Renan Kneipp é um nome novo na cena independente e está aprimorando seus projetos musicais.
Em um bate-papo exclusivo, ele conta sobre sua trajetória artística, quais são suas inspirações, como conseguiu ser criativo na quarentena e ainda lança o clipe do novo single “Save The Little Boy”.
Confira!
Como começou a sua paixão pela música?
Muita gente não acredita que é possível lembrar de coisas que a gente viveu quando a gente tinha, sei lá, dois ou três anos, né? Pois minhas primeiras memórias da vida têm a ver com família e música. Tudo bem juntinho. Lembro de ver meu pai tocando violão no encontro da minha família no terraço da casa da minha avó, lá no interior de Minas Gerais, com minhas tias mais velhas sentadas nas cadeiras ao redor batendo o pezinho enquanto os primos todos brincavam e gritavam no espaço.
Eu sempre fui apaixonado pela música. Parece que é de sangue, sabe? Quando meu pai tocava Kid Cavaquinho do João Bosco no violão, eu vinha dançando de onde quer que estivesse – isso ainda na faixa dos dois anos. Desde então, é cantoria pra lá, cantoria pra cá, até que comecei a escrever minhas próprias letras na adolescência e o amor só cresceu. A minha relação com a música deixou de ser apenas uma forma de me divertir e passou a ser um meio para me conectar com as pessoas e, acima de tudo, comigo mesmo.
Infelizmente, a vida não me deixou seguir minha paixão até agora há pouco. Por várias razões, eu nunca consegui mergulhar de cabeça no que eu sempre quis fazer e acabei tentando encontrar caminhos alternativos para a felicidade ou realização pessoal. A questão é que nada serviu. Nada me preenche a não ser a música. É um mega clichê isso, eu sei, mas só quem sente o mesmo por alguma coisa – nem precisa ser das artes – sabe da intensidade desse sentimento. No fim das contas, quando é amor verdadeiro, a gente sempre volta, né? Então, aqui estou pronto para me jogar e ir fundo nessa jornada. Antes tarde do que nunca.
Quando teve a oportunidade de começar a produzir suas músicas de forma profissional?
Quando eu tinha uns 18 anos, meu amigo de infância, que havia estudado comigo desde os sete anos, começou a produzir uns sons na casa dele. Uma dessas maravilhosas coincidências da vida. Eu logo me candidatei pra ser cobaia dele e gravamos algumas músicas que havia escrito na época e uma versão rock de “Can You Feel The Love Tonight”, de Elton John. Deve até estar perdida pelo SoundCloud ainda, risos.
Essa convivência com ele me trouxe a segurança necessária para me expressar cada vez mais através das letras que eu escrevia e finalmente tomar coragem para lançar oficialmente meu primeiro single, “Pilot”, em janeiro de 2018. Nunca pisei num estúdio grande. Tudo o que lancei até agora foi gravado no quarto do meu amigo, lá em Juiz de Fora, ou, pensando nos lançamentos mais recentes, aqui no meu quarto, em São Paulo, com o meu amigo/produtor, no homestudio dele.
Quais são os principais desafios ao fazer uma produção independente?
Eu acho que a opinião é unânime: estrutura + orçamento. Eu tenho muitas ideias e muitas vontades, mas, na atual circunstância, eu tenho que me virar nos 30 para conseguir criar algo que me identifique e que fique legal para as pessoas consumirem. Eu agradeço demais a todo mundo que me cerca, porque todo mundo se move para fazer as coisas acontecerem com o que temos agora. O Guilf, meu amigo/produtor, se desdobra para fazer as produções incríveis que ele faz, mas, no fim das contas, dá tudo certo, ele manda muito bem. Da mesma forma, vários outros amigos que possuem habilidades complementares acreditam em mim e pegam junto para movimentar a vida e andar rumo ao sonho.
Apesar de amar o que eu faço, confesso que oscilo na questão autoestima e autoconfiança como artista e isso me atrapalha bastante. Sendo independente, você não tem uma gravadora para te incentivar ou cobrar, uma agência para te ajudar nas mídias sociais e comunicação em geral, etc. Se você não faz, não acontece. E para mim foi isso até agora. Quando eu tava mal, largado na cama e sem forças para levantar, tudo ficou parado. Finalmente essa realidade está mudando, de pouquinho em pouquinho, mas já é suficiente pra vislumbrar como tudo vai ser incrível já já. Na verdade, está sendo. E agora vejo que ser independente só me ajuda a criar mais.
Quais são os artistas que você admira e trazem inspiração para você?
Eu cresci ouvindo Stevie Wonder, Simon & Garfunkel, Bob Dylan, Rita Lee, Elis Regina e Milton Nascimento. Meus pais sempre colocam os CDs no carro e, na época, eu odiava (risos). Queria só ouvir Sandy & Junior, poxa. Mas, na medida em que eu fui crescendo, me dei conta do quão geniais esses artistas são e hoje são minhas referências supremas.
