transição de “LUMBERJACK” para “HOT WIND BLOWS”.

Logo no início do álbum, em “CORSO”, são feitas inúmeras referências a passaportes, enquanto Baudelaire monta seu documento ao observar Ferraris antigas de Fórmula 1, sendo que carros são uma grande paixão do artista, bem como malões rígidos de viagem. Tyler ressaltou esses gostos peculiares em entrevista para a rádio HOT 97 (que você pode conferir na íntegra aqui), na qual também fala sobre a importância de realmente se preocupar com os trabalhos que se produz, a relevância de pontos de referência no decorrer da vida para a criação de qualquer coisa que seja e sua evolução enquanto artista para chegar num ponto em que passou a não se limitar para produzir suas músicas.

Há uma constante oposição entre o aspecto das viagens e desilusões amorosas narradas durante as histórias do álbum, bem como a atenção chamada ao sucesso do artista na faixa “BLESSED”, em que Tyler fala como sua pele está saudável, sobre o sucesso de sua marca GOLF WANG, os shows nos festivais do CAMP FLOG GNAW que reúnem diversos artistas próximos, a parceria com a Gucci que firmou, entre outros.

Quanto à desilusão amorosa em particular, conta-se uma história com uma pessoa já comprometida pela qual Baudelaire nutre uma paixão platônica muito intensa da qual não consegue se esquivar em seu imaginário, narrada principalmente em “SWEET/I THOUGHT YOU WANTED TO DANCE” e “WILSHIRE”, as duas faixas mais longas do álbum.

Baudelaire fecha o raciocínio de sua proposta na última faixa “SAFARI”, que ilustra de forma sucinta a urgência dos aspectos de autoconhecimento e o presenciar de coisas novas para que ninguém se prenda às suas convicções e descubra tudo o que o mundo tem a oferecer.

Em resumo, Tyler chama a atenção para a expressão da liberdade, descoberta de novos lugares que estão fora da “bolha” em que vivemos, o fugir de estereótipos tachados aos afro-americanos e o se perder para se encontrar por meio de novas experiências.

O último trabalho de estúdio de Tyler surpreende pela imensa variedade de ritmos inseridos ao longo das faixas, que trabalham elementos do pop em faixas como “WUSYANAME”, ritmos de reggae e ska em “SWEET/I THOUGHT YOU WANTED TO DANCE” e se aventura pelo soul e jazz nos samples de “HOT WIND BLOWS”, que conta também com a participação de Lil Wayne, rapper elogiadíssimo pelo músico nos feats em que pediu sua participação.

Um ponto a se destacar foi a revisita inesperada aos seus trabalhos mais antigos com sonoridade que remete ao rap mais cru, em faixas como “LEMONHEAD”, “LUMBERJACK”, “MASSA”, “WILSHIRE” e “JUGGERNAUT”, esta última contando com participações de Lil Uzi Vert e Pharrell Williams, com elementos que lembram de certa forma algumas composições da boyband BROCKHAMPTON, de sucesso meteórico no ano de 2017, no qual lançaram a aclamada trilogia SATURATION.

Em oposição a IGOR, que conta a história de um alter-ego de uma forma mais linear do início de uma paixão (e que temos uma resenha sobre, confira aqui!), a decepção e os estágios de aceitação dessa perda, CALL ME IF YOU GET LOST propõe o explorar pontos de vista jamais pensados que podem ter um lugar dentro do imaginário, mas que até então são desconhecidos pela incapacidade de avaliar sua relevância até que se entre em contato com novas perspectivas.

Capa de CALL ME IF YOU GET LOST, do Tyler, The Creator

Tyler, The Creator – CALL ME IF YOU GET LOST

Lançamento: 25 de junho de 2021
Gravadora: Columbia Records
Gênero: Hip Hop, Soul, Pop
Produção: Jamie xx; Jay Versace; Tyler, the Creator

Faixas:
01. Sir Baudelaire (feat. DJ Drama)
02. Corso
03. Lemonhead (feat. 42 Dugg)
04. WusYaName” (feat. YoungBoy Never Broke Again e Ty Dolla Sign)
05. Lumberjack
06. Hot Wind Blows (feat. Lil Wayne)
07. Massa
08. RunItUp (feat. Teezo Touchdown)
09. Manifesto” (feat. Domo Genesis)
10. Sweet / I Thought You Wanted to Dance (feat. Brent Faiyaz e Fana Hues)
11. Momma Talk
12. Rise! (feat. Daisy World)
13. Blessed
14. Juggernaut (feat. Lil Uzi Vert e Pharrell Williams)
15. Wilshire
16. Safari