A forma leve que o Bob Dylan e a Dolly Parton, por exemplo, contam histórias é o meu objetivo. Quero jogar para o mundo sentimentos que as pessoas se identifiquem e vivam no cotidiano. Ainda assim, sem perder o lado chiclete e contagiante que uma boa música oferece. Nisso entra o Stevie Wonder, que me anima até nos dias mais sombrios. É tanta alma inserida em 3-4 minutos que não tem como passar despercebido. É essa sensação que eu quero causar em quem estiver me ouvindo.
De interpretação e personalidade, a Elis e a Rita Lee são baita referências para mim. A Elis no palco ou numa gravação, apesar de ter seus 1.50m e poucos, se tornava uma gigante e tocava absolutamente todos os corações presentes. Já a Rita, é simplesmente a Rita. Ela se basta e isso é suficiente para marcar gerações tanto com as suas composições quanto nas suas presenças aonde quer que fosse.
Hoje em dia, a Iza é uma dar artistas que eu mais admiro. Ela coloca o coração em tudo o que faz e o brilho é natural ali. Tenho muita vontade de pode escrever ou até mesmo cantar com ela em algum momento, sairia algo massa dali. Minhas playlists são uma bagunça do bem: tem Gil, Caetano, Luedji Luna, H.E.R., Beyoncé, Aerosmith, e assim vai. Acho que essa bagunça é ótima para a criatividade! Não abro mão.
Qual é o momento que você mais gosta de compor?
Eu já compus em momentos muito aleatórios. É fato que o chuveiro é o melhor amigo dos compositores – na verdade o banheiro como um todo. Mas a “Pilot”, por exemplo, eu compus assim que cheguei de uma festa, às 6 da manhã, e fiquei olhando pela janela pensando em quão foda, desculpa o palavrão, o amor é. Veio a batida do violão na minha cabeça, depois veio o “love will guide us there”, e 20 minutos depois a música estava escrita. Por outro lado, teve música que eu sentei para escrever, na mesa de jantar ou do escritório mesmo, e foi um parto. Dias e dias passam e a música lá. Do “nada” vem o clique e as pontas se amarram. Eu basicamente componho quando visualizo uma história que merece ser contada. Paro tudo o que estiver fazendo e anoto ou gravo no celular.
Estamos em um período de pandemia e os shows em espaço físico não são permitidos. Você pretende fazer uma live pra mostrar seu trabalho?
Eu tinha planejado um 2021 super animado nesse sentido. Vários shows intimistas em algumas cidades aqui no país, mas, infelizmente essa pandemia está atrapalhando tudo. Eu vou fazer uma live/conteúdo acústico em breve – acredito que saia no mês de março ainda. Não quero dar muito spoiler, já que as coisas estão começando a andar agora. Ao que tudo indica, talvez tenha participações especiais de artistas queridos que acreditam no meu trabalho e também versões bem minhas de músicas que amo. Vou até usar uma frase que está bombando na internet agora: ‘é sobre isso, né?’.
Você acaba de lançar um single. Como foi produzi-lo?
“Save The Little Boy” finalmente veio ao mundo. Não escondo que é a minha música preferida até o momento. Todo o processo desse single tem sido leve e marcante. A música surgiu depois de um tempo reflexivo em que eu não sabia sobre o que escrever, em qual idioma escrever. Sempre me cobrei muito pra escrever em português, mas nunca consegui fazer nada que me identificasse 100% e, acima de tudo, como escrever. Estava achando tudo o que estava escrevendo meio raso e acabei dando um tempo para me encontrar. Depois de ver uma entrevista do Jay-Z falando sobre respeitar os ciclos da vida e tirar o melhor deles, a ficha caiu e alguns dias depois veio a música, de forma bem natural.
Na mesma hora eu mandei mensagem para o Guilf e começamos a produzir. Buscamos várias referências, gravamos testes, eu daqui e ele de lá, e as coisas foram fluindo. A gravação em si foi à distância por conta da pandemia. Preferi não viajar para não correr risco e conseguimos nos virar dessa forma.
O que espera alcançar em sua carreira musical ainda em 2021? E os planos para os anos seguintes?
Minha meta para 2021 é ‘deixar os Renans alternativos de lado’ – os que foram criados como plano B para a música – e ser cada vez mais o Renan Kneipp, o artista. Eu quero poder me conectar com cada vez mais pessoas, produzir conteúdos criativos e humanos para as plataformas e me encontrar ainda mais na indústria. As coisas estão andando bem rápidas nesse ano e minha função aqui é só colocar mais combustível para que tudo flua.
Para os próximos anos, a intenção é me estabelecer. É começar a fazer show, passar perrengue, ter histórias para contar, lançar um álbum e não parar mais